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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tamanho XXI, de eXtremamente Indignada!

Não adianta, estou de mau humor!

Eu até que gostaria de escrever palavras engraçadinhas sobre o tema, mas a bile que volta à boca não me deixa ser menos do que insuportavelmente chata em relação a esse assunto.

Semana passada enfrentei mais uma vez o calvário dos provadores de roupas e lá se foi minha alegria. O mais impressionante é que a figura que vejo no espelho dessas salas de tortura não é um monstro, tipo uma orca assassina. Mas a imagem que vejo simplesmente não cabe nas peças de roupas que eu tento enfiar e fim de papo! Quer dizer, muitas vezes elas até entram e fecham. Só que, quando olho no espelho vejo aquele bonequinho da Michelin.

Eu já elaborei algumas teorias para explicar esse fato:

Primeira - Aquele número indecente que vejo na balança é a prova irrefutável dos meus pecados, e não somente os da gula. Aquilo tudo é peso na consciência!

Segundo - Outra possibilidade cuja descoberta aterradora eu devo à medicina ortomolecular: são metais pesados no meu organismo, claro! Chumbo, ferro manganês... Sou uma verdadeira usina de metais pesados, a Vale devia me explorar.

Terceiro - Caso meu peso excessivo não venha de nenhuma das opções anteriores, então só pode ser aquilo que os habitantes de Krypton vivem me dizendo... O quê? Vocês não sabiam que Krypton existe mesmo e que Super Homem tem uma família imensa por aí? Verdade! De vez em quando encontro um parente dele com olhos de raio X que afirma: Ah! O que acontece é que você tem ossos grandes! Então tá explicado: eu não sou gorda, meus ossos é que são grandes e crescem sem parar. Ufa!

Mas, mesmo depois de encontrar explicações mais do que plausíveis para o meu peso, ainda faltava compreender o meu diâmetro que faz com que as roupas nas lojas simplesmente não sirvam. E eu descobri!

Estudando um pouco algumas filosofias, soube que temos o corpo físico e também o etéreo ou energético. Eu sempre achei que eram esses dois somente e que eles tinham mais ou menos o mesmo formato, mas fiquei boquiaberta ao descobrir que são mais de quarenta corpos energéticos e que eles se expandem pra muito além do corpo físico! Perceberam? São meus corpos etéreos que não cabem todos juntos dentro da mesma roupa! Haja pano pra cobrir toda essa galera, não?

O fato é que, independente da causa, comprar roupas é, sempre e constantemente, um tormento!

Em troca de mensagens com minha grande amiga Jane que sofre dos mesmíssimos males que eu (metais pesados em excesso, ossos grandes, corpos espaçosos, etc., etc., etc.) falamos de fazer uma loja de camisetas tamanho P, de paquiderme.

Eu abortei a ideia ainda no ovo por importantes razões.

Primeiro porque não sou, nem jamais serei, empreendedora. Isso é coisa pra mulher corajosa como ela, eu tô fora!

Segundo porque não acho justo que as gordinhas sejam obrigadas a simplesmente cobrir o corpo com alguma coisa ajeitada por outras gordinhas solidárias como se fossem aquele galão de água da cozinha enfeitadinho. Acho injusto que nós, as tamanho F, de fofas, sejamos excluídas do mundo das roupas LEGAIS pensadas pelos estilistas, só porque esses profissionais simplesmente ignoram nossa presença no mundo, por mais espaçosa que ela seja.

É inaceitável que não haja uma loja das grandes redes, como C&A ou Renner, que se interesse pelas mulheres tamanho R, de roliças, que existem por aí e façam roupas só para um ideal de mulher criado em photoshop que praticamente não existe, principalmente depois dos 40! Ou será que sou só eu que tenho vontade de me afogar numa piscina de bolinhas repleta de Prozac depois de uma excursão a um shopping center...

Alguém aí vai dizer que existem algumas peças maiores na Renner ou na C&A. Claro que existem! Uma ou outra que não combina com mais nada e que escapou à sortuda que conseguiu chegar antes de mim mas, assim mesmo, numa arara escondida no fundo da loja, ao lado do extintor de incêndio ou da saída de emergência. Vai chegar o dia em que a cliente que comprar essas peças será gentilmente convidada a usar uma saída lateral e receberá as roupas num saco de papel sem o logotipo da loja para eles não verem o horror de uma mulher tamanho V, de verdadeira, vestida com a marca deles.

É claro que existe lojas para pessoas reais, mas fora dos shoppings, geralmente em bairros afastados, e caem invarialvelmente em três categorias: ou são caríssimas, ou breguíssimas ou nos fazem parecer o tal galão de água enfeitado. A única semelhança entre todas essas lojas é a seguinte: sairemos de lá parecendo que temos 30 ou 40 anos a mais. Não basta sermos gordas, temos de ser também velhas! Deprimente!

Querem saber o que eu acho? Acho que tudo não passa de uma gigantesca INCOMPETÊNCIA dos profissionais das grandes redes de lojas. Incompetência completa e total!

Claro que é fácil desenhar roupas legais pra manequins, praticamente cabides que se movimentam sem o uso de pilhas. O grande desafio para as grandes redes seria criar roupas para as mulheres tamanho R, de reais, feitas de carne, osso e banhas que circulam infelizes pelas ruas das cidades. Mas, pra isso eles não têm a menor competência.

Eu comparo esses estilistas aos médicos que só querem pacientes saudáveis, professores que só dão aula pra alunos inteligentes, atacantes que só marcam gol contra time sem goleiro.

O duro é que, enquanto não surgir o Einstein das passarelas que tenha capacidade e inteligência suficiente para aceitar o desafio de cobrir a nós, tamanho M, de mulher (e ponto), continuaremos sonhando com a tal piscina de bolinhas de Prozac. Ou nos converteremos ao islamismo e passaremos a circular de burka por aí. Ou nos mudaremos para o polo norte e nos vestiremos como esquimós. Ou viraremos astronautas...

Dietas, exercícios, etc. e tal? Outro dia eu falo o que penso dessa gigantesca hipocrisia incoerente!

Por enquanto o que me resta é uma dolorosa decisão: o que será que fica melhor em mim, a burka ou o escafandro?

sábado, 15 de agosto de 2009

Realmente, incomodada ficava minha avó!

Meninos, fora! Vão pra lá brincar com seus carrinhos porque o que vai rolar por aqui hoje é um papo mulherzinha. Portanto, rua! Xô, xô, todo mundo!

Já foram? Então tá... O negócio agora é entre nós, mulherada. Peguem seus banquinhos, puxem o fio do tricô e vamos trocar umas ideias...

Quando eu passei a ter intimidade com eles, não sabia que eram ainda tão recentes no convívio feminino. Confesso que cheguei a experimentar aqueles que a gente não conseguia manter presos. Eles tinham umas pontas soltas, estranhas, que avançavam na frente e atrás e não eram nadinha discretos! Todas conviveríamos alguns dias com eles de tempos em tempos, quando desenvolveríamos estratégias mirabolantes pra disfarçá-los. Só que, fatalmente, um dia passaríamos pelo aperto de ser pegas de surpresa, ou ficar longe de casa mais do que prevíamos, ou perceber que eles tinham mudado de lugar. Aí aconteceria o inevitável e constrangedor acidente. Novas estratégias, mais mirabolantes ainda pra voltar o mais rápido possível pra casa se esgueirando pelos cantos e becos escuros, rezando e revendo mentalmente o filme das últimas horas vividas, na tentativa desesperada de lembrar com quem nos encontramos, pra saber de quem nos despedimos, para quem viramos as costas ou sobre o que estivemos sentadas ou apoiadas e avaliar, dessa forma, a extensão do estrago.

Mas... o que é isso? Saí pra lá, moleque! Quanta curiosidade! Isso aqui é conversa de mulher, já disse!

Esses homens... Dariam tudo pra entender nossa relação tão íntima, misteriosa e absolutamente impossível de ser reproduzida no mundo masculino com eles: os absorventes!

Como disse, nasci num mundo em que esse grande invento da humanidade não só existia como era corriqueiro. Ouvi histórias sussurradas e entrecortadas aqui e ali sobre um tempo incivilizado no qual eles não tinham sido inventados. Histórias de terror absoluto que falavam em toalhinhas higiênicas. Simplesmente não consigo imaginar esse tormento...

Parênteses: preciso rever imediatamente os filmes de náufragos em ilhas desertas! Nunca assisti Lost, mas duvido que eles digam como aquelas mulheres fazem quando estão naqueles dias. Fim do parênteses.

Só que, lentamente, meu universo foi se modificando e hoje me encontro absolutamente perdida diante de uma prateleira de absorventes. Sou uma libriana típica e convicta, gente, isso não se faz! Colocar cinquenta e duas opções diferentes diante de um libriano e dizer Agora decide! é quase uma sentença de paralisia!

Se eu voltar no tempo revejo comerciais de TV que desfilam diante dos meus olhos. O primeiro deles é do Modess, palavra que serviu por um tempo como exemplo da marca que vira substantivo, do mesmo jeito que aconteceu com xerox, gilete, chicletes e tantas outras. Mas nesse caso o tempo fez evoluir o vocábulo e hoje nem sei se o saudoso Modess ainda existe.

Saudoso, sim! Pelo menos eu não tinha que pensar. Era ele e pronto, sem muitas reflexões. O máximo era decidir entre o modelo inicial e sua evolução. O primeiro era aquele com as tais pontas soltas na frente e atrás, que eu nunca entendi bem pra que funcionavam até ouvir a propaganda do novo Modess com tiras adesivas que, segundo o reclame, dispensava o uso de cintas ou presilhas. Cintas? Era pra usar uma cinta elástica com aquilo? Até é uma boa idéia considerando que, em tempo de regras, a regra é ficar com um barrigão inchado de dar raiva! Se não fosse cinta, então era presilha? Presilha de cabelo, tipo tic-tac? Como é que se prendia isso? E se o tic-tac pegasse onde não devia, tipo a pele ou um pelinho? Ui!!! Talvez presilha fosse um eufemismo para alfinete. Ai!!! Espetada de alfinete dói em qualquer parte, imaginem... ! Que horror! Felizmente vivi pouquíssimo tempo essa coisa das pontas soltas...

Quando surgiu o Modess com tiras adesivas seguido de outras marcas igualmente pegajosas (no bom sentido), uma das propagandas mostrava uma mocinha com um short branco e mínimo (para os padrões da época, é claro) e vinha a frase: incomodada ficava sua avó!

Propaganda enganosa, é óvbio. Sorte deles que na época não existia Procon. Tudo bem que o negócio não se mexia mais, mas tinha o tamanho de um talão de cheques e a espessura de uma Bíblia. Nem pensar em usar um shortinho minúsculo e, ainda por cima, branco! Vazamentos laterais, frontais ou traseiros eram líquidos, literalmente, e certos e a gente continuava apelando para as calças e saias pretas nesses dias.

Nova passagem do tempo. Vislumbro outro comercial, aquele que deu origem à quantidade absurda de opções que temos hoje e que deixa essa pobre libriana que vos escreve aturdida, abobalhada, incapaz de decidir.

Foi a vez do Sempre Livre Mini e a propaganda mostrava dois daqueles tijolões bem no centro de uma mesa. Em seguida, uma mulher colocava dois Sempre Livre Mini antes e três depois deles dizendo: para quando seus dias estão chegando, ou indo embora.

A ideia foi boa, não estou reclamando. Realmente, no começo, mas principalmente no finzinho, eu achava um verdadeiro desperdício jogar aquele tijolão fora com uma sujeirinha de nada no meio. Então os mini foram muito bem vindos.

Depois deles houve só mais uma inovação, essa sim pra lá de super-mega-maravilhosa. Estou falando das abas! Como somos mocinhas comportadas e cruzamos as pernas ao sentar, fatalmente espremíamos o absorvente que ia, mas não vinha, e lá estava criado o ambiente perfeito para os vazamentos laterais. As geniais abas acabaram com isso!

Ah! As abas! Maravilhosas abas que protegem como asas angelicais o elástico das nossas calcinhas. Depois das abas eu nunca mais tive de ordenhar os tais elásticos! O elástico, vocês sabem, é espesso e não poderia ser diferente. Vocês também não sofriam esfregando, enxaguando, olhando e achando que estava ótimo, para então dar uma última espremida no elástico e descobrir, desanimada, que tinha sobrado alguma coisa? Não era uma verdadeira ordenha? Minha vida é outra depois das abas... Mas podia ter parado aí!

Quer dizer, vou dar uma chance pros noturnos... Tenho de admitir que o noturno é tudo de bom. Quem de vocês nunca passou pela saia justa de ir dormir na casa de uma amiga, tia, avó, sei lá, e, ao acordar, ver terrificada aquela roda de sangue no lençol, colchão e tudo o mais? Eu passei por essa e minha amiga Alessandra vai se lembrar. Eu, pelo menos, não me esqueço. Que situação! Eu mal tinha saído da infância e abandonado os colchões plastificados por causa do xixi, não queria ter de pedir de novo um colchão barulhento por causa de um sangue impertinente. Desenvolvi minhas próprias táticas de guerra, todas abandonadas com o advento dos absorventes noturnos.

O mundo, por mim, podia ter parado ficado assim: mini, normal, noturno, todos com abas. Mais a versão sem abas dos dois primeiros, para aqueles dias em que a gente vai fazer massagem ou depilação... É meio chato absorvente com abas quando estaremos seminuas em semipúblico, não?

Bem, para ser absolutamente honesta, tem ainda o protetor diário, outra ideia interessante, embora eu continue a não entender uma das primeiras propagandas do Carefree e que circula, com algumas modificações, até hoje. A moça dizia: com ele eu tenho a sensação de estar sempre usando uma calcinha que acabei de tirar da gaveta.

Alguém pode me explicar? Se a gente usa o absorvente junto com a calcinha, no final do período ele estará tão imprestável quanto ela. Se fica trocando de hora em hora vai à falência e ainda leva o lixo urbano ao caos. Apesar desse senão da propaganda, eles são úteis, não há como negar.

Por fim, vem aquele que causa inveja, ciúme e, provavelmente, um certo frisson na macharada: o absorvente interno.

O pobre Príncipe Charles foi pego com a mão na cumbuca quando veio a público a comunicação proibida com a sua, na época, amante, Camila Parker Bowles, em que ele afirmava: queria ser o seu Tampax. Credo! E ela ainda está com ele? Fetiche puro! Será que algum dos rapazes que mandamos passear já se esquivou sorrateiramente para um banheiro, a fim de analisar escondido o conteúdo assustador e excitante de uma caixinha de O.B.? Aliás, que nome é esse? Tampax até dá pra fazer alguma associação, mas O.B.? OBstrução? Ofirício Bloqueado? O Buraco tá fechado? Esquisito, não?

Esse moçoilo deve ter ficado com uma certa inveja se, desavisadamente, fez pesquisas exploratórias com um Tampax super com aplicador. Aquele aplicador é realmente qualquer coisa de... fálico! Mas como é prático e higiênico...

Que os meninos fiquem lá com suas fantasias e que não nos escutem, mas não existe nada de menos excitante ou estimulante do que um absorvente interno. Pensamos em tudo na hora de colocar um deles, menos naquilo. A gente está inchada, irritada, com cólica, dor no seio, dor nas costas, dor de cabeça, vontade de chorar, de comer chocolate, numa posição estranha, num banheiro gelado... Definitivamente, nada pode combinar menos com clima de sedução do que absorvente interno. Nada! Talvez somente se compare em desconforto e constrangimento o exame ginecológico, a ecografia transvaginal e o exame de toque na gravidez. Vamos combinar que o Criador não foi muito camarada com a gente, né?

Resumindo: mini e normal, com e sem abas. Noturno, protetor diário, interno (com suas variações mini, médio e super). Estava bom, não estava? Mas não! Esse mercado consumista queria mais! E agora a gente chega na farmácia e tem de levar um banquinho e uma mesinha para consultar brochuras e poder decidir entre as opções anteriores e ainda: cobertura seca ou suave? Qual é a diferença, céus! Se a cobertura é suave então você não fica seca? E se é seca, então não é suave? O que significa não ser suave? É porque arranha? Sai pra lá!

E isso não é tudo! Tem gotinhas no pacote e o número de gotinhas vai de duas a quatro. Isso quer dizer que eu tenho de comprar um pacotinho de cada e, depois, fazer uma planilha de cálculos de fluxo e de horários pra saber quando passo de um pro outro? E que absurdo é esse de absorvente pra usar com calcinha fio dental? Com e sem abas, diga-se de passagem! Acho particularmente inútil usar absorvente com calcinha fio dental. Pra mim são incompatíveis, e deve ser por isso que nesse tipo de embalagem está escrito Teen. Quer dizer, ainda por cima, estão me chamando de velha!!! O que penso é que com esse tipo de calcinha usa-se logo um absorvente interno, não é? Já que é pra entrar mesmo, então que entre tudo de uma vez, em todos os lugares!

E até na tranquilidade e simplicidade dos absorventes internos acharam um jeito de complicar a coisa. Tinha com e sem aplicador. Agora tem o aplicador extensível. Passei pelo desespero de inutilizar dois absorventes internos antes de conseguir entender o funcionamento deles. E isso só aconteceu depois de ler o manual de instruções que veio na caixinha. Agora imaginem o ridículo da situação: eu estava num banheiro de livraria, tentando usar um absorvente interno para dar conta de uma intrusa que veio antes da hora, de mau humor, numa outra cidade para a qual eu tinha ido numa viagem do tipo bate e volta. Isso quer dizer que tinha rodado a noite inteira, passaria o dia andando na cidade e viajaria novamente a noite toda, ou seja, a perspectiva ou possibilidade de um banho era longínqua. Além disso, tinha todas as sensações ruins de início de menstruação e era obrigada a ler manual de instruções! Tudo bem que eu estava numa livraria mas, ora, faça-me o favor!

Esses dias não achei minha marca preferida com aquele aplicador simples e óbvio. Tive de comprar outra marca. Ao abrir a caixinha, descobri que todos são embaladinhos individualmente com plásticos em alegres e exuberantes cores bem vivas. Pra que isso? Pra disfarçar e parecer balinha dentro da bolsa? Pra combinar com a roupa? Ela será fatalmente preta! Ou será que sou só eu que não confio nem mesmo na eficiência das abas e não arrisco jamais uma roupa clara nesses dias?

Ah não! Nem imagino a possibilidade de retornar às impossíveis toalhinhas higiênicas, mas evolução tem limite. Quero de volta a simplicidade dos tempos intermediários. Já estou a ponto de me sentir minha própria avó e ficar como ela: incomodada. E, ainda por cima, completamente perdida!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Alguém sabe o endereço da TFP?*

Vários motivos me fizeram mudar da área de Exatas para a área de Humanas. Um deles foi, depois de anos trabalhando com Informática e com a idade chegando, estar cansada de substituir conhecimentos. Queria poder acumular sabedoria.

Por exemplo, quando apresentei meu projeto de dissertação de mestrado estava com um barrigão de nove meses de gravidez. O Felipe nasceu quinze dias depois que eu, com aquela pança imensa, assumi o compromisso de fazer um trabalho que gerasse bases de dados estruturadas a partir de documentos semiestruturados escritos em linguagem HTML. Não entenderam nada? Nem gastem seus neurônios tentando entender! Isso já não tem mais validade quase nenhuma uma vez que apresentei o projeto, o Felipe nasceu, fiquei em licença maternidade pela eternidade de quatro meses e, quando voltei a trabalhar, meu tema de pesquisa já estava desatualizado. O hit do momento era linguagem XML e não aquela coisa obsoleta de linguagem HTML. Obviamente eu não dei a menor bola pra isso, empunhei meu chicote de Indiana Jones e, assumindo um ar de arqueóloga de bits e bytes, continuei o trabalho tal como havia previsto no início. Mas confesso que desanimei...

Meus alunos ficavam mais jovens, eu, mais velha, e minha sensação era a de que meus conhecimentos regrediam. A cada vestibular, meus novos pupilos pareciam íntimos de um mundo de temas da Informática que eu ignorava completamente. Era desesperador!

Portanto, ninguém vai estranhar minha alegria quando fiz o primeiro trabalho do curso de Letras. Era uma pesquisa sobre Homero, aquele que escreveu a Ilíada e a Odisséia. Quando terminei o texto e listei as referências bibliográficas que tinha utilizado, fiquei extasiada! Disse ao Vidal:

- Olha só esta lista de referências: tem livros da década de 60! Acredita? Livros mais velhos do que eu! Meus trabalhos no mestrado só referenciavam artigos de, no máximo, três anos de idade. E agora...

Meu surto eufórico foi às alturas:

- ... vai demorar uns trezentos anos pra mudar um acento em uma palavra sequer! O Machado de Assis nunca mais vai escrever nada de novo!! Eu posso ler todos os livros dele. Todos! Todinhos! Vou acrescentar novos conhecimentos aos que já possuía, não vou ter de substituir a cada mês o que eu sabia por coisas que tenho de aprender do zero. Com a passagem do tempo saberei cada vez mais. Dificilmente vou viver de novo o constrangimento de pensar que deveria trocar de lugar com meus alunos e virar aluna deles! Isso não é maravilhoso?

Oito anos depois, só oito anos, não foram oitocentos, muito menos oitenta, de jeito nenhum, oito míseros aninhos depois, vi o português passar por uma reforma ortográfica...

Eu nunca tinha sido capaz de gravar aquelas regras dos hífens... Mas descobri que o que era ruim podia ficar ainda pior, uma vez que, se antes eu sabia pouco, hoje simplesmente não sei nada! Tinha orgulho de conhecer de cor todas as regras de acentuação. Todas! Decorei essas regras ainda na a oitava série, quando comprávamos a um custo de cinquenta centavos as fichas com as famigeradas normas elaboradas pelo Professor Angelino, fichas essas que duravam anos e anos e anos... Hoje... Passo por momentos de dolorida hesitação a cada acento que escrevo...

Porém, apesar do novo acordo ortográfico, senti que nem tudo estava perdido! Fiz uma habilitação em Letras Francês e não Português. Isso quer dizer que jamais serei professora de Português. E, o principal, estou para ver instituição mais conservadora do que a Academia Francesa! Ufa! Desde a época da Maria Antonieta, no mínimo, a grafia do francês é praticamente a mesma! Eles resistem bravamente aos neologismos, aos estrangeirismos, aos modismos e a outros ismos que existem por aí. Nada dessa coisa de ficar mexendo em time que está ganhando! As pessoas mudam o jeito de falar, mas a Academia os ignora solenemente. O resultado é que existem palavras em francês nas quais cinco letras juntas representam um único som, mas tudo bem. É um pesadelo para quem está aprendendo, mas, vejam só, eu já sei! Portanto, além de garantir meu emprego por anos e anos, não tenho de gastar sinapses decorando novas regras. Se Maria Antonieta reencarnasse por aqui, provavelmente não conseguiríamos conversar por causa da diferença de pronúncia, mas eu seria capaz de ler o blog dela sem o menor problema! Que coisa mais civilizada um povo cioso de suas tradições e costumes. Quanta tranquilidade para nós, pobres professores, cujos neurônios estão cansados de serem açoitados sem cessar! Mas...

Há algumas semanas, surfando freneticamente por sites franceses na busca de materiais para minhas aulas, vi uma manchete que despencou como uma guilhotina na minha cabeça: Confira aqui as novas regras de ortografia da língua francesa!

DÁ PRA ACREDITAR?!!!!! Que tipo de perseguição é essa?! Quem é que consegue manter o bom humor numa situação assim?

Eu só não me joguei no chão, arrancando os cabelos, arranhando a face e rasgando as vestes porque, abençoados sejam esses franceses, a tal reforma é só uma recomendação, e apenas para duas mil palavras. Isso quer dizer que eles sugerem uma nova grafia, mas quem quiser continuar usando a antiga, tudo bem! Não podia ser diferente para um povo que, dez anos depois de ter adotado o Euro como nova moeda, ainda continua falando valores das coisas em Francos, recebendo extratos bancários em Francos e indicando os preços dos produtos nas lojas em Francos. Tem gente que ainda fala valores em Francos antigos, os quais deixaram de existir em 1960! Uma moeda anterior àquela que também já não existe mais! Isso até pode ser assunto pra um outro post, mas admito que cheguei a criticar levemente esse apego exagerado dos franceses ao que é tradicional e antigo. Grito a plenos pulmões agora que que retiro o que disse imediatamente! Bendito e santo povo que resiste às inovações!!!

Já que em relação às regras ortográficas tive de abandonar completamente minha euforia inicial nesse novo métier, quanto a Machado de Assis e outros escritores passados desta para melhor... bem... por via das dúvidas, estou evitando centros espíritas. Vai que o Bruxo do Cosme Velho resolve fazer jus ao epíteto e está sussurrando novas aventuras de Capitu em ouvidos mediúnicos por aí. Eu não resistiria a mais esse golpe do destino!

*TFP = Tradição Família e Propriedade. Que pelo menos esses não me decepcionem!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Salta uma carninha cozida e bem temperada

Imagine uma mulher chique. Muito chique. Tipo assim, uma mistura de Jackeline Kennedy, Catherine Deneuve, Princesa Diana e Glorinha Kalil. Agora pegue esta imagem de um ser humano extremamente chique e coloque-a para andar de ônibus ou de carro num trânsito engarrafado sob um calor de 35 graus. Depois de quarenta minutos nesse cenário ela ainda continuará chique? De jeito nenhum! O verão e o calor escaldante simplesmente acabam com a dignidade fashion de qualquer um! Pior, de qualquer uma!!! É por isso que quando olho para fora e vejo que o asfalto tremula sob um sol ofuscante, mesmo que ainda sejam apenas oito horas da manhã, sei que o dia que me aguarda será de extremo mau humor.

É claro que um calorzinho é bom. É ótimo. Maravilhoso! Quando se pode estar de chinelinho de dedo, sob uma palhoça à beira-mar, com um estoque infinito de água de coco gelada ao lado. Mas isso praticamente só acontece em filmes que ando classificando como histórias de ficção terrestre, porque a realidade dos últimos três verões que vivi foi de clima outonal de novembro a fevereiro, que é para não deixar margem de escape, seguido de dias caniculares em março, abril e maio.

Como sou professora e tenho o imenso privilégio de tirar férias junto com as escolas, ganhei com isso o direito de só pagar, em qualquer coisa que se refira a viagens, valores astronômicos, mesmo que tais viagens não sejam nem astrais, nem para uma galáxia distante. Isso, é claro, sem a menor chance de usar as milhas do programa de fidelidade da companhia aérea. De uns anos para cá, para compensar essa mordomia toda, tenho também o benefício de passar frio no verão para depois cozinhar lenta e penosamente quando volto a trabalhar!

Embora eu adore minha cidade, tenho de reconhecer que Curitiba não é um lugar para passar o verão. A umidade do ar envolve e sufoca a gente como se estivéssemos enrolados num edredon de penas, e vento, que é bom, quase nunca passa por aqui, o que significa que estamos sujeitos a viver uma cena de romance a cada vez que botamos o nariz para fora de casa. Tal qual o carinha do mal do filme Matrix, que morria aqui para reaparecer ali em outra pessoa, cada ser humano que caminha pelas ruas nessa caldeira em que vivemos ultimamente pode, de um momento a outro, encarnar o personagem Meursault, do livro O Estrangeiro, de Albert Camus, que cometeu um assassinato como consequência da confusão mental causada pelo calor extremo. Em outras palavras, despirocou, viajou na maionese, pirou na batatinha!

O calor não é civilizador! Entro embaixo do chuveiro porque estou me sentindo imunda de tanto transpirar. Também, quem manda fazer exercícios pesados, andando dez minutos pela casa recolhendo os brinquedos que as crianças deixaram jogados? Ainda mais num horário de calor abrasador como acontece às 8h30 da manhã... Quinze minutos de atividade e já estou melada, pegajosa, grudenta e preciso de um banho, o primeiro do dia. Largo num canto qualquer o peso na consciência por estar gastando tanta água, ou levo o maldito comigo para baixo do chuveiro, afinal, está tão asqueroso quanto eu. Saio do banho, me enxugo e começo a verter água por todos os poros imediatamente. Secar o cabelo é inútil. Deixar molhado me deixa ignóbil. Passar maquiagem? Perda de tempo! A cara está lavada e lavada ficará, primeiro de água, depois de suor. Quase explodi de rir quando li em alguma revista feminina o seguinte conselho: leve um pó compacto na bolsa para evitar que a maquiagem escorra com o suor provocado pelo calor. Fiquei imaginando a aparência de tal criatura no fim de um dia de verão como os das últimas semanas: faria o papel d’A Coisa sem qualquer truque ou efeito especial!

Verão não rima com elegância e fim de papo! A gente toma água sem parar, água esta que virará suor ou xixi em abundância, e então se abana, se assopra, resfolega, derrete, desmaia por causa da pressão baixa, à noite não consegue dormir, de dia não consegue respirar!

Estou preparando para mim mesma uma coroa de louros. Mas não é por nenhum feito nobre, não. É para fazer par com o colar de salsinha, as pulseiras de orégano e os brincos de pimenta que pretendo usar enquanto durar esse inferno! Passei os últimos dias alternando as seguintes sensações: ou me sentia cozinhando, ou fritando ou assando. Com a crosta de sal que tenho sobre meu corpo depois de menos de duas horas de um dia de verão, quero ver se com esse tempero todo eu consigo chegar ao fim do dia, se não elegante, pelo menos, gostosa!


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sexta-feira, 6 de março de 2009

Um estilingue, por favor!

Anteontem, coisa rara, consegui assistir à televisão e revi um episódio daquela série Os Normais. Adorava esse programa! Reconheço que gosto bastante das coisas que a Fernanda Young escreve, ela que é uma das roteiristas. Já vê-la ao vivo... Não faz parte das minhas maiores diversões...

Só que sou obrigada a admitir, muito a contragosto, que identifico algumas semelhanças entre nós. Sei que ela tem um programa na TV chamado Irritando Fernanda Young ao qual assisti uma vez. Pois é, eu também tenho lá minhas ranzinzisses.

Anteontem, especialmente, me reconheci na cena inicial do episódio, quando a Vani acorda super mal-humorada por causa dos passarinhos que cantam na sua janela. A mesma cena foi repetida com a Fernanda Young no comercial que anunciava a nova temporada do seu programa. Confesso: passarinhos cantando na madrugada me irritam profundamente! Se, por acaso, eu acordo no meio da noite e ouço passarinhos sinto a lava de um vulcão prestes a explodir que se move pelas minhas entranhas!

Como é que esses bichos conseguem sobreviver e pior, com seus piados ao alcance dos meus ouvidos, se, quando abro minha janela, para todos os lados que olho só vejo edifícios? Eu não vou lá soltar baforadas de gás-carbônico na floresta deles. Por que é que eles se acham no direito de invadir minha selva de pedra e cantar alegremente às quatro da manhã? Apesar da escova progressiva, chapinha, prótese de silicone, plástica de correção do músculo da pálpebra, e cauterização de uma berruga na ponta do nariz (ninguém merece!) sou tão natural quando eles, portanto, essa terra me pertence também! Vamos respeitar os espaços, caramba!

O que mais me intriga é que, apesar de eu ser incapaz de reconhecer a marca dos passarinhos pelo seu canto, percebo que eles têm escala horária para soltar o gogó. Tem o canto das 3h30 da madrugada, o das 4h30 e o das 5h30. E, sapientíssimas aves, eles respeitam o horário de verão, adiantando e atrasando a cantoria de acordo com o horário oficial de Brasília! Isso significa que tenho sessões corridas de arrulhos que podem ser muito românticos num cenário de filme bucólico ou CD de meditação, só que esses dois eu posso desligar quando quiser, já os penosos, NÃO! Sou obrigada a ficar ali ouvido aquela coisinha que me lembra que a droga do despertador vai tocar, esse sim, bem dentro do meu ouvido e ao alcance das minhas mãos. E, embora eu até possa jogar o despertador na parede, coisa que não posso fazer com as avezinhas, sei que terei de obedecê-lo e sair da minha cama sem poder dar umas pedradas nesses bichos bicudos que estragaram mais uma preciosa noite de sono! E, ainda por cima, quem ficará bicuda sou eu!

Estou inaugurando mais uma seção por aqui, ou seja, a das coisas que me deixam de mau humor. A partir de hoje vocês conhecerão meu lado negro! Pelo menos, depois deste post, não corro o risco de ser convidada por algum amigo para passar uma temporada no campo. Aliás, campo? Natureza, mosquito, cocô de bicho e água fria? Nem pensar!

Só espero que meus inimigos continuem distantes deste blog...

Agora tentarei dormir na calma e na paz do murmúrio dos motores dos ônibus biarticulados e das buzinas dos carros, já que os passarinhos, esses safados, se calam durante do dia! Humpf!

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