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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sai de baixo, piiiiiiiiii!

Esses dias eu estava lendo o blog da minha amiga Carol e não pude deixar de me sentir solidária a ela ao conhecer suas idéias sobre TPM . Na minha recém-inaugurada série de escritos sobre os grandes tormentos da humanidade não poderia faltar um tratado científico-psicológico sobre este, que é o maior tormento da vida de uma mulher, e de seus filhos, e de seu marido, e da sua mãe, aliás, de toda a sua família, mas também de suas amigas e amigos, até mesmo do seu amante, se ela por acaso tiver um! Para falar bem a verdade, ninguém escapa da fúria de uma mulher com TPM! Do pipoqueiro ao açougueiro, do padre ao verdureiro, é uma verdadeira chacina!

Ouvi dizer que na Inglaterra, no caso de uma mulher cometer um crime, a TPM pode até ser usada como atenuante. Se essa pobre coitada conseguir provar que estava em período pré-menstrual, o crime ganha uma certa complacência do juiz. Sabendo disso, perdi a conta de quantas vezes quis cruzar o Canal da Mancha quando morava na França, só para poder encher de bolacha a cara de um inglês qualquer. Ele até podia usar de acompanhamento no seu fleumático five o’clock tea se quisesse!

Desde que dei uma passada pelo blog da Carol, fiquei pensando que devia eu também descrever esse tormento. Dar meu depoimento, contar minha triste história, dizer às mulheres do mundo que sou solidária a todas elas nesse sofrimento.

Mas então, uma coisa extraordinária aconteceu... Vagando por um sebo no centro da cidade, sem querer derrubei minha caneta no chão. Quando me abaixei para pegá-la, vi um caderno empoeirado, caído embaixo de uma estante. Não resisti! Peguei o tal caderno, assoprei a grossa camada de poeira que havia sobre ele e abri cuidadosamente suas folhas. Era um diário! Páginas e mais páginas preenchidas com uma letra redonda e miúda. Não sei vocês, mas eu adoro romances epistolares (feitos só de cartas). Da mesma forma, adoro histórias que contêm diários, bilhetes e coisas do gênero. Tenho sensação de estar olhando pelo buraco da fechadura, descobrindo segredos. Por isso encontrar aquele diário me deixou animada. Era um diário de verdade! Uma pessoa de carne e osso tinha escrito tudo aquilo! Um diário é quase um Big Brother literário, vocês vão concordar comigo.

Folheava ao acaso o caderno quando um papel solto e dobrado ao meio caiu no chão. Continha um texto pungente, tocante, quase poético. O diário era de uma mulher, não havia dúvidas. Aquela página estava sem data, mas nem precisava! Ele descrevia suas experiências e sensações num dia em plena TPM. A identificação foi imediata! Eu não poderia ter encontrado palavras melhores para explicar aquilo tudo pelo que ela tinha passado! Nem preciso dizer que comprei imediatamente o tal diário.

Essa mulher, cujo nome eu ignoro porque a capa foi arrancada, descreveu perfeitamente tal suplício. Eu jamais teria feito melhor, por isso peço a permissão de vocês para transcrever aqui essa página solta.

Aviso de antemão às almas mais sensíveis que o vocabulário que ela usou é... como dizer, duro, direto, sem meias-palavras. Se alguém se sente desconfortável com esse tipo de linguagem é melhor nem continuar a ler esse post. Mas acho que todas as mulheres sentirão uma espécie de identificação...

Ah! Se você tem menos de 18 anos, também recomendo parar a leitura... Sei lá...

A não ser, é claro, que já seja uma mocinha. A partir do dia em que menstruamos a primeira vez, passamos a ter o direito até de cometer crimes! Temos todo o direito de dizer o que quisermos, do jeito que bem entendermos!

Lá vai!

Querido e amado diário,

Mas por que é que a gente tem essa PORRA, essa BOSTA, essa MERDA dessa TPM?!!!

Ontem eu quase peguei a caneta para escrever por aqui meu bilhete de adeus!

Depois de DIAS tendo só uma entre duas escolhas possíveis: matar ou morrer, decidi que deveria preservar a integridade física, pelo menos das pessoas da minha família, e fui para o parque Barigüi (o dia estava lindo).

2Km antes de chegar na entrada do parque já comecei a me perguntar porque CARALHO existe tanta gente no mundo, e o pior: por que aqueles LAZARENTOS todos decidiram ir ao parque NA MESMA HORA QUE EU, CACETE?!!!

Tive de estacionar no QUINTO DOS INFERNOS e caminhar até o ponto que eu mais gosto do parque que é no extremo oposto do lugar onde tinha achado vaga. Só que tinha MILHARES de pessoas lá! Gente namorando, crianças correndo, velhinhos de bengala: POR QUE ESSA GENTE TODA NÃO FICA CONFORTAVELMENTE EM CASA, PUTA MERDA?!!!

Vão namorar numa cama que é lugar quente!

Ponham essas crianças na frente da TV pra elas pararem de encher o saco!

E essa velharada toda, enfiem num asilo com Rivotril na veia, assim eles ficam babando e não vão ao Barigüi num domingo de sol atrapalhar a minha CRISE DE TPM, MERDAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!

Por sorte deles eu saí desarmada! Nem mesmo um cortador de unhas! DROGA!

Andei, andei, andei.... Sentei embaixo de uma árvore, DE COSTAS para a pista de cooper, de frente para o lago, de um jeito que as únicas pessoas que eu seria capaz de ver eram aquelas que quisessem cometer suicídio! Se passasse pela minha frente eu jogava! E tem jacaré naquele lago!!!

Fiquei mais de uma hora sentada embaixo daquela árvore! Escrevi páginas e mais páginas de cartas indignadas, chorei baldes de lágrimas. Daí o sol que estava torrando a minha cara se pôs, aquele calorzinho desapareceu, começou a fazer um frio do CACETE e eu tive de ir embora! Peguei engarrafamento (até num domingo, PUTA-QUE-O-PARIU!!!), errei o caminho da padaria, as moças se perderam todas no pedido, mandei meio-mundo à MERDA e voltei ao recôndito do meu lar.

Ao entrar em casa, ouvi imediatamente meus filhos que se pegavam a tapas pra ver quem ia tocar o piano! Fechei o piano a chave (lembrei de tirar as mãos dos dois antes, mas foi no último segundo...), distribui meia dúzia de berros, coloquei a mesa do lanche, arrastei todo mundo pelo pescoço pra mesa a fim de termos PELO MENOS UMA REFEIÇÃO TRANQUILA NESSA CASA! Aí sentei na frente deles e chorei mais 30 minutos. Saíram as crianças, ficou o marido, solidário na alegria e na tristeza e todo aquele BLÁ, BLÁ, BLÁ...

Nessas horas a única coisa que me acalma é fazer alguma atividade manual. Levantei, com a cara deformada, fui para meu quarto de costura, o qual eu tinha colocado na mais absoluta ordem de manhã. Fiz isso porque, geralmente, quando estou em desordem por dentro, botar ordem nas coisas por fora (armários, gavetas, etc.) resolve uma boa parte dos meus problemas! Mas não ontem! Fiquei horas arrumando aquela BOSTA toda! E NÃO ADIANTOU PORRA NENHUMA!

Decidi costurar o acabamento em uma colcha de casal, cujo matelassê eu tinha mandado fazer com uma profissional recomendadíssima. É a primeira colcha de casal que eu faço pra mim na vida e a mulher CAGOU no trabalho! Já na sexta-feira quando fui buscar eu vi que ODIEIIIIIIIIIIIIIIIIIIII aquela linha azul cor de calcinha de PUTA que ela escolheu!

Nem bem tinha começado a costurar, bateu a canseira... Decidi enfiar um comprimido de Valium goela abaixo e me mandei pra cama para pelo menos dormir!!!

Hoje acordei, fui fazer um xixi e................ SANGUE!

Diário, tudo aquilo aconteceu por causa daquele sanguinho no papel higiênico que eu teria beijado se não fosse tão nojento!

Mas por que é que a gente tem de passar por esse tormento todos os meses?!!!

O pior é que ficar SEM não melhora em nada a situação! Ou é gravidez ou é menopausa! Não tem escapatória!!!

Ai ai...

Aliviei...

Sabe Diário, agora estou quaaaaaaase normal de novo...

Ainda estou meio PUTA DA CARA com essas espinhas (SIM!!!!!!!!!!!!!!!!!) e com o número que eu vejo na balança que não abaixa mesmo que eu passe fome (SIM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!), mas sei que esses dois pequenos detalhes também têm ligação direta de fios desencapados com essa tal de menstruação.

Como é que a gente sobrevive a isso?!!!

Ainda bem que eu tenho você, querido Diário, que me escuta e me compreende sem ABRIR ESSA BOCA pra dizer uma única palavra de reprovação sequer. Se pelo menos o resto da humanidade fosse como você eu não precisaria mandar todo mundo TOMAR NO... PIIIIIIIIII!

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segunda-feira, 14 de julho de 2008

Na próxima encarnação, quero ser caracol

Há um tempo comecei a tecer elogios rasgados aos grandes inventos da humanidade. É claro que ainda tenho muito a agradecer aos Professores Pardais espalhados pelo mundo que tornam nossos dias mais divertidos, interessantes ou leves. Mas hoje inauguro uma nova série de escritos: a dos grandes tormentos da humanidade! Como diz o ditado, não há bom sem defeito nem mau sem proveito. Sinto reconhecer que, ao lado das grandes idéias, há também as grandes mancadas.

Vamos à primeira delas, aquela que nos últimos dias me atormentou profundamente: arrumar malas!

Pode ser trauma de infância. Talvez até trauma de vidas passadas. Acho que em outra encarnação fui camareira de alguma celebridade excêntrica, quem sabe? Uma vez li uma biografia da Maria Antonieta, aquela rainha da França que perdeu a cabeça na guilhotina. Saibam vocês que ela não foi docilmente para a prisão, evidentemente. Percebendo que o mar não estava para peixe ou, mais apropriado no caso dela, que o petit déjeuner não estava pra croissant, ela bem que tentou uma fuga. Quem está fugindo pica a mula o mais rapidamente possível, não é assim? Mas não Maria Antonieta! Ela quis preparar um kit básico de viagem de fuga que incluía vários caixotes de madeira com um enxoval de linho especialmente bordado para a ocasião, uma coleção de vestidos, perucas e mais um monte de outras coisas extremamente úteis pra quem está se escafedendo. Imagino o sofrimento da criatura responsável por arrumar tudo isso e, nem precisaria acrescentar que a rainha, o resto da família e sua imensa bagagem foram pegos no meio do caminho, é claro. Não dava pra charrete partir em desabalada carreira com aquela tralha toda. Nem dá pra ser discreto carregando um contêiner. Olha só no que foi dar todo aquele amor às perucas: perdeu literalmente a cabeça por causa delas!

Arrumar mala pra mim chega a causar sofrimento físico. Vai se aproximando o momento de fazer isso e eu vou ficando cada vez mais tensa, irritada e de mau humor. E esse momento de fazer isso significa, às vezes, 15 minutos antes de sair! Protelo até quando não dá mais. Segura esse meio de transporte aí, seja ele qual for. Tô sentada em cima dessa mala pra ver se fecha! Não é à toa que pra dizer o quanto uma pessoa é chata a gente diz: o cara é um mala! Mala é uma coisa chata, está provado.

Acho que meu grande problema é, na verdade, astrológico: libriana, indecisa, insegura... Será que levo essa blusinha branca? Branco suja tanto... Então levo a preta! Mas lá vai estar um calor infernal, vou cozinhar saindo disfarçada de urubu... Por que não comprei só roupas cinzas? ARGH! Vão vocês e me deixem ficar em casa onde posso estar sem ter de arrumar mala!

Confesso que já deixei de fazer alguns passeios só para não ter de passar pelo sofrimento de preparar uma mala. Já está ficando patológico isso!

Acabei aprendendo com a vida a ser super econômica e expert na arrumação de uma mala. Mas a grande complicação é a seguinte: para ser o mais econômico possível, tem de pensar muito. Para não ter de pensar muito, tem de carregar o peso depois. Não tem saída!

E não é um pensamentozinho à toa, não. De jeito nenhum! Arrumar mala envolve logística sofisticada e estratégia bélica.

Primeiro é preciso escolher uma ou duas cores, no máximo. Assim tudo combina com tudo. Acontece que, como boa libriana, sou incapaz de escolher uma única cor. E, além do mais, a cor de roupa reflete meu estado de espírito. Como é que vou saber qual vai ser meu humor nos dias futuros? E se eu estiver totalmente de bem com a vida, alegre, feliz e contente? Vou querer me vestir de azul ou pink, mas dentro da minha mala só vai ter preto, com certeza! O mau humor na hora de arrumar a bagagem vai me fazer encher todo o espaço existente com mortalhas enquanto seguro um punhal para espetar o primeiro que ousar olhar para mim enquanto estou me sentindo num verdadeiro campo de concentração por ter de arrumar uma mala.

Depois de escolher a cor, vem a dúvida: vai estar frio ou calor? Sei lá que tempo vai fazer, meu Deus do céu! Vidente de esquina acerta mais previsões do que canal de TV especializado em meteorologia! O máximo que dá pra ter é uma vaga noção de que no Saara vai estar calor e, na Sibéria, frio. E com o buraco na camada de ozônio até mesmo isso pode mudar! Então o negócio é prever uma coisinha para o calor, outra para meia estação e mais uma blusinha de frio, sem esquecer as meias e um par de tênis, mas também um sapato social porque, vai que aparece uma festa, ou uma balada mais forte. Socorro! Minha coluna não agüenta carregar tudo isso!

E tem mais. Se a viagem é para um lugar próximo, tudo bem. Pelo menos é no mesmo hemisfério do globo. Mas às vezes temos a chance de realizar sonhos e de viajar para outros países ou mesmo mudar radicalmente de latitude como, por exemplo, sair do Trópico de Capricórnio e ir parar próximo do Equador, e aí: o drama! Se eu estou congelando feito picolé na garoa de Curitiba, simplesmente não consigo me imaginar de biquíni numa praia em João Pessoa. Não dá! Tenho a imaginação bloqueada nesse momento. Além de estar segurando uma foice para poder decepar, nem que seja só um dedinho, do primeiro cristão que ousar me dirigir a palavra enquanto eu estou ali, de cachecol, meia e luva, olhando para aquela saída de praia rosa de florzinhas brancas e me arrependendo amargamente por não ter me convertido a uma religião que me obrigasse a andar de burka. Preta!

Findo o suplício da roupa, tem o dos sapatos e acessórios. Vou contar para vocês: eu sou muito feliz na minha condição feminina. Adoro maquiagem, balangandãs, cintos, echarpes e bolsas. Mas no momento em que estou com uma arma apontada para a porta do quarto, diante da mala aberta, esperando pela primeira criatura que apareça com um sorrisinho sequer nos lábios perguntando Já terminou?, fico com uma vontade alucinada de procurar o primeiro hospital que faça uma cirurgia de mudança de sexo!

Quando tudo está dentro da mala, ainda não acabou! Não tem mais espaço, mas alguma mágica vai ter de ser feita porque tem de caber ali dentro o secador de cabelos, o carregador de pilhas para a máquina fotográfica, o carregador do celular, um livro para as intermináveis horas passadas na espera de seja o que for, a estrada, o ar, a água, os embarques, as baldeações, etc, etc, etc e ELA, aquela que só cresce com a passagem do tempo: a nécessaire! O nome já diz tudo, nem precisa saber francês: é necessária e muito! Mas ocupa um volume inexistente numa mala! Shampoos, cremes, sabonete, pasta de dente, remédios, desodorante, perfume, maquiagem. Nessa hora eu quase chego a deixar cair a granada que tenho nas mãos porque, lembrando o final da música Thriller do Michael Jackson, dou uma sonora gargalhada: a macharada não fica atrás das moçoilas nesse quesito. Eles também carregam o fardo de uma nécessaire abarrotada de coisas. Um empate! Até que enfim!

Enfim, aliás, seria uma boa palavra para o momento, afinal, aparentemente acabou a sessão de tortura, mas tenho dois filhos. Um casal como sempre quis. O que eu nunca parei pra pensar é que teria de arrumar também a bagagem deles e que, absurdo dos absurdos, eles não poderiam dividir roupas e brinquedos pra ficar mais fácil! É uma mala para cada um e não tem choro.

Essa é a hora em que pego a corda e começo a procurar o lugar onde vou amarrá-la para que meu enforcamento seja rápido e indolor. Enquanto não consigo me decidir pelo melhor local (Ah! Esses nativos de Libra!), recomeço o ritual macabro de escolha de roupa, sapato, e se fizer frio, e se fizer calor, e se eles se sujarem, e se fizerem xixi na calça, e se vomitarem...

Pois é, no caso das crianças tem a sessão remédios: é preciso levar o termômetro, o anti-térmico, o anti-inflamatório, o xarope para tosse seca, o xarope para tosse catarrenta, o xarope de alergia, o remédio para disenteria, mas também o laxante, a bombinha de asma, o soro fisiológico, as pomadas para mordida de bicho, para eczemas, o remédio para gases e, é claro, o remédio para vômito... E o negócio é que a gente carrega tudo isso só para NÃO usar, porque, se não levar vai descobrir que não há situação em que a lei de Murphy se aplique mais. Exatamente aquele remédio que você não levou é que a criança vai precisar, durante a madrugada, naquela praia deserta cuja farmácia mais próxima fica a kilômetros de distância, isso, evidentemente, no caso improvável de ela estar aberta E ter o remédio necessário!

Mas isso só vai acontecer se meus pimpolhos forem rápidos o suficiente para fugirem do olhar fulminante de ódio que lançarei em direção aos dois quando eles me distraírem da leitura sobre A maneira eficiente de planejar e ter sucesso, de Osama Bin Laden!

Prevendo o pior, nessa última semana minha mãe se ofereceu gentilmente para arrumar as malas dos meus rebentos nas duas, isso mesmo que vocês leram, DUAS vezes em menos de sete dias que eu teria de arrumar as malas deles E as minhas. Benditas sejam as mães que fazem o possível para tornar menos árduo o caminho de seus filhos. Mas os meus filhos que não se iludam! Vão arrumar as malas deles, e as dos filhos deles, e as dos filhos dos filhos deles e as de todas as gerações futuras porque eu ME RECUSO! E me dá aqui esse chicote que eu estou precisando açoitar alguém pra me acalmar!

Vai ser difícil eu encontrar um tormento maior do que arrumar malas. Principalmente porque, vejam a ironia do Altíssimo, a coisa que eu mais gosto de fazer nessa vida é viajar! E enquanto não inventam a roupa descartável vendida em maquininhas de colocar moedas, esse calvário vai continuar a existir.

Só que, não bastasse o fato de ter de fazer a mala, carregar, levantar e abaixar a dita cuja, multiplicar o espaço na volta para fazer caber o que está sujo ao lado do que está limpo e mais as coisinhas que, não sei como, aparecem pelo caminho, tenho certeza de que o seguinte ditado popular foi inventado para elas, as malas: ruim com elas, pior sem elas!

Experimente sair do Brasil em pleno inverno, ir bater em Roma em pleno verão e descobrir, depois de mais de 20 horas de viagem, que sua mala foi dar um rolé e está, literalmente, para lá de Bagdá, com todas as suas bermudinhas e regatinhas, enquanto você cozinha lentamente dentro da roupa de viagem super confortável, mas preta, de manga comprida, de lã, combinando perfeitamente com as botas de couro! Pode ir reclamar com o Papa, minha filha, e aproveita para dar uma olhadinha na praça da Basílica de S. Pedro no domingo de manhã: a galera está toda lá pelo mesmo motivo. Resigne-se e improvise alguma coisa!

Isso nunca aconteceu comigo, felizmente, mas com alguém próximo, muito próximo. Não digo quem foi e vocês vão entender o porquê. Esta moça teve de ir jogar moedinhas na Fontana di Trevi usando o shorts do pijama do pai! Constrangedor, não? E não é que a Fontana di Trevi é poderosa? Em três dias a mala dela chegou e o pai pôde deixar de dormir pelado!

Professores Pardais espalhados pelo mundo, apressem-se: está demorando demais a invenção do teletransporte e da roupa holográfica na qual a gente aperta um botãozinho e ela muda a imagem projetada. Mas acabei de pensar que, mesmo com isso tudo, ainda tem a nécessaire! Raios!

Entre o prazer e o sofrer, ainda tenho preferido o prazer apesar do sofrer e continuo a viajar sempre que posso. Nessa última semana, por uma grande coincidência, fiz três viagens. Lugares e contextos diferentes, portanto, três vezes malas para arrumar!

Como vocês podem ver, sobrevivi! E agora, nesse exato instante, olhando o tapete de nuvens pela janela do avião, chego até a pensar que arrumar mala não é assim tão ruim diante da maravilha que é partir...

O título desse texto diz que na próxima encarnação quero nascer caracol que carrega a casa nas costas, portanto, não precisa arrumar mala pra viajar. Mas já mudei de idéia: ser lesma também não dá, né? Quero mesmo é viajar sempre, mas aprender a fazer isso cada vez mais leve. Atingirei o nirvana quando conseguir sair de casa só com a roupa do corpo...

E uma nécessaire!