sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pera, uva, maçã, salada mista...

Deu no Fantástico de domingo passado: a ciência acaba de descobrir que saudáveis são as mulheres pera, o que significa dizer cintura e quadrilzão. ENFIM! Pelo menos uma vez na vida tive a satisfação de ver que uma pesquisa científica me inclui no grupo das pessoas saudáveis e não o contrário como vinha acontecendo nos últimos anos! Estou exultante!

Ultimamente eu não queria ler nem mesmo a capa de revistas de saúde para evitar momentos de pura desolação. Sempre que via uma manchete do gênero "10 dicas para viver bem" eu sabia que ia fazer exatamente o contrário do que diziam 9 das 10 dicas. A décima era a que não se aplicaria ao meu caso, tipo algo pra quem ainda nem menstruou ou é do sexo masculino...

Mas domingo fui às nuvens com a tal reportagem. Preciso anunciar ao mundo que eu sou uma mulher pera! Que felicidade!

Agora, como eu já disse, só faltam os estilistas caírem de boca nessa fruteira, no bom sentido, é claro! Estou curiosa para ver quem será o ousado que fará o primeiro desfile sabor salada mista com mulheres reais na passarela. Será um furor. Vídeos se espalharão à velocidade da luz no Youtube, o Twitter ficará congestionado, a Google sairá do ar por trinta segundos tamanha a quantidade de acessos, o planeta acreditará estar vivendo o armagedom...

Alguém precisa urgentemente abrir os olhos do mundo como fez o personagem do conto A roupa nova do rei, de Hans Christian Andersen. Para relembrar a história, um rei muito vaidoso foi ludibriado por pretensos alfaiates que lhe garantiram que possuíam os tecidos mais lindos do mundo os quais só podiam ser vistos por pessoas muito especiais. Por uma verdadeira fortuna os larápios fariam um traje tão magnífico que o rei seria aclamado por todos. O rei pagou pelo traje e saiu pelas ruas, completamente nu. Ninguém tinha coragem de comentar o fato, achando que decerto não tinham capacidade suficiente para enxergar a beleza de tecidos tão especiais. Até que uma criança gritou: O rei está nu! Aí todos compreenderam que quem estava enganado era o rei e não eles!

É preciso que alguém comece a gritar: aquela magreza toda é feia!

Por isso também achei ótimo o comentário do sambista Dicró quando viu um feixe de modelos na passarela: Junta todo mundo aí, deve dar uns 20Kg!

Antigamente, quando um homem queria elogiar uma mulher dizia: Ela é uma uva! Hoje, por mais bem intencionado que seja um rapaz, se chegar para uma dessas modelos de passarela e compará-la a uma uva certamente levará uma bolsada Louis Vuitton na cara. Onde já se viu? Uma uva?! Uma bolinha?! E ainda por cima cheia de açúcares?! Que audácia...

Definitivamente, uvas estão fora do vocabulário dos elogios do mundo da moda. No máximo alguém poderia
dizer Você é minha fava de baunilha preferida! Mas acho melhor não arriscar... É comida também, né? Uma sapatada
Jimmy Choo na cabeça deve doer pra caramba.

Recentemente tomamos conhecimento de uma mulher melancia. Agora chegaram a vez das peras. As maçãs... Bem, a maçã não tem salvação! A pobre só se dá mal desde a época do paraíso e aquela história da Eva, serpente, etc. Coitadinha. Mulheres maçã continuam na mira de nutricionistas, endocrinologias e personal trainers. Expulsas do paraíso fashion sem chance de apelação...

De minha parte, já estou bem contente de poder participar da parte saborosa dessa salada de frutas. Viva a diversidade!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Morrer é fácil, difícil é ficar viva

— Olá! Seja bem vinda!

— Ahn? O quê? Ei, peralá, eu tô te reconhecendo! Essa barbinha, essa camisolinha, essa auréola... O que é isso? Eu morri?!

— Veja a coisa por outro ângulo. Pense que você nasceu para uma nova vida...

— Não é possível! Não pode ser verdade! Como assim?

— Calma, minha filha, calma. É normal essa confusão inicial e...

— Confusão fizeram vocês! Olhe aí nessa sua listinha, confira bem. Meu nome não pode estar aí!

— Procure se acalmar... Serafim, chegue aqui um minutinho, faça o favor.

— Foi algum acidente de avião? Não, sem chance. Eu não viajava de avião por causa do risco de trombose. Foi acidente de carro? Eu fui atropelada? Vítima de ataque terrorista?

— Nada disso! Não houve nenhuma tragédia na sua... hummm... passagem.

— Mas, então, por quê? Eu fiz tudo direitinho, tudo! Dormia oito horas por noite, acordava cedo, fazia meditação... Vocês tem alguma coisa contra a meditação, é isso? Eu paro!

— Claro que não, imagine!

— Escovava os dentes, passava fio dental (vi um estudo que garantia pelo menos seis anos a mais de vida só por passar fio dental), tomava meu complexo de vitaminas, suplementos energéticos, saía pra caminhar, nadar, pedalar, um verdadeiro triathlon antes das 7h30 da manhã!

— Sabemos disso! Sempre admiramos muito a sua determinação. Correr nas manhãs de frio... Realmente, era muita força de vontade.

— Não é? Meu café da manhã era irrepreensível: grãos, sementes, fibras, frutas, leite completamente desnatado, nada de conservantes. Transgênicos? Nem pensar! Eu era filiada ao Greenpeace, ao programa Amazônia Viva, às ONGs de proteção aos golfinhos, baleias, pinguins e ursos pandas. Voluntária do projeto Tamar!

— Estamos por dentro de tudo isso, acredite! Muito louvável essa sua preocupação com a natureza.

— Conversava com as plantas, abraçava árvores... Não acredito que tô falando de mim mesma no passado...

— Você vai se acostumar.

— Não! Eu vou voltar! Veja aí na sua lista. Deve ser alguém com o mesmo nome...

— Não quero ser desagradável, mas nosso sistema de dados é sem falhas.

— Sem falhas era eu! Nada de nicotina, nada de cafeína, nada de estimulantes ou drogas de qualquer tipo, nem uma única gota de álcool a não ser, é claro, um cálice, um único!, de vinho tinto no almoço por causa dos flavonóides e da ação anti-oxidante.

— Tem toda razão! Até Jesus tomava vinho, veja você...

— Exato! Depois tinha barrinha de cereais a cada três horas para manter o metabolismo ativo, saladas variadas no almoço, um bife que era uma verdadeira hóstia grelhada e sem qualquer traço de gordura, quase nada de sal por causa da pressão...

— Parabéns!

— ... siesta para recuperar as energias, exercícios respiratórios para eliminar o estresse, cinco minutos de gargalhadas em grupo para manter o alto astral, massagem para tonificar os músculos, Pilates, RPG, alongamento e dança!

— Pouquíssimos cuidam do corpo como você cuidava, é verdade!

— Então o que é que eu tô fazendo aqui, caramba?

— Veja, é que...

— Já sei! Foi aquele brigadeiro! Aquele mísero brigadeiro que eu cheirei na festa de quinze anos da Claudinha, não foi? Puxa, eu tinha só sete anos, não dá pra dar um desconto?

— Que é isso, não teve nada a ver com brigadeiro.

— Eu comia chocolate, eu sei. Um quadradinho de um centímetro de lado por dia, mas só para manter os níveis de serotonina e, assim mesmo, era chocolate amargo com 99% de cacau!

— Horrível aquilo, não? Confesso que às vezes não consigo entender bem o Criador...

— Pois é! E ainda comia um tomate por dia para evitar câncer de próstata...

— Mas, minha filha, mulheres não tem próstata!

— Eu sei! Mas vai que a ciência descobre alguma coisa, né? A gente nunca sabe... Aliás, evitei tudo que pudesse causar câncer: sol entre 10 e 16h, açúcar... Nem uma única paçoquinha na vida, meu cadastro tá limpo, pode conferir! Ovo frito, toucinho, feijoada? Jamais passaram perto do pires que eu usava para minhas refeições!

— É mesmo! Era um pires, né?

— Um pires! O pecado da gula não aparece de jeito nenhum na minha ficha corrida.

— Não mesmo...

— Achou minha ficha? Então veja aí que, dessa vez, vocês cometeram um engano. Meu lugar é lá embaixo, tô voltando pra lá. Onde é mesmo a saída?

— Não tem engano algum...

— Isso não tem cabimento, não faz o menor sentido!!! Não tem NADA do que apareceu na imprensa escrita, televisiva, falada, cinematografada ou blogada que eu não tenha seguido à risca para preservar minha saúde e juventude! Será que eu fui assaltada? Violentada? Assassinada?

— Não! Claro que não!

— Ufa! Que susto! Trabalhava como voluntária na Pastoral da Criança, nas entidades de auxílio aos idosos, de apoio ao egresso do sistema carcerário. Recolhia doações para creches, para os Médicos sem Fronteiras, para os exilados políticos, para os desabrigados das enchentes, vítimas das secas, refugiados de guerra, para as mulheres mutiladas na África, para os institutos de auxílio aos portadores de necessidades especiais. Olha aí! Até usar só termos politicamente corretos eu aprendi.

— Estou vendo, estou impressionado!

— Então estamos de acordo que meu lugar não é aqui, certo? Onde é que eu devolvo esse crachá de visitante?

— Seu crachá não é de visitante, mas de interno.

— Vocês estão todos loucos, só pode ser! Piraram, surtaram, despirocaram! Olha o Alzheimer, hein? Não me preocupo com isso porque fazia ginástica cerebral três vezes por dia. Resolvia enigmas, preenchia tabelas e mais tabelas de Sudoku. Li todos os clássicos da literatura e acompanhava os jornais do mundo nos idiomas originais. Sabia que aprender línguas é ótimo para manter o cérebro em funcionamento? Por isso não tem razão de ser esse derrame...

— Quem falou em derrame?

— Foi o quê, então? Não me deixe nesse suspense! Adrenalina demais na corrente sanguínea faz um mal horrível!

— Foram causas... como dizer... naturais.

— Naturais? Isso aqui é uma pegadinha, fale a verdade. Cadê as câmeras? Naturais e também orgânicas eram as frutas e legumes que eu consumia, tá me ouvindo? Cinco porções diárias! Daí fiquei sabendo que deviam ser doze! Eu acompanhava todas as novidades dessa área, já disse. Lavava e descascava tudinho, diariamente. E ainda comia uma castanha por dia por causa do selênio, leite de soja por causa das isoflavonas, alimentos crus para absorver a energia vital que era depois distribuída aos meus chacras durante a entoação dos mantras, que eu já cantava virada em direção à Meca e com as guias de todos os orixás penduradas no pescoço pra ganhar tempo... Ohmmmmmmmmm Ops! Foi esse o problema? Eu ia à missa aos domingos também, viu? E fazia novenas!

— Não se preocupe! O reino do Senhor é completamente livre de preconceitos.

— Ah bom! Pensei que tinha sido aquele meu envolvimento com a cientologia, antroposofia e cartomancia. Também dava uma passadinha nuns cultos evangélicos pra garantir É que eu precisava cuidar do espírito, sabe?

— Fez bem! Nada como cuidar do espírito, nós todos aqui sentimos os benefícios dessas orações.

— Mas cuidei da mente também! Fiz análise comportamental, psicanalítica e reichiana. Aproveitei para estudar tarô e mandalas.

— Excelente!

— Se cuidei da mente e do espírito, fiz trabalho voluntário para melhorar a auto-estima resgatando, assim, todos os carmas das vidas passadas e da presente deixando um troquinho para as vidas futuras, e se, ainda por cima, cuidei do corpo, como é que eu vim parar aqui?

— Eu não queria usar termos técnicos, mas já vi que você é uma pessoa esclarecida.

— Muito! Velas, cristais, pirâmides de energia, uma verdadeira Itaipu de tanta luz!

— Certo... Bem, não costumamos comentar esse tipo de coisa, mas no seu caso, vou abrir uma exceção: você teve uma falência múltipla dos órgãos.

— O quê?! Hahahahahahahahahaha! Ah, São Pedro, nunca tinham me contado que o senhor gostava de fazer piada. Pensei que só era personagem delas. Falência múltipla dos órgãos? Impossível! Pra começar, falência é palavra que não fazia parte do meu dicionário. Fiz poupança, plano de previdência privada, aplicação no mercado financeiro. Investi na carreira, em cursos de pós, pós da pós, pós da pós da pós a fim de garantir minha empregabilidade. Desenvolvi atitudes proativas, espírito de liderança, sem esquecer de compartilhar conhecimentos e estratégias para aperfeiçoar a capacidade de trabalhar em equipe. Empreendedorismo já e sempre, mentalização de objetivos, missão pessoal bem delimitada, certificação de qualidade, tudo isso de salto alto, maquiagem, terminho, chapinha, um sorriso nos lábios e eterno pensamento positivo, mesmo com o aumento de horas de trabalho sem contrapartida salarial. Tá, tá, confesso! Tomava umas fluoxetinas e prozacs pra não cair na depressão. Mas só porque todo mundo sabe que depressão é sinal de fraqueza e que devemos estar felizes e contentes sempre! Nada de crises de tristeza ou melancolia, onde já se viu? Isso não é atitude de quem tem sucesso na vida! E, além do mais, fiz viagens de férias porque o lazer é fundamental para manter a criatividade e ampliar o conhecimento geral. Não pode ter havido falência múltipla dos órgãos. E mesmo que isso tenha acontecido, prestei atenção aos inúmeros treinamentos motivacionais que me garantiram e convenceram de que crises são oportunidades de crescimento. Eu jamais teria tido um ataque cardíaco por causa de uma crise dessas!

— Eu não falei em órgãos empresariais. Falei em órgãos do corpo, sabe? Tipo assim, coração, pulmão, rim, essas coisas.

— É evidente que eu sei o que quer dizer falência múltipla dos órgãos! Mas nem considerei essa hipótese porque é simplesmente IMPENSÁVEL que meus órgãos internos tenham falido! A cada vez que a medicina abaixou as taxas de qualquer coisa, qualquer uma, seja colesterol, triglicerídeos, glicemia e o escambau, eu acompanhei. Eles foram apertando o certo e eu ali, firme! Número era comigo mesma! É pra diminuir a taxa de açúcar no sangue? Diminuo! É pra aumentar o HDL? Aumento! Meu hemograma era digno de ser emoldurado e pendurado na parede! Eu tinha cadeira cativa no laboratório de exames. Meus órgãos funcionavam perfeitamente! Sinto muito, mas o senhor dessa vez está enganado. Quem é o chefe aqui? Quero falar com o gerente! A brincadeira perdeu a graça. E os exercícios respiratórios para eliminar o estresse e diminuir as toxinas que vão provocar excesso de radicais livres já não estão mais funcionando! Chega pra lá, Querubim! Vou fazer a posição Adho Mulha Svanasana da Yôga, me concentrar em Shiva para despertar minha Kundalini... Namastê!

BROOOOOOOUUUUUMMMMMM!!!!!!!

— Olha aí! O chefe não está gostando nada disso! Nem eu, diga-se de passagem. Aliás, já perdi a paciência! Você teve falência múltipla dos órgãos, sim, morreu dormindo e ponto final! Agora vamos andando com isso, entra de uma vez que já tem uma fila enorme aí atrás.

— Mas... mas...

— Que é isso? Também não é pra tanto. Olha, usa aqui a manga da minha túnica para enxugar essas lágrimas.

— O que foi que eu fiz de errado pra vir parar aqui? Eu não entendo!

— Todos, eu repito, todos os seres humanos virão para cá mais cedo ou mais tarde. É inevitável...

— Isso! Mais cedo ou MAIS TARDE! Por que no meu caso foi mais cedo? Não pude começar a viver de verdade, não tinha um único minuto livre por conta de todos esses cuidados. Fiz tudo para ter um futuro tranquilo e saudável, quando poderia desfrutar a vida sossegada... Mas antes que esse futuro chegasse, vocês me trazem pra cá? Isso não é justo!

— Esperamos o quanto foi possível. Você teve até certa prorrogação de prazo em reconhecimento a todos esses esforços, mas mesmo essa prorrogação tem limites.

— Eu estava na flor da idade, no auge! Ainda no mês passado fiz meu mapa astral, comemorei meu aniversário...

— Exato! Seu aniversário de 120 anos!

— Então!!! Deve estar todo mundo lá embaixo comentando: Coitada! Tão jovem! Dá uma forcinha aí, vai? Deixe eu voltar pra me divertir um pouquinho, por favor...

— Próximo!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tamanho XXI, de eXtremamente Indignada!

Não adianta, estou de mau humor!

Eu até que gostaria de escrever palavras engraçadinhas sobre o tema, mas a bile que volta à boca não me deixa ser menos do que insuportavelmente chata em relação a esse assunto.

Semana passada enfrentei mais uma vez o calvário dos provadores de roupas e lá se foi minha alegria. O mais impressionante é que a figura que vejo no espelho dessas salas de tortura não é um monstro, tipo uma orca assassina. Mas a imagem que vejo simplesmente não cabe nas peças de roupas que eu tento enfiar e fim de papo! Quer dizer, muitas vezes elas até entram e fecham. Só que, quando olho no espelho vejo aquele bonequinho da Michelin.

Eu já elaborei algumas teorias para explicar esse fato:

Primeira - Aquele número indecente que vejo na balança é a prova irrefutável dos meus pecados, e não somente os da gula. Aquilo tudo é peso na consciência!

Segundo - Outra possibilidade cuja descoberta aterradora eu devo à medicina ortomolecular: são metais pesados no meu organismo, claro! Chumbo, ferro manganês... Sou uma verdadeira usina de metais pesados, a Vale devia me explorar.

Terceiro - Caso meu peso excessivo não venha de nenhuma das opções anteriores, então só pode ser aquilo que os habitantes de Krypton vivem me dizendo... O quê? Vocês não sabiam que Krypton existe mesmo e que Super Homem tem uma família imensa por aí? Verdade! De vez em quando encontro um parente dele com olhos de raio X que afirma: Ah! O que acontece é que você tem ossos grandes! Então tá explicado: eu não sou gorda, meus ossos é que são grandes e crescem sem parar. Ufa!

Mas, mesmo depois de encontrar explicações mais do que plausíveis para o meu peso, ainda faltava compreender o meu diâmetro que faz com que as roupas nas lojas simplesmente não sirvam. E eu descobri!

Estudando um pouco algumas filosofias, soube que temos o corpo físico e também o etéreo ou energético. Eu sempre achei que eram esses dois somente e que eles tinham mais ou menos o mesmo formato, mas fiquei boquiaberta ao descobrir que são mais de quarenta corpos energéticos e que eles se expandem pra muito além do corpo físico! Perceberam? São meus corpos etéreos que não cabem todos juntos dentro da mesma roupa! Haja pano pra cobrir toda essa galera, não?

O fato é que, independente da causa, comprar roupas é, sempre e constantemente, um tormento!

Em troca de mensagens com minha grande amiga Jane que sofre dos mesmíssimos males que eu (metais pesados em excesso, ossos grandes, corpos espaçosos, etc., etc., etc.) falamos de fazer uma loja de camisetas tamanho P, de paquiderme.

Eu abortei a ideia ainda no ovo por importantes razões.

Primeiro porque não sou, nem jamais serei, empreendedora. Isso é coisa pra mulher corajosa como ela, eu tô fora!

Segundo porque não acho justo que as gordinhas sejam obrigadas a simplesmente cobrir o corpo com alguma coisa ajeitada por outras gordinhas solidárias como se fossem aquele galão de água da cozinha enfeitadinho. Acho injusto que nós, as tamanho F, de fofas, sejamos excluídas do mundo das roupas LEGAIS pensadas pelos estilistas, só porque esses profissionais simplesmente ignoram nossa presença no mundo, por mais espaçosa que ela seja.

É inaceitável que não haja uma loja das grandes redes, como C&A ou Renner, que se interesse pelas mulheres tamanho R, de roliças, que existem por aí e façam roupas só para um ideal de mulher criado em photoshop que praticamente não existe, principalmente depois dos 40! Ou será que sou só eu que tenho vontade de me afogar numa piscina de bolinhas repleta de Prozac depois de uma excursão a um shopping center...

Alguém aí vai dizer que existem algumas peças maiores na Renner ou na C&A. Claro que existem! Uma ou outra que não combina com mais nada e que escapou à sortuda que conseguiu chegar antes de mim mas, assim mesmo, numa arara escondida no fundo da loja, ao lado do extintor de incêndio ou da saída de emergência. Vai chegar o dia em que a cliente que comprar essas peças será gentilmente convidada a usar uma saída lateral e receberá as roupas num saco de papel sem o logotipo da loja para eles não verem o horror de uma mulher tamanho V, de verdadeira, vestida com a marca deles.

É claro que existe lojas para pessoas reais, mas fora dos shoppings, geralmente em bairros afastados, e caem invarialvelmente em três categorias: ou são caríssimas, ou breguíssimas ou nos fazem parecer o tal galão de água enfeitado. A única semelhança entre todas essas lojas é a seguinte: sairemos de lá parecendo que temos 30 ou 40 anos a mais. Não basta sermos gordas, temos de ser também velhas! Deprimente!

Querem saber o que eu acho? Acho que tudo não passa de uma gigantesca INCOMPETÊNCIA dos profissionais das grandes redes de lojas. Incompetência completa e total!

Claro que é fácil desenhar roupas legais pra manequins, praticamente cabides que se movimentam sem o uso de pilhas. O grande desafio para as grandes redes seria criar roupas para as mulheres tamanho R, de reais, feitas de carne, osso e banhas que circulam infelizes pelas ruas das cidades. Mas, pra isso eles não têm a menor competência.

Eu comparo esses estilistas aos médicos que só querem pacientes saudáveis, professores que só dão aula pra alunos inteligentes, atacantes que só marcam gol contra time sem goleiro.

O duro é que, enquanto não surgir o Einstein das passarelas que tenha capacidade e inteligência suficiente para aceitar o desafio de cobrir a nós, tamanho M, de mulher (e ponto), continuaremos sonhando com a tal piscina de bolinhas de Prozac. Ou nos converteremos ao islamismo e passaremos a circular de burka por aí. Ou nos mudaremos para o polo norte e nos vestiremos como esquimós. Ou viraremos astronautas...

Dietas, exercícios, etc. e tal? Outro dia eu falo o que penso dessa gigantesca hipocrisia incoerente!

Por enquanto o que me resta é uma dolorosa decisão: o que será que fica melhor em mim, a burka ou o escafandro?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Toma que esse pescoço é teu!

Fui mordida! Agora estou irremediavelmente contaminada, passei pro lado de lá da força, me rendi. Faço parte da legião de pessoas que aguardam, pálidas e de olheiras fundas, a continuação da saga Crepúsculo.

Ohhhhhhhhhhhhh!!!

Ouço o coro decepcionado daqueles que dizem: O quê?! Você?! Professora universitária, que lê Baudelaire no original, formada em Letras, futura doutoranda em literatura?! Não é possível! Que horror!

É isso aí, minha gente. Sucumbi alegremente aos vampiros, da mesma forma que mergulhei nas profundezas de Hogwarts na epopeia de Harry Potter. Tem mais: ontem mesmo devorei avidamente cada página d'O Símbolo Perdido, do Dan Brown, sobre o qual falarei em outro post. E, já que é pra escandalizar de vez, confesso que li alguns títulos do Paulo Coelho, dezenas de volumes do Sydney Sheldon, além de, durante a adolescência, pilhas e mais pilhas daquelas historiazinhas açucaradas de bancas de revistas presentes em coleções chamadas Julia, Sabrina ou Bianca. É isso mesmo: eu, futura doutora em literatura, sou consumidora voraz de leituras chamadas comerciais. E tem mais: não me sinto nem um único milímetro diminuída muito menos envergonhada por causa disso.

Portanto, caí nas presas de Edward Cullen e estou aqui cultivando os dois exemplares intitulados Eclipse e Amanhecer, os quais serão impiedosamente sugados e não sobreviverão até o fim da semana.

Li num blog de um jornalista o seguinte a respeito de outro representante desse tipo de literatura, o já citado Dan Brown:
Não li O Código da Vinci, de Dan Brown. (E ainda que tivesse lido não admitiria. Mas de fato não li.)
Aí está! Se isso não fosse absolutamente irrelevante para a minha vida, já que desconheço completamente o tal jornalista, até chegaria a arriscar uma aposta: a de que ele leu, sim. Leu escondidinho no banheiro, embaixo das cobertas, envergonhado por estar deixando de lado Sêneca, Montaigne, Henry Miller ou Graham Greene (citados por ele no post) para se entregar ao prazer puro e simples da diversão inconsequente. Sem objetivos nobres. Ler pra desopilar a mente. E só.

O argumento do jornalista é o de que a leitura desses livros comerciais ocuparia o tempo que ele poderia dedicar aos clássicos, o que é absolutamente verdadeiro. Ninguém mais do que eu concorda fervorosamente com isso. E eu não veria problema algum na recusa em ler algo de que ele simplesmente não gostasse, o que até pode ser o caso dessa pessoa, mas quando ouço esse e outros críticos semelhantes, fico com a impressão de que eles não leem, ou não assumem que leem, só pra não se misturarem à massa. Para não conspurcarem o altar sacrossanto dos textos literários de alto valor maculando-os com esse lixo comercial menor. Erudição pura que eu prefiro chamar de preconceito puro.

Admito e confesso que minhas estantes acomodam lado a lado e em total harmonia Flaubert, Balzac, Le Clézio, Ernest Hemingway, Umberto Ecco (o ensaísta mais do que o romancista), Gabriel García Márquez, Eça de Queiroz, Saramago e Ovídio, mas também Aldous Huxley, Stephenie Meyer, J K Rowling, Marc Lévy e Nicole de Buron. E me absterei de fazer classificação semelhante entre os brasileiros para não entrar em disputas inúteis sobre quem deveria estar de qual lado. Só digo que o amor por um dos meus ídolos máximos, o incontestável Machado de Assis, cujos contos estão entre as maravilhas da literatura, jamais me impediu de ler aquilo que me desse prazer.

Literatura é um bem de consumo, como comida, por exemplo. Adoro cozinhar e amo um bom restaurante, mas tenho espaço pra MacDonalds também.

Uma vez meu amigo Fábio me pediu pra dar opinião sobre um livro, acho que era o primeiro da Clarah Averbuck. Não lembro mais nada do livro, só lembro que o classifiquei como literatura algodão doce: a gente coloca um pedação na boca, ele se dissolve instantaneamente, não sobra nada mais do que um gostinho bom e fim. Não alimenta, não sacia, mas é gostosinho. Muito diferente de um finíssimo pão de ló, de um divino macaron ou de uma angelical madeleine, a propósito, imortalizada por Proust. Mas, assim como não dá pra viver só de algodão doce, também não dá pra viver só de pão de ló. A sabedoria está na diversidade, na variedade do cardápio. Da mesma forma como acontece na vida, tenho pena dos diabéticos ou dos que vivem de dieta, necessária ou forçada, que não podem se dar ao prazer de um doce inconsequente de vez em quando. Sem pretensão alguma. Um dia, aliás, falarei sobre o que penso desse mundo funcional em que vivemos.

O que acontece com livros, acontece igualmente com música, cinema, teatro e todas as outras artes. A partir do momento em que alguma coisa faz muito sucesso, lá vem o grupinho de críticos torcer o nariz, fazer cara de nojo e revirar os olhos de pura náusea numa atitude mais do que pedante.

Como disse, condordo plenamente com o fato e compreendo quem diz: li e não gostei, ou nem li porque o tema não me atrai. Eu já não gostei de best-sellers planetários. Aconteceu recentemente com Melancia, da Marian Keyes e também com Tolkien e a trilogia O Senhor dos aneis. Fiz algumas tentativas de leitura, mas não rolou. Isso não muda o fato de que há milhões de pessoas no mundo que leram e gostaram desses livros. Viveram momentos de prazer descarado.

Não tenho preconceitos. O jornalista tem razão, tempo é precioso e não dá pra desperdiçar lendo o que não nos agrada. Se começo um livro e ele não me encanta, abandono sem remorsos. Por mais clássico que seja, não perco meu precioso tempo. Deve ser coisa da minha alma vampira, insensível. Às vezes era só questão de momento errado e, numa segunda chance, passo a devorar o que antes me foi intragável. Foi assim com Madame Bovary e também com Cem anos de solidão. Com outros o abandono foi definitivo. Aconteceu com Ulisses, de Joyce. Esse não me pega mais e eu aprendi a ler aos quatro anos de idade, requisito citado pelo jornalista do blog para chegar a compreender Joyce. Simplesmente não gostei. E pronto.

O que mais me encanta na minha maneira de ser é a minha mais completa e irrestrita LIBERDADE: recuso Joyce e me entrego a Meyer sem medo de ser feliz!

Podem se armar de água benta e dentes de alho contra mim, eu não me importo! Minha alma de leitora é imortal...

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Pra quem ficou curioso com o tal post, aqui vai o link.