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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Prisão perpétua


Professor só tem dois destinos possíveis: enquanto está aqui na Terra é a cadeia. Depois que bater com as dez é o inferno. Simples assim. Entre os adjetivos que podemos e devemos usar para qualificar um professor estão: ladrão, contrabandista, falsário, gatuno, larápio, safado. Em resumo, professor é tudo bandido. E ponto final.

Eu arriscaria estender essa minha definição a todo e qualquer professor, mas, como eu mesma sou professora, portanto, carrego comigo todos os adjetivos citados acima e não quero aumentar minhas penas com acusações de injúria, calúnia, difamação, danos morais e blá, blá, blá, vou restringir meus comentários aos professores de língua estrangeira.

(Mas lá no fundo o que vou dizer serve pra TODOS os mestres que se esgueiram criminosamente pelo mundo, tenho certeza!)

Retomando, professor de língua estrangeira é tudo bandido. A gente faz fotocópia não autorizada de livro, jornal, revista; baixamos clipes de música da internet; copiamos discos e filmes de todo gênero; usamos imagens de Deus e o mundo sem pedir licença; mandamos vir ou trazemos, nós mesmos, DVDs de outros países dos quais vamos quebrar o mecanismo de regiões que impedem que os filmes sejam exibidos aqui, ou desbloquearemos o aparelho de DVD!

Não há um só dia, uma só aula, em que eu não infrinja alguma lei de direito autoral e, ouso arriscar, imagino que o mesmo acontece com meus colegas de profissão, seja em que sala dessa Torre de Babel repleta de meliantes eles estiverem.

O mais engraçado é que não lucramos com o fruto de nossas más ações, ao contrário, pagamos por ele, literalmente, isto é, usamos o nosso vil metal! Pagamos as cópias, compramos os DVDs virgens ou não, gastamos nosso tempo, dinheiro, além de horas e horas da banda larga da nossa internet (sem falar nas horas de sono que prodigalizamos nessas tarefas).

Assim foi, assim é e assim será cada vez mais.

Se a polícia decidisse botar escuta num centro de línguas qualquer poderia ouvir coisas como:

- Aí brother, tô com uma lista novinha de filmes pra trabalhar os tempos do passado. Vai um aí?

- Opa, mec, demorô! Passa o bagulho pra cá! Madona mia! Grazie!

- Hombre, como tu é um profe manero, vou liberá isso aqui pra ti também. Tiens!

- Ach ja. Mas é aquela música que a gente usa pra trabalhar negação! Do cholery! Eu tava atrás disso há um tempão. Como é que tu conseguiu?

- Easy! Fiz uma conta com endereço no estrangeiro e comprei um vale presente pra mim mesmo, daí consegui usar o vale presente pra baixar o MP3 da música e também uns e-books de autores contemporâneos.

- Trop cool, aê!

- Pra semana que vem vou dar um jeito de baixar uns documentários daquele canal de TV com restrição de visualização em outro país e te aviso.

- Ça marche, cabron!

E os policiais nem vão precisar de intérprete. Mas, se precisarem, vão ter vários à disposição no xilindró porque o resultado dessa blitz vai ser superpopulação de professor em cana.

O que eu acho mesmo é que devia aparecer alguém com coragem suficiente pra fazer uma espécie de “quebra de patente” do mesmo jeito que fizeram com os medicamentos uma vez: simplesmente acabar com essa história de direito autoral pra uso educacional de bens culturais. Livro, foto, revista, filme, comercial, música, clipe, DVD, etc., etc., etc. Se é pra usar em sala de aula, pra educação, então não tem essa de direito autoral. Usa-se e pronto. No todo, em parte, cortado, editado, de qualquer jeito.

Tem trabalhos maravilhosos que poderiam ser feitos em sala de aula e que não são porque há restrição de uso, ou ficaria tão caro pagar esses direitos que a atividade é inviável. Quer dizer, muitos não são feitos, mas outros acontecem simplesmente porque os professores ignoram solenemente a lei, os perigos, as sanções: no submundo dos educadores, principalmente aqueles em fase terminal de dependência pedagógica profunda, não há lei, ameaça de castigo terreno ou celeste que os impeça de fazer o que for necessário, sem maiores escrúpulos. A dependência é severa mesmo e a gente faz qualquer coisa pra ver surgir no olho do aluno aquele brilho, seguido de um Ahhhhhh!, indicativo de que ele entendeu e aprendeu alguma coisa!

E então? Quem se habilita a comandar essa cruzada? Ressuscitemos a Princesa Isabel e vamos abolir as leis de direito autoral sobre o uso educacional de seja lá o que for. Acordemos o Newton pra ele calcular a força gravitacional do peso a diminuir sobre as consciências dos professores. Eles continuarão carregando o peso dos livros e dos diversos materiais que levam para sala de aula. Se der pra diminuir o peso da condenação terrena ou divina já seria bom demais.

O paraíso mesmo seria fazer vir do mundo dos vivos ou mortos um filósofo e um químico que, trabalhando em interdisciplinaridade, transformassem todo o peso da culpa em ouro porque, em termos de salário, nem mesmo Newton mostraria que há planeta no universo em que a lei da gravidade faça com que o peso de quase nada fique muito maior que zero. Seja na matemática de Einstein ou dos salários, multiplicação por zero, continua dando zero, não tem jeito!

Isso quer dizer que nós, pobres professores, e pobre aqui deve ser entendido no sentido literal que conheceram Camões ou Machado de Assis, não teremos nem o suficiente para pagar a fiança. E, se tivéssemos, desconfio que gastaríamos tudo em contrabando de lápis, caderno e giz para dentro das prisões a fim de dar aula para os outros detentos.

Uma vez que a gente entra pro mundo do crime, não consegue (nem quer) sair mais!


1º colocado da categoria Funcionário no concurso Revele seus outros talentos, edição 2014, PUCPR



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Legislação e religião não se misturam!


O momento é tenso, mas estou profundamente orgulhosa do que vem acontecendo. Obviamente repudio totalmente o vandalismo e a violência, mas eles são a menor parte dos que estão saindo às ruas para protestar contra TUDO o que está nos deixando indignados. Amanhã, eu mesma estarei presente na rua, engrossando a massa dos descontentes.

Aproveitando o embalo, decidi pôr em prática uma ideia que tive há algumas semanas, quando mais um grão dessa indignação que me fará ir para as ruas amanhã veio se juntar à montanha sobre a qual eu já vivia. Tudo por conta da eleição daquele deputado (cujo nome me abstenho de mencionar para evitar ainda mais publicidade) para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Ontem ele começou a mostrar exatamente a que veio, nenhuma novidade nisso! A novidade, para mim, é que acredito que ele e a bancada à qual pertence não vão ter a força que acreditam que têm para fazer passar leis que dizem respeito às crenças deles. Pelo menos, isso não acontecerá sem MUITA discussão.

Cada um tem o direito de ter suas próprias convicções religiosas. Vivemos num país livre, graças a todos os deuses de todas as religiões! Só que ninguém tem o direito de querer impor suas próprias convicções a todos os brasileiros. Ninguém! Qualquer um pode, intimamente, pensar o que quiser sobre temas como aborto e homossexualidade, para ficarmos só nos mais recentes. Mas as leis são para TODOS, independente de crença.

Então, você pode concordar com a proposta desse absurdo que está ficando conhecido como "cura gay", mas isso não pode ser imposto a toda a população! Se esse projeto for aprovado, abrirá as portas para que outras leis baseadas em crenças religiosas sejam também aprovadas o que é um verdadeiro absurdo!

Para mostrar o ponto a que podemos chegar se permitirmos que a religião paute a proposta de leis, imaginei quatro situações bizarras e criei imagens para representá-las. Vou divulgar aqui e no Facebook. Espero que outros, tão indignados quanto eu, comprem a ideia e que ela se dissemine e se torne realmente um movimento por um país laico.

Eu tenho minhas crenças. Elas são as minhas leis pessoais. Só minhas e de quem mais pensa como eu. Já as leis do Congresso são para todos e nenhum deus tem nada a ver com isso!









quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Hein?

O quê? Estou de volta?! Uhuuu!!!

A vontade de continuar o blog sempre foi imensa, desde que ele foi abandonado. E agora não sei se é uma volta mesmo, ou só um último suspiro antes de morrer, mas hoje, fazendo nada pela Internet, revi um vídeo que foi dos mais legais que assisti esse ano e decidi publicar aqui uma crônica que escrevi alguns meses atrás.

No primeiro semestre participei de uma Oficina de Análise e Criação Literária de Crônicas, sob a orientação da Mônica Berger e o resultado foi que escrevi algumas... crônicas! :-) Aos pouquinhos vou soltando os textos por aqui...

O primeiro que decidi compartilhar tem relação com esse vídeo do Youtube.

O vídeo mostra um pedido de casamento e é o exemplo perfeito do que eu acho que NÃO se deve fazer, mas, vejam que contradição, não consigo assistir sem me emocionar às lágrimas a cada vez. É porque ali naquela elaboração toda estão os amigos, a família, de perto e de longe, e eu senti simplicidade e sentimento verdadeiro naquelas pessoas. Sei lá! Gostei e pronto!

Talvez esses exageros de vez em quando façam bem, só não podem se tornar a regra! Por isso divulgo o vídeo, mas ao mesmo tempo o que penso dessas "super produções", especialmente ligadas a pedidos de casamento (imagine o que o cara vai ter de aprontar para as bodas que virão pela frente: papel, plástico, platina, prata, ouro!!!).

Quem quiser ver o vídeo clique aqui.

Meu humilde texto, pra não acabar o ano (e quem sabe o mundo!) sem dizer minhas últimas palavras, vai na sequência.

É longo, claro! Como os textos de blog NÃO devem ser.
Mas não estamos falando em contradições?

Hein?


Há alguns anos fiz um curso de fonética e aprendi que a onda sonora vibra num contínuo de frequências, da mais baixa à mais alta, mas o ouvido humano só consegue reconhecer os sons que vibram numa frequência intermediária. Imaginando um bolo de chocolate recheado por uma grossa camada de doce de leite é como se a gente não percebesse a massa nem cima nem embaixo e sentisse o gosto só do recheio.

Quando alguém fica exposto a sons muito fortes por muito tempo, seja por trabalhar num local barulhento ou por ouvir música muito alta com fones de ouvido, por exemplo, o cérebro, para se proteger, começa a ignorar as frequências mais baixas, gerando uma espécie de surdez para os sons suaves. Isso quer dizer que, quanto mais tempo exposto a essa situação, mais surda para os sons baixos a pessoa vai ficando. Não é que o ouvido deixe de ouvir, é o cérebro que deixa de registrar, o que significa que só sons muito fortes, cada vez mais fortes, serão reconhecidos, o resto será ignorado. Como o limite superior não muda, dá pra imaginar um recheio cada vez mais magrinho naquele bolo.

Tá, e daí? Deve ser a pergunta que ronda sua cabeça enquanto lê essas bobagens. Daí que eu acho que estamos vivendo uma época de perigosa surdez emocional.

Pra que algum acontecimento nos emocione ele tem que ser cada vez mais espetacular, grandioso, exagerado. Estamos tão expostos às mudanças vertiginosas de tecnologias e de possibilidades, estamos tão habituados a ver limites sendo ultrapassados, que coisas absolutamente impressionantes há pouquíssimo tempo já não nos causam qualquer sensação. Mas como precisamos muito de sensações e emoções andamos à caça delas onde estiverem, daí as montanhas russas cada vez mais rápidas e violentas, os filmes cada vez menos enredo e mais efeitos especiais, os shows cada vez mais palco e menos artistas e assim por diante, até chegar às drogas cada vez mais devastadoras e capazes de dependência praticamente instantânea.

Tenho observado muitas situações de exemplo dessa espécie de anestesia emocional mas, como isso é uma crônica e não um romance épico em sete volumes, vou me restringir a comentar somente duas.
Um tempo atrás descobriram que um apresentador de programa de reportagens policiais em Manaus estava encomendando assassinatos. Dessa forma, a equipe dele era sempre a primeira a chegar ao local do crime e pegava imagens do presunto ainda fresquinho.

Por que ele chegou a esse verdadeiro absurdo inqualificável? Provavelmente porque tinha atingido todos os níveis possíveis para provocar emoção nos telespectadores que mostravam sinais de fastio com as reportagens normais, dos crimes normais que acabaram se tornando banais. Os números do IBOPE simplesmente não subiam, ou pior, desciam! Telespectadores infiéis estavam indo buscar emoção em programas novos, só porque eram novos, talvez.

O segundo exemplo é bem menos trágico, mas aconteceu comigo. Eu estava assistindo à apresentação de um circo de ciganos. Em um dado momento uma moça enrolou as pernas em longas tiras de tecido que pendiam do alto e se soltou parando um pouco antes de chegar ao chão, sem usar as mãos. Eu sei, todo mundo já viu isso dezenas de vezes na TV desde que os acrobatas do Cirque du Soleil inventaram esse número há... sei lá... milênios? Séculos? Não?! Pouco mais de uma década? Poxa, são mais de dez anos! Uma eternidade! Como muita gente, também sufoquei um bocejo e pensei: “Ai, de novo isso? Que tédio!”. E foi então que um raio de luz caiu sobre mim e provocou uma verdadeira epifania:

COMO ASSIM, QUE TÉDIO?!

Uma pessoa se enrola em panos pendurados a metros de altura, sem nada mais que a segure a não ser os músculos das coxas, larga-se em queda livre de cabeça para baixo e para a centímetros do chão! Tudo isso diante dos meus olhos e só o que eu penso é: “Outra vez? Que tédio?” Esse é um exemplo típico de surdez, cegueira ou anestesia emocional.

Precisamos de mais, sempre mais. O fabuloso já não nos satisfaz, os limites do fantástico precisam ser constantemente quebrados e a uma velocidade cada vez maior. Só que a emoção dura cada vez menos porque logo é substituída por outra ainda mais forte. E nós, com essa música enfiada nas nossas orelhas, precisamos de estrondos cada vez mais altos. Estamos ficando surdos para músicas, nem digo suaves, digo mesmo normais, ou que eram normais até pouquíssimo tempo.

O susto que tive com minha própria anestesia emocional me levou no dia seguinte a parar alguns minutos para me extasiar com a refeição matinal que faria, composta de uma xícara de café com leite e uma fatia de pão com manteiga.

Fiquei perplexa diante daquela verdadeira maravilha das conquistas! Eu tinha diante de mim séculos de evolução, de descobertas, de uso da inteligência, de raciocínios lógicos, de tentativas frustradas e de lampejos geniais que foram se acumulando ao longo do tempo. Foi preciso perceber que a frutinha do café devia secar, para depois ser torrada, moída, o pó filtrado em água quente, então adicionado ao leite e, em alguns casos, ainda se coloca um pouco de açúcar, que vem de um caule, que é espremido para gerar um suco que é processado a fim de obter aquele pó. Para o pão foi necessário encontrar a planta do trigo em certa quantidade, ver que aquelas sementinhas tinham de sair de dentro de um invólucro de palha que pinica, depois tinham de ser moídas para virar farinha. Foi fundamental ainda compreender que isso devia ser misturado à água, ao fermento (que descoberta genial!), ao sal (porque alguém observou o mar e entendeu como recolhê-lo em quantidade) e que a massa precisava do calor de um forno (fogo já era dominado, nem falemos disso). Para acabar, algum gênio descobriu que aquele leite que saía das vaquinhas podia ser separado em gordura e líquido e que essa gordura, batida, se transformava em manteiga.

Café com leite e pão com manteiga! Que coisa mais extraordinária! Que grande conquista da humanidade, quanto saber acumulado diante dos meus olhos todas as manhãs e absolutamente ignorado por mim e pelo meu tédio emocional!

Isso porque nem parei pra pensar no resto: xícara, garfo, faca, mesa, cadeira, forno de microondas, etc., etc., etc.

Estamos cercados de maravilhas e simplesmente as ignoramos diariamente numa busca ansiosa pelo novo, pelo estupendo, pelo sensacional, pelo nunca antes visto. Só que o nunca antes visto pode estar na frente, ao redor, em cima e embaixo de nós mesmos o tempo todo. O que não temos mais é cérebro para ver, nem para reconhecer isso. Estamos ficando surdos e cegos, morreremos de fome emocional diante de um banquete para centenas de talheres posto bem na frente dos nossos narizes e olhos insensíveis.

Como tudo, há o lado bom e o lado ruim disso. Ser eternamente insatisfeito e incompleto foi o que trouxe a humanidade até aqui. É preciso continuar assim, querendo mais. Só que, diante de algumas situações que tenho observado, acho que estamos precisando dar uma paradinha nessa ciranda pra contemplar um pouco, ou novamente, aquilo que já temos, para saborear vagarosamente as emoções, dando o tempo necessário para que nosso cérebro as registre. O sinal de alerta deve ser o primeiro bocejo diante de algo que deveria nos causar um sentimento qualquer e que já não causa mais.

Deixar de cuidar disso pode nos levar a um estado de ausência de sentidos: cegos, surdos, sem condições de sentir o gosto, o cheiro ou o toque das emoções que nos rondam sem cessar. As espetaculares são importantes. Demais! Vamos reservá-las para ocasiões especiais e raras, como antes tínhamos a roupa de domingo.

Eu não sei você, mas adoro doce de leite e quero que o recheio do meu bolo seja sempre o mais espesso possível! Uma festa para os olhos, o nariz, o toque, a boca e os ouvidos: Hummmmmmmmm!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

RRRRRRRRRRR!!!

Cuidado! Tem um bicho muito feio rosnando aí em frente e é bom que a gente faça alguma coisa para acalmá-lo senão a coisa vai ficar feia pro nosso lado! Não é de hoje que o assunto me preocupa. Muito! E, para acalmar os ânimos da criatura, basta que a gente se inspire no seu próprio rosnado e povoe a cabeça com dezenas de Rs a cada dia. É preciso Reciclar, Reutilizar, Reinventar, Revitalizar, Reduzir e tudo o mais que comece com R e que possa Recuperar o mundo em que vivemos.

Se a gente se concentrar nesses Rs, pode ser que não seja roído pelo monstro assustador, que foi criado por nós mesmos, é preciso reconhecer.

Assim, que venham os Revolucionários, que mudarão a maneira de produzir para acabar com as agressões ao meio ambiente. Que pululem os Racionais, que repensarão sua maneira de consumir, evitando excesso desnecessários. Que entrem em cena os Resistentes, que encontrarão formas de reduzir a quantidade absurda de embalagens de todos os tipos que nos sufoca. O homem, como ser espertinho que é, saberá dar conta do recado, tenho certeza disso. Alguém que foi capaz de atingir conquistas tão espetaculares, saberá encontrar o rumo para arranjar a rebuliço que algumas dessas conquistas acarretaram.

Inspirados na própria natureza, nós, humanos, encontraremos o caminho para sair da enrascada em que já estamos e, de quebra, nos resguardarmos daquela que se anuncia para breve.

Tem os que agirão em grande escala, como um terremoto, que abalará as estruturas e que causará grandes e repentinas mudanças. Tem aqueles que agirão em área mais restrita, embora não com menos força, como uma longa temporada de chuvas e raios que mudará forçosamente o terreno pelas destruições de velhos padrões, pela chamada à consciência, por mostrar continuamente novos caminhos para antigos hábitos. E tem aqueles que agirão como formiguinhas, em atitudes minúsculas, às vezes risíveis, mas que, no conjunto, levarão a grandes resultados.

É assim que governos determinarão leis, empresas criarão conceitos, pessoas agirão silenciosamente. No final, todos reunidos, na medida de suas forças e possibilidades, evitarão a catástrofe há muito anunciada da morte do nosso planeta, e da gente junto, de carona nesse melancólico fim.

Eu pertenço humildemente ao grupo das formiguinhas. E fico ali, com meu tamanho ínfimo, apoiando instituições que acredito que podem fazer mais do que eu. Além disso, faço o que posso no miudinho, evitando sacolas plásticas, procurando maneiras diferentes de embalar presentes, deixando de lado, sempre que possível, tudo o que é descartável, mandando arrumar equipamentos no lugar de comprar novos e encontrando maneiras de reciclar e reutilizar mateiriais.

Foi por isso que aderi ao projeto da Ecochoice, uma loja virtual que promove e vende itens em cuja fabricação haja preocupação com o meio ambiente, seja lá em que sentido for (reciclagem, produção sutentável e tantas outras iniciativas).

Tem umas coisinhas que eu fiz à venda por lá, embora vender coisas não seja meu objetivo. Sou tão boa vendedora que seria incapaz de vender água no deserto! Mas estou com um sério problema...

Desde o ano passado comecei a pintar as latas de produtos que eu uso e que iriam para o lixo. Fiz isso para evitar mais detritos nos aterros sanitários, para reduzir a compra de objetos para minha própria casa (porta lápis, porta escova de dentes, porta óleo de cozinha, porta tesouras e tantos outros materiais) e também para dar de presente à família e aos amigos evitando, assim, comprar mais presentes xing-ling, os quais vêm embalados em vários plásticos e papeis que acabarão no lixo, sem contar o papel de presente, lacinhos, etc. e tal.

Depois de um ano, o drama: as latas vazias continuaram dando cria, já distribuí latinhas decoradas pela casa toda, já presenteei todo mundo, acho que tem muito pouca gente que ficou sem ganhar latinhas no ano que passou! E mais latinhas saem do meu cafofo, e vão ocupando espaço em casa. Eu não podia, por motivos óbvios, mandá-las para o lixo (modéstia à parte, elas são bem simpáticas). Além das latinhas, faço descansos de mesa com tampinhas de garrafa, pinto caixotes de frutas pra guardar livros, faço guirlandas com restos de tecido, só que essas coisas ainda não estão entulhando a minha casa. Por enquanto, a invasão de gremlins é só das latas mesmo...

Então, anuncio aqui que de tempos em tempos oferecerei peças customizadas por mim na Ecochoice! Eu fiz uma escolha que é a mesma dos criadores da loja. Uma escolha pela continuidade da vida nesse planeta o mais próximo possível de como encontramos a natureza quando chegamos por aqui.

E você? Qual é a sua escolha?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Olho por olho...

Temos de reconhecer: às vezes, os vizinhos não se dão muito bem. Estão aí judeus e palestinos que não me deixam mentir. É claro que a coisa não precisa chegar àquele extremo, mas tem situações em que não tem política da boa vizinhança que resolva!

Eu mesma já tive meus percalços com vizinhos chatos e cheguei ao ponto de ter de mudar de prédio pra evitar as reclamações de um ranzinza do andar de cima. Uma das minhas primas foi obrigada a vender o excelente apartamento que tinha comprado só pra se ver livre dos pitis histéricos de um morador que reclamava do barulho que eles faziam. Ela chegou a ensinar o filho adolescente a fazer xixi sentado porque o tal reclamava do barulho do xixi do menino, dá pra acreditar?

Há algum tempo fiquei conhecendo os tormentos de uma amiga, cujo vizinho tinha a casa em obras há oito anos, obras essas que já tinham provocado dois incêndios e um alagamento na casa dela. Depois de anos de brigas sem fim ela adotou a postura conhecida como os incomodados que se retirem, desistiu e comprou outro lugar para morar, mas teve de aguardar até que o novo local ficasse pronto, sempre convivendo com o canteiro de obras do gênero o inferno mora ao lado.

Quando alguém vive uma situação semelhante e tem de esperar até poder se mudar, o que fazer para sobreviver sem surtar até chegar o dia da libertação?

Eu concordo totalmente com o ditado que diz: se você não pode com ele, junte-se a ele. No caso da minha amiga ela tinha tentado todos os meios diplomáticos e legais. Nada resolveu. Numa situação dessas, para não viver só o lado ruim de uma convivência forçada, minha sugestão foi a de encontrar formas criativas de passar o tempo, no melhor estilo junte-se a ele.

Não sei em que pé está o imbroglio da minha amiga, mas caso você, dileto bleitor, esteja passando por situação semelhante, pode aproveitar as dicas que andei caraminholando. Aqui vai minha singela contribuição na forma de um Manual de Sobrevivência Para Quando Seu Vizinho Atormentar Sua Vida. São muitas as atitudes possíveis, vejam só...

Costure um monte de bonequinhos e espete agulhas e/ou pregos por todo corpo. Degole alguns, enforque outros, depois pendure todos eles dentro da sua própria casa, mas em um lugar que seja bem visível pelo sociável vizinho.

Faça uma maquiagem pálida, pinte olheiras, vista roupas pretas por um mês seguido, ouça somente música do compositor alemão Wagner (a Cavalgada das Valquírias é ótima!) e dê um jeito de, quando encontrá-lo, estar com um olhar perdido ou então esbugalhado. Se puder andar segurando um facão de açougueiro, melhor ainda!

Mude seus hábitos alimentares! Adote uma dieta que contenha, no café da manhã, um cozido preparado à base de músculo, bucho, rins, fígado, couve-flor, brócolis e repolho. Prepare o prato todos os dias sempre às 6h da manhã. O ideal é colocar a panela para cozinhar do lado de fora da sua casa na sacada ou área de serviço, um lugar qualquer que seja bem próximo da casa do seu amado vizinho.

Depois que fizer o cozido por vários dias seguidos, assim que cruzar com ele dê uma gargalhada súbita e então comece a falar o seguinte: Hã? O quê? Jack? É você, Jack? Cortar em quantos pedaços? No cozido? Sei... e lance ao seu vizinho um olhar de alto a baixo, cheio de significados.

É hora de abraçar de corpo e alma o sincretismo religioso! Programe encontros na sua casa, não se esquecendo de encerrá-los impreterivelmente às 22h. Nem um minuto antes, nem um minuto depois. A programação da semana poderia ser a seguinte: segunda-feira, umbanda. Terça-feira, um grupo carismático de carpideiras. Quarta-feira, aquele pessoal gente boa dos Hare Krishna. Quinta-feira, ensaio de grupo Gospel sertanejo. Sexta-feira será a noite do exorcismo ou das bruxas, quando sua casa abrirá as portas aos amigos e, vestidos de túnicas, vocês cantarão músicas em línguas estranhas e dançarão ao redor de um caldeirão. Não se esqueça de providenciar o indispensável equipamento de som bem potente.

Fique de olho na meteorologia. A cada vez que acontecer uma tempestade, bata portas e janelas, arraste correntes e arranje um CD de uivos e gemidos.

Falando em gemidos, muito provavelmente as coisas não estarão muito animadas na sua casa por causa das desgastantes brigas. Então, o negócio é improvisar! Alugue uns filmes pornôs e ligue bem alto na madrugada. Daí, bata a cadeira na parede divisória entre as casas no ritmo dos gemidos do filme. Portanto, Ah! Ah! Ah! Ahnnnnnnnn!!! serão acompanhados de Pum! Pum! Pum! Papapapapapa!!! De preferência, repita a operação a cada duas horas. No dia seguinte, quando encontrar seu vizinho, assim como quem não quer nada, exiba umas vinte caixas camisinhas e outras tantas de Viagra, dando um sorrisinho safado e dizendo: Hoje a coisa vai ser quente de verdade!

Aproveite para colocar em prática seu espírito solidário: ofereça-se para cuidar de bebês recém-nascidos que sofram de refluxo gástrico ou que estejam naquela fase das cólicas que fazem as crianças chorarem ininterruptamente por horas seguidas, principalmente na madrugada. Tenho certeza de que você facilmente dará conta de cinco crianças ou mais!

Esse será a hora perfeita para colocar em prática o plano tão acalentado, mas sempre adiado, de levar uma vida saudável! Portanto, dedique um tempo aos exercícios físicos. Providencie música de academia e contrate um personal trainer super animado que, equipado de um megafone, comande a sessão saúde com gritos de estímulo: Vamos lá! 1, 2, 3, 4! Força aí! Mais uma vez! 1, 2, 3, 4! Muito bom! Os exercícios serão praticados durante duas horas, sempre a partir das 8h da manhã em todos os sábados, domingos e feriados.

Deixe a música entrar na sua vida e também na do seu vizinho. Observe seus hábitos musicais e, generosamente, ouça aquilo que ele NÃO ouve, afinal, conhecer coisas novas é sempre bom. Escute suas músicas durante horas, se possível repetindo dez a quinze vezes seguidas a mesma canção. Pode ser pagode, techno, funk, música étnica, tipo chinesa, japonesa, indiana ou alemã, sertanejo, Kelly Key, Bonde do Tigrão ou, melhor ainda, uma seleção dos anos 70 composta de Jane e Herondy, Kátia, Márcio Greick, Nelson Ned e Odair José. Desde que seja das oito da manhã às vinte e duas horas sem parar, em repetições ininterruptas.

Compre uma telha de zinco e posicione-a embaixo de uma torneira que você deixará pingando durante toda a madrugada, numa área que se possa escutar da casa do seu amigável vizinho. Recolha toda a água em um balde e use para o cozido depois. Não dá pra desperdiçar água potável, não é mesmo?

Adote uma ou mais dessas medidas. Certamente não vai resolver de jeito nenhum o problema com o mala do seu vizinho, mas garanto que você vai se divertir demais! E é o povo quem diz que água mole em pedra dura... Pode ser que um dia você acabe ficando famoso por ter ido parar naquele quadro do Fantástico, O Conciliador. Todo mundo sabe que a esperança é a última que morre, não é? Depois, até mesmo, do seu vizinho!

domingo, 7 de março de 2010

40 pensamentos em 40 anos de vida

Ano passado entrei para um grupinho do qual não sairei mais. E, se sair, vai ser num estado tão lastimável que é melhor nem desejar isso. Agora faço parte oficialmente do grupinho dos enta. Aqueles que têm quarenta, cinquenta, sessenta anos... Pra sair dele, só depois de apagar cem velinhas e acho que não terei fôlego pra tanto.

Fazer quarenta anos é pra ser um marco na vida, não? Algumas idades têm esse poder: quinze, dezoito, vinte e um e, a partir daí, as idades redondas como trinta, quarenta, e por aí vai. Eu confesso que estou gostando de ter essa idade redondinha, embora não esteja gostando muito do fato de estar redondinha, mas essa é uma outra história.

Acho que sou uma pessoa melhor aos quarenta do que aos trinta. E infinitamente melhor do que aos vinte. Claro que estou falando da cabeça, mais especificamente do conteúdo dessa cabeça, é evidente!

Há alguns meses recebi um desses emails que circulam por aí com uma lista de lições que uma mulher aprendeu da vida. O email dizia que ela tinha noventa anos, mas pesquisando na internet descobri que ela tem cinquenta, e que escreveu a lista pela primeira vez aos quarenta. Depois foi acrescentando novos itens na medida em que foi ficando mais velha, mas está ainda loooonge dos noventa! Isso me fez pensar que as pessoas imaginam que é necessário chegar ao fim da vida pra ganhar sabedoria. Boa notícia: dá pra ganhar antes! E melhor ainda, quanto mais o tempo passa, mas espertinhos vamos ficando, desde que estejamos dispostos a tomar uns remédios amargos por aí...

Pois bem. Achei interessante a ideia da Regina Brett e decidi criar minha própria listinha com quarenta coisas que aprendi nesses quarenta anos (muito bem) vividos. Não fui mais ler a lista dela para não me influenciar (tinha muita coisa legal ali). Simplesmente fui listando pra mim mesma o que considero que sejam lições aprendidas e internalizadas, gravadas a ferro e fogo sem chance de serem esquecidas. Divido aqui com vocês esses meus pensamentos soltos.

Só peço uma coisinha: se alguém decidir passar por email por aí vai me deixar imensamente feliz, mas por favor não mudem (ainda) minha idade pra noventa, tá? Prefiro chegar aos noventa depois de passar por mais cinquenta anos inteirinhos! :-)

Lá vai...

1. A coisa mais difícil de encontrar na vida é o equilíbrio.

2. Só o que é possível me faz sofrer. A partir do momento em que percebo que algo é impossível, deixo de sofrer por isso. Sofrer pelo impossível é inútil.

3. Eu alcancei quase tudo o que desejei. Mas isso só aconteceu quando deixei de pensar obsessivamente nesses desejos.

4. Sempre que desejei algo e não alcancei, depois percebi que não teria sido bom pra mim.

5. Amigos são circunstanciais. Família é pra vida toda.

6. Mas há amigos que também são pra vida toda, seja qual for a distância que estiverem de mim.

7. Não há como apressar a experiência de vida, assim como não se pode apressar a gestação de um ser.

8. Foi quando fiquei muito longe do meu país que mais aprendi sobre ele. A compreensão de muita coisa exige distanciamento.

9. Tentar resolver problemas que ainda não tinha muitas vezes só fez com que aparecessem problemas que passei realmente a ter.

10. Só os sobreviventes têm cicatrizes. Quem não tem cicatrizes, ou nunca lutou, ou já morreu.

11. Eu não estou livre de ter os mesmos sentimentos ruins que tanto critico nos outros. Aliás, muitas vezes acabei fazendo exatamente aquilo que critiquei no outro.

12. Os monstros dos quais tive mais medo sempre eram muito mais assustadores na imaginação do que na realidade.

13. Todas as pessoas têm sempre alguma coisa incrível pra contar sobre a vida delas.

14. A generosidade não é desinteressada.

15. Buscar a perfeição só me deixou mais imperfeita.

16. A maternidade não me tornou sobre-humana. Eu continuei a sentir cansaço, raiva e dor, mesmo em relação aos meus filhos.

17. Mas, me sentir humana sendo mãe, só me tornou mais livre e acho que fará com que eu sofra menos a solidão no futuro. Não cobrarei presença dos meus filhos porque saberei que eu mesma não dei de mim o que eles gostariam de ter tido.

18. Ter filhos é perder a chance de ser arrogante. Os filhos me mostraram o quanto sou falível.

19. Qualquer situação, por pior que seja, tem sempre um aspecto positivo a considerar. Basta procurar.

20. O bem mais precioso que possuo é meu tempo. Só que o tempo que tenho nunca vai ser suficiente pra eu fazer tudo o que tenho vontade.

21. O conhecimento inebria e propicia momentos de extrema felicidade. Mas quanto maior o conhecimento, mais raras são as ocasiões de sentir essa felicidade porque mais absurdo parece o mundo.

22. Saber que outras pessoas têm problemas maiores do que os meus não diminui a dor que sinto.

23. Entretanto, sempre que consigo rir das minhas próprias mazelas, tudo fica menos difícil.

24. Não importa o tamanho da bolsa ou da mala, sempre vou enchê-la.

25. O corpo tem limites. E é muito difícil conviver com eles.

26. Cada idade tem alguma coisa muito legal que só é possível de ser vivida plenamente naquela idade.

27. Criar e alimentar expectativas só estraga a vida.

28. Não dá pra manter a proximidade com todas as pessoas que eu gostaria da maneira como gostaria.

29. Trabalhar no que eu gosto garante muitas horas de diversão no dia.

30. Eu não preciso de tudo o que compro.

31. Mas de vez em quando é muito bom comprar coisas das quais não preciso!

32. A rigidez de crenças e comportamentos só fez com que eu me quebrasse mais rapidamente.

33. Meu pior inimigo, aquele que é mais cruel é o senso comum. Como contradizer o senso comum? Como lutar contra o que é invisível e que, mesmo assim, sufoca?

34. A melhor forma de gastar meu dinheiro é com cursos e viagens. Ninguém pode roubar de mim o que vivi e aprendi.

35. Os filhos não têm de participar das discussões dos pais.

36. A maioria daquelas mensagens filosóficas de autoajuda é verdadeira. Mas elas são quase todas muito chatas!

37. Assistir ou ler jornais me deixa infeliz. Então não assisto. O que for realmente importante vou ficar sabendo, no nível de detalhe em que preciso saber. Nem mais, nem menos.

38. Os momentos em que eu mais ganhei vida, foram aqueles em que perdi meu tempo com bobagens inúteis.

39. As pessoas que têm sorte são as que acreditam que ela existe.

40. A maior parte das coisas que aprendi foi vivida desde que nasci, mas só ficou realmente clara nos últimos anos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pera, uva, maçã, salada mista...

Deu no Fantástico de domingo passado: a ciência acaba de descobrir que saudáveis são as mulheres pera, o que significa dizer cintura e quadrilzão. ENFIM! Pelo menos uma vez na vida tive a satisfação de ver que uma pesquisa científica me inclui no grupo das pessoas saudáveis e não o contrário como vinha acontecendo nos últimos anos! Estou exultante!

Ultimamente eu não queria ler nem mesmo a capa de revistas de saúde para evitar momentos de pura desolação. Sempre que via uma manchete do gênero "10 dicas para viver bem" eu sabia que ia fazer exatamente o contrário do que diziam 9 das 10 dicas. A décima era a que não se aplicaria ao meu caso, tipo algo pra quem ainda nem menstruou ou é do sexo masculino...

Mas domingo fui às nuvens com a tal reportagem. Preciso anunciar ao mundo que eu sou uma mulher pera! Que felicidade!

Agora, como eu já disse, só faltam os estilistas caírem de boca nessa fruteira, no bom sentido, é claro! Estou curiosa para ver quem será o ousado que fará o primeiro desfile sabor salada mista com mulheres reais na passarela. Será um furor. Vídeos se espalharão à velocidade da luz no Youtube, o Twitter ficará congestionado, a Google sairá do ar por trinta segundos tamanha a quantidade de acessos, o planeta acreditará estar vivendo o armagedom...

Alguém precisa urgentemente abrir os olhos do mundo como fez o personagem do conto A roupa nova do rei, de Hans Christian Andersen. Para relembrar a história, um rei muito vaidoso foi ludibriado por pretensos alfaiates que lhe garantiram que possuíam os tecidos mais lindos do mundo os quais só podiam ser vistos por pessoas muito especiais. Por uma verdadeira fortuna os larápios fariam um traje tão magnífico que o rei seria aclamado por todos. O rei pagou pelo traje e saiu pelas ruas, completamente nu. Ninguém tinha coragem de comentar o fato, achando que decerto não tinham capacidade suficiente para enxergar a beleza de tecidos tão especiais. Até que uma criança gritou: O rei está nu! Aí todos compreenderam que quem estava enganado era o rei e não eles!

É preciso que alguém comece a gritar: aquela magreza toda é feia!

Por isso também achei ótimo o comentário do sambista Dicró quando viu um feixe de modelos na passarela: Junta todo mundo aí, deve dar uns 20Kg!

Antigamente, quando um homem queria elogiar uma mulher dizia: Ela é uma uva! Hoje, por mais bem intencionado que seja um rapaz, se chegar para uma dessas modelos de passarela e compará-la a uma uva certamente levará uma bolsada Louis Vuitton na cara. Onde já se viu? Uma uva?! Uma bolinha?! E ainda por cima cheia de açúcares?! Que audácia...

Definitivamente, uvas estão fora do vocabulário dos elogios do mundo da moda. No máximo alguém poderia
dizer Você é minha fava de baunilha preferida! Mas acho melhor não arriscar... É comida também, né? Uma sapatada
Jimmy Choo na cabeça deve doer pra caramba.

Recentemente tomamos conhecimento de uma mulher melancia. Agora chegaram a vez das peras. As maçãs... Bem, a maçã não tem salvação! A pobre só se dá mal desde a época do paraíso e aquela história da Eva, serpente, etc. Coitadinha. Mulheres maçã continuam na mira de nutricionistas, endocrinologias e personal trainers. Expulsas do paraíso fashion sem chance de apelação...

De minha parte, já estou bem contente de poder participar da parte saborosa dessa salada de frutas. Viva a diversidade!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tamanho XXI, de eXtremamente Indignada!

Não adianta, estou de mau humor!

Eu até que gostaria de escrever palavras engraçadinhas sobre o tema, mas a bile que volta à boca não me deixa ser menos do que insuportavelmente chata em relação a esse assunto.

Semana passada enfrentei mais uma vez o calvário dos provadores de roupas e lá se foi minha alegria. O mais impressionante é que a figura que vejo no espelho dessas salas de tortura não é um monstro, tipo uma orca assassina. Mas a imagem que vejo simplesmente não cabe nas peças de roupas que eu tento enfiar e fim de papo! Quer dizer, muitas vezes elas até entram e fecham. Só que, quando olho no espelho vejo aquele bonequinho da Michelin.

Eu já elaborei algumas teorias para explicar esse fato:

Primeira - Aquele número indecente que vejo na balança é a prova irrefutável dos meus pecados, e não somente os da gula. Aquilo tudo é peso na consciência!

Segundo - Outra possibilidade cuja descoberta aterradora eu devo à medicina ortomolecular: são metais pesados no meu organismo, claro! Chumbo, ferro manganês... Sou uma verdadeira usina de metais pesados, a Vale devia me explorar.

Terceiro - Caso meu peso excessivo não venha de nenhuma das opções anteriores, então só pode ser aquilo que os habitantes de Krypton vivem me dizendo... O quê? Vocês não sabiam que Krypton existe mesmo e que Super Homem tem uma família imensa por aí? Verdade! De vez em quando encontro um parente dele com olhos de raio X que afirma: Ah! O que acontece é que você tem ossos grandes! Então tá explicado: eu não sou gorda, meus ossos é que são grandes e crescem sem parar. Ufa!

Mas, mesmo depois de encontrar explicações mais do que plausíveis para o meu peso, ainda faltava compreender o meu diâmetro que faz com que as roupas nas lojas simplesmente não sirvam. E eu descobri!

Estudando um pouco algumas filosofias, soube que temos o corpo físico e também o etéreo ou energético. Eu sempre achei que eram esses dois somente e que eles tinham mais ou menos o mesmo formato, mas fiquei boquiaberta ao descobrir que são mais de quarenta corpos energéticos e que eles se expandem pra muito além do corpo físico! Perceberam? São meus corpos etéreos que não cabem todos juntos dentro da mesma roupa! Haja pano pra cobrir toda essa galera, não?

O fato é que, independente da causa, comprar roupas é, sempre e constantemente, um tormento!

Em troca de mensagens com minha grande amiga Jane que sofre dos mesmíssimos males que eu (metais pesados em excesso, ossos grandes, corpos espaçosos, etc., etc., etc.) falamos de fazer uma loja de camisetas tamanho P, de paquiderme.

Eu abortei a ideia ainda no ovo por importantes razões.

Primeiro porque não sou, nem jamais serei, empreendedora. Isso é coisa pra mulher corajosa como ela, eu tô fora!

Segundo porque não acho justo que as gordinhas sejam obrigadas a simplesmente cobrir o corpo com alguma coisa ajeitada por outras gordinhas solidárias como se fossem aquele galão de água da cozinha enfeitadinho. Acho injusto que nós, as tamanho F, de fofas, sejamos excluídas do mundo das roupas LEGAIS pensadas pelos estilistas, só porque esses profissionais simplesmente ignoram nossa presença no mundo, por mais espaçosa que ela seja.

É inaceitável que não haja uma loja das grandes redes, como C&A ou Renner, que se interesse pelas mulheres tamanho R, de roliças, que existem por aí e façam roupas só para um ideal de mulher criado em photoshop que praticamente não existe, principalmente depois dos 40! Ou será que sou só eu que tenho vontade de me afogar numa piscina de bolinhas repleta de Prozac depois de uma excursão a um shopping center...

Alguém aí vai dizer que existem algumas peças maiores na Renner ou na C&A. Claro que existem! Uma ou outra que não combina com mais nada e que escapou à sortuda que conseguiu chegar antes de mim mas, assim mesmo, numa arara escondida no fundo da loja, ao lado do extintor de incêndio ou da saída de emergência. Vai chegar o dia em que a cliente que comprar essas peças será gentilmente convidada a usar uma saída lateral e receberá as roupas num saco de papel sem o logotipo da loja para eles não verem o horror de uma mulher tamanho V, de verdadeira, vestida com a marca deles.

É claro que existe lojas para pessoas reais, mas fora dos shoppings, geralmente em bairros afastados, e caem invarialvelmente em três categorias: ou são caríssimas, ou breguíssimas ou nos fazem parecer o tal galão de água enfeitado. A única semelhança entre todas essas lojas é a seguinte: sairemos de lá parecendo que temos 30 ou 40 anos a mais. Não basta sermos gordas, temos de ser também velhas! Deprimente!

Querem saber o que eu acho? Acho que tudo não passa de uma gigantesca INCOMPETÊNCIA dos profissionais das grandes redes de lojas. Incompetência completa e total!

Claro que é fácil desenhar roupas legais pra manequins, praticamente cabides que se movimentam sem o uso de pilhas. O grande desafio para as grandes redes seria criar roupas para as mulheres tamanho R, de reais, feitas de carne, osso e banhas que circulam infelizes pelas ruas das cidades. Mas, pra isso eles não têm a menor competência.

Eu comparo esses estilistas aos médicos que só querem pacientes saudáveis, professores que só dão aula pra alunos inteligentes, atacantes que só marcam gol contra time sem goleiro.

O duro é que, enquanto não surgir o Einstein das passarelas que tenha capacidade e inteligência suficiente para aceitar o desafio de cobrir a nós, tamanho M, de mulher (e ponto), continuaremos sonhando com a tal piscina de bolinhas de Prozac. Ou nos converteremos ao islamismo e passaremos a circular de burka por aí. Ou nos mudaremos para o polo norte e nos vestiremos como esquimós. Ou viraremos astronautas...

Dietas, exercícios, etc. e tal? Outro dia eu falo o que penso dessa gigantesca hipocrisia incoerente!

Por enquanto o que me resta é uma dolorosa decisão: o que será que fica melhor em mim, a burka ou o escafandro?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Toma que esse pescoço é teu!

Fui mordida! Agora estou irremediavelmente contaminada, passei pro lado de lá da força, me rendi. Faço parte da legião de pessoas que aguardam, pálidas e de olheiras fundas, a continuação da saga Crepúsculo.

Ohhhhhhhhhhhhh!!!

Ouço o coro decepcionado daqueles que dizem: O quê?! Você?! Professora universitária, que lê Baudelaire no original, formada em Letras, futura doutoranda em literatura?! Não é possível! Que horror!

É isso aí, minha gente. Sucumbi alegremente aos vampiros, da mesma forma que mergulhei nas profundezas de Hogwarts na epopeia de Harry Potter. Tem mais: ontem mesmo devorei avidamente cada página d'O Símbolo Perdido, do Dan Brown, sobre o qual falarei em outro post. E, já que é pra escandalizar de vez, confesso que li alguns títulos do Paulo Coelho, dezenas de volumes do Sydney Sheldon, além de, durante a adolescência, pilhas e mais pilhas daquelas historiazinhas açucaradas de bancas de revistas presentes em coleções chamadas Julia, Sabrina ou Bianca. É isso mesmo: eu, futura doutora em literatura, sou consumidora voraz de leituras chamadas comerciais. E tem mais: não me sinto nem um único milímetro diminuída muito menos envergonhada por causa disso.

Portanto, caí nas presas de Edward Cullen e estou aqui cultivando os dois exemplares intitulados Eclipse e Amanhecer, os quais serão impiedosamente sugados e não sobreviverão até o fim da semana.

Li num blog de um jornalista o seguinte a respeito de outro representante desse tipo de literatura, o já citado Dan Brown:
Não li O Código da Vinci, de Dan Brown. (E ainda que tivesse lido não admitiria. Mas de fato não li.)
Aí está! Se isso não fosse absolutamente irrelevante para a minha vida, já que desconheço completamente o tal jornalista, até chegaria a arriscar uma aposta: a de que ele leu, sim. Leu escondidinho no banheiro, embaixo das cobertas, envergonhado por estar deixando de lado Sêneca, Montaigne, Henry Miller ou Graham Greene (citados por ele no post) para se entregar ao prazer puro e simples da diversão inconsequente. Sem objetivos nobres. Ler pra desopilar a mente. E só.

O argumento do jornalista é o de que a leitura desses livros comerciais ocuparia o tempo que ele poderia dedicar aos clássicos, o que é absolutamente verdadeiro. Ninguém mais do que eu concorda fervorosamente com isso. E eu não veria problema algum na recusa em ler algo de que ele simplesmente não gostasse, o que até pode ser o caso dessa pessoa, mas quando ouço esse e outros críticos semelhantes, fico com a impressão de que eles não leem, ou não assumem que leem, só pra não se misturarem à massa. Para não conspurcarem o altar sacrossanto dos textos literários de alto valor maculando-os com esse lixo comercial menor. Erudição pura que eu prefiro chamar de preconceito puro.

Admito e confesso que minhas estantes acomodam lado a lado e em total harmonia Flaubert, Balzac, Le Clézio, Ernest Hemingway, Umberto Ecco (o ensaísta mais do que o romancista), Gabriel García Márquez, Eça de Queiroz, Saramago e Ovídio, mas também Aldous Huxley, Stephenie Meyer, J K Rowling, Marc Lévy e Nicole de Buron. E me absterei de fazer classificação semelhante entre os brasileiros para não entrar em disputas inúteis sobre quem deveria estar de qual lado. Só digo que o amor por um dos meus ídolos máximos, o incontestável Machado de Assis, cujos contos estão entre as maravilhas da literatura, jamais me impediu de ler aquilo que me desse prazer.

Literatura é um bem de consumo, como comida, por exemplo. Adoro cozinhar e amo um bom restaurante, mas tenho espaço pra MacDonalds também.

Uma vez meu amigo Fábio me pediu pra dar opinião sobre um livro, acho que era o primeiro da Clarah Averbuck. Não lembro mais nada do livro, só lembro que o classifiquei como literatura algodão doce: a gente coloca um pedação na boca, ele se dissolve instantaneamente, não sobra nada mais do que um gostinho bom e fim. Não alimenta, não sacia, mas é gostosinho. Muito diferente de um finíssimo pão de ló, de um divino macaron ou de uma angelical madeleine, a propósito, imortalizada por Proust. Mas, assim como não dá pra viver só de algodão doce, também não dá pra viver só de pão de ló. A sabedoria está na diversidade, na variedade do cardápio. Da mesma forma como acontece na vida, tenho pena dos diabéticos ou dos que vivem de dieta, necessária ou forçada, que não podem se dar ao prazer de um doce inconsequente de vez em quando. Sem pretensão alguma. Um dia, aliás, falarei sobre o que penso desse mundo funcional em que vivemos.

O que acontece com livros, acontece igualmente com música, cinema, teatro e todas as outras artes. A partir do momento em que alguma coisa faz muito sucesso, lá vem o grupinho de críticos torcer o nariz, fazer cara de nojo e revirar os olhos de pura náusea numa atitude mais do que pedante.

Como disse, condordo plenamente com o fato e compreendo quem diz: li e não gostei, ou nem li porque o tema não me atrai. Eu já não gostei de best-sellers planetários. Aconteceu recentemente com Melancia, da Marian Keyes e também com Tolkien e a trilogia O Senhor dos aneis. Fiz algumas tentativas de leitura, mas não rolou. Isso não muda o fato de que há milhões de pessoas no mundo que leram e gostaram desses livros. Viveram momentos de prazer descarado.

Não tenho preconceitos. O jornalista tem razão, tempo é precioso e não dá pra desperdiçar lendo o que não nos agrada. Se começo um livro e ele não me encanta, abandono sem remorsos. Por mais clássico que seja, não perco meu precioso tempo. Deve ser coisa da minha alma vampira, insensível. Às vezes era só questão de momento errado e, numa segunda chance, passo a devorar o que antes me foi intragável. Foi assim com Madame Bovary e também com Cem anos de solidão. Com outros o abandono foi definitivo. Aconteceu com Ulisses, de Joyce. Esse não me pega mais e eu aprendi a ler aos quatro anos de idade, requisito citado pelo jornalista do blog para chegar a compreender Joyce. Simplesmente não gostei. E pronto.

O que mais me encanta na minha maneira de ser é a minha mais completa e irrestrita LIBERDADE: recuso Joyce e me entrego a Meyer sem medo de ser feliz!

Podem se armar de água benta e dentes de alho contra mim, eu não me importo! Minha alma de leitora é imortal...

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Pra quem ficou curioso com o tal post, aqui vai o link.

sábado, 10 de outubro de 2009

Cabelos soltos são mais seguros

Acabei de receber um email daqueles que tem todo o jeito de notícia falsa que circula na internet, os mundialmente conhecidos, embora poucos saibam o nome técnico com que foram batizados, hoaxes.

Pasme, meu caro bleitor, segundo a mensagem, a China estaria fabricando elásticos de cabelo a partir de camisinhas usadas!
A amiga que me mandou o email já adiantava que a notícia tinha sido verificada, incluindo, para não deixar dúvidas, o link que comprova tudo. Eu, como boa descendente de São Tomé, fui atrás fazer minhas próprias pesquisas e descobri que é verdade mesmo! Quer dizer, parcialmente verdade...

É verdade que foram descobertos elásticos de cabelo feitos a partir de preservativos na China. O que não se tem certeza é se eram camisinhas efetivamente usadas ou se eram refugo industrial. É uma notícia velhinha, de 2007. Uma eternidade para os tempos em que vivemos...

Aquele Eugène Ionesco e seu grupinho achavam que tinham inventado grande coisa com o tal teatro do absurdo. Mal sabiam eles que o mundo real em que vivemos é infinitamente mais absurdo! O que é uma epidemia que transforma em rinocerontes os seres humanos de uma cidade diante de singelos elásticos para prender cabelos feitos de material originalmente criado para prender coisa bem diferente?

É tão absurdo que não vou nem comentar! Mas me diverti um monte pensando em coisas tão ou mais absurdas a partir desse simples fato do nosso amado mundo (ir)real. Vamos a elas...

Será que não foi uma revolta das próprias camisinhas que não queriam mais essa vida de simples objeto descartável, com trabalho forçado em ambiente escuro, úmido e, muitas vezes, insalubre? Elas se rebelaram! Queriam o direito a respirar ar puro, ver o mundo, viajar pelas cabeças femininas. Já que estamos falando de absurdo, nada é impossível, não? Tudo bem, tudo bem. É absurdo, mas nem tanto. Vamos botar os pés no chão e voltar à notícia.

Não se sabe se eram preservativos usados ou não. Vamos admitir que eram usados (blargh!).

Em primeiro lugar, fico realmente tranquila em saber que os chineses estão usando preservativos e diminuindo, assim, a quantidade de novos chineses sobre a face da terra. Que alívio! Eles tem essa imensa vantagem numérica sobre nós. Se não pararem de se reproduzir como coelhos não vai ter lugar pra todo mundo por aqui. E como ninguém mais vai querer prender o cabelo com medo de estar usando material que já frequentou outros pelos, vai acabar voando cabelo na cara da gente, o que será super desagradável. Então, que eles continuem usando camisinha!

Mas, se eram elásticos feitos a partir de preservativos usados, então, esses preservativos tinham de ser coletados de alguma forma. E eu me pergunto: como?! Como juntar tantos preservativos com jeitão de fim de festa? Todo mundo sabe que uma indústria chinesa não fabrica menos de um contêiner de um determinado produto. Pra fabricar um contêiner de elásticos de cabelo, seria necessário um contêiner de preservativos usados. O povo anda animadinho lá na China!

Continuo perplexa, tentando imaginar como essa coleta poderia ser feita. Será que tem um pessoal de triagem que fica separando as camisinhas no lixo? Catadores de camisinha nos lixões? Ou será que os chineses são educadinhos e tem cestinhos de lixo especiais para preservativos nas ruas... Vamos ficar com essa possibilidade.

Se existem cestinhos especiais para receber as camisas de Vênus depois da farra, de que cor eles seriam? Qualquer ser humano antenado e preocupado com o meio ambiente sabe que agora os cestos de lixo tem cores específicas: azul pra papel, vermelho pra plástico, verde pra vidro... Já foram usadas quase todas as cores básicas: amarelo, preto, branco, cinza, marrom, laranja e até mesmo o roxo que é pra material radioativo. Pras camisinhas sobrariam cores como salmão, fúcsia, cáqui, magenta, turquesa ou cirilo e isso geraria um problema imenso. Como é de conhecimento geral, camisinhas são usadas por homens. Portanto são eles que, a princípio, deveriam descartá-las. E é igualmente do conhecimento geral que os olhos masculinos são incapazes de diferenciar cores como bege ou terracota. Uma vez que todas as possibilidades que existem naquela caixinha de lápis de cor da pré-escola já foram usadas para outros fins na coleta seletiva, o que sobrou foi o transparente, logo, os cestos de lixo para coleta seletiva de camisinhas deveriam ser simplesmente transparentes, o que geraria um constrangimento sem fim!

Os pobres chinesinhos, ao se desfazerem de seus preservativos usados, acabariam por comparar o exemplar que estavam descartando com os outros já presentes no cesto em termos volume de preenchimento, tamanho final, taxa de laceamento, etc. etc. etc. Isso acabaria em depressão e, consequentemente, num imenso gasto de saúde pública em psicólogos e antidepressivos. Não! Definitivamente não deve haver coleta seletiva para preservativos usados na China. Acho que as mulheres chinesas de longas madeixas podem voltar a prender tranquilamente suas melenas: com certeza absoluta não foram preservativos usados que acabaram virando as alegres chuquinhas! Ufa!

O grande problema dos preservativos usados é que algumas mulheres colocam o elástico na boca antes de prender os cabelos e isso poderia ser fonte de contaminação com o vírus da AIDS ou outras doenças sexualmente transmissíveis. De qualquer forma, colocar o elástico na boca já é um ato meio nojento. Pelo menos, encontrar um cabelo na comida é nojento, não é?

Esse post já está ficando escatológico demais. Vamos passar rapidamente à outra possibilidade: os elásticos eram feitos a partir de refugo industrial. Alguma fábrica de camisinhas destinou os itens que não passaram pelo controle de qualidade para outros fins. De novo, algumas considerações a fazer.

Como será o controle de qualidade de uma fábrica dessas? Imagino uma longa esteira, pela qual passeiam os preservativos penduradinhos como se fosse um varal de roupas e, enquanto dão esse rolé, vários robôs testam os diversos quesitos que garantem a eficiência do produto. Um deles enche a camisinha de água pra ver se tem furinho, outro a preenche com um cilindro metálico e esfrega em tubos revestidos de espuma que imita os mais diversos músculos humanos pra ver se não rasga, um terceiro robô testa cilindros de várias espessuras e comprimentos pra determinar que tamanho vai colocar na etiqueta da embalagem... Agora fiquei com vontade de conhecer uma fábrica de camisinhas! Deve ser um cenário perfeito para uma peça do Ionesco, não? Claro que nem estou considerando a hipótese de esse teste de qualidade ser feito por mãos (ou outras partes do corpo) humanas! Seria absurdo demais! Nem Samuel Beckett teria uma ideia dessas!

Ficarei sem resposta a essa questão, infelizmente. Só considerarei o fato de que camisinhas foram refugadas e enviadas para uma outra fábrica (talvez até do mesmo dono, uma mente brilhante do mundo dos negócios) para serem transformadas em inocentes elásticos de cabelo. Independente da maneira como chegaram até lá, se era refugo e se ia parar no lixo, então qual é o problema? Não se fala tanto em reciclagem, em reaproveitamento? Esses materiais sintéticos tipo borracha, silicone, plástico são os grandes vilões da poluição, não? Então por que condenar os chineses quando eles resolvem ter uma atitude civilizada da mais pura cidadania mundial fazendo reciclagem? Ora, veja você! Ninguém está contente mesmo!

Bem, é papo abóbora demais para um sábado à noite, meio de feriado, às vésperas do horário de verão, quando eu deveria estar tomando sorvete à beira-mar, mas estou de pijama de soft e meia de lã, tomando chá pra esquentar e pensando seriamente em ligar um aquecedor. Isso sim é que é absurdo! Por via das dúvidas, estou de cabelos soltos. Você sabe, esquenta o pescoço! ;-)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Roubaram a cordinha do mundo!

Era pra ser um email... Mas estava ficando imenso e é um assunto que gostaria de discutir com um monte de gente, sem esquecer o fato de que além de escrever a mensagem eu precisava também escrever um post aqui no blog (há tempos sem atualização), então decidi fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Como diz aquele antigo ditado política e ecologicamente incorreto, quis matar dois coelhos com uma cajadada só. E que ninguém do Greenpeace apareça por aqui!

Agora vivo dessa forma: costuro enquanto vejo televisão, preparo aulas usando assuntos e textos que me interessam, assim posso me divertir, me informar e trabalhar ao mesmo tempo, cozinho o que faz bem à saúde, ouço música enquanto trabalho, penso, logo existo, como disse Descartes. Mas só consigo pensar enquanto faço uma outra coisa... Ou duas. Ou três! Isso significa que não existo enquanto não faço nada?!

Não sei mesmo o que acho dessa vida que estamos todos levando... A mensagem que comecei a escrever era pra tentar acalmar as angústias de uma pessoa que pensa que não sabe mais algo que sabia, que não consegue fazer entrar mais conteúdos na cabeça e, ao pensar nela, acabei pensando em mim e numa série de outras ideias relacionadas. Como num hipertexto, um pensamento puxou outro, que puxou outro, que puxou outro e... é EXATAMENTE AÍ que está o problema!

Vivemos num turbilhão! Tudo gira à velocidade da luz ao nosso redor, tudo acontece ao mesmo tempo em todos os lugares e, embora novas e maravilhosas tecnologias tenham sido inventadas, ainda não acharam um jeito de um corpo ocupar mais de um lugar no espaço ao mesmo tempo. Quer dizer, agora tem aquela coisa da imagem holográfica, mas, mesmo assim, é só uma projeção de uma mesma pessoa em vários lugares. Uma projeção que fará a mesma coisa em todos os lugares. Ainda não existe a holografia que permite que eu dê aula na universidade, assista a uma palestra na Bienal, converse com os amigos num bar, passe tempo brincando com meus filhos em casa e ainda esteja dormindo pra descansar dessa maratona enquanto preparo a próxima... Não dá!

Só que me dilacero em mil pedaços pra tentar fazer tudo isso e fico orgulhosa de mim mesma porque consigo, literalmente, em partes. Mas aí encontro pessoas e vejo que elas fizeram outras coisas tão ou mais interessantes ou obrigatórias, coisas essas que eu mesma não consegui. E fico achando que sou incompetente, que não dou conta, que sou preguiçosa, que fico me enrolando em casa respondendo emails enquanto escuto música francesa pra ver se tem alguma novidade que possa ser utilizada em aula e, de quebra, me divirto um pouquinho já que gosto mesmo de música francesa e não dá muito tempo pra diversão. Mas, puxa vida, isso me fez deixar de ver o vídeo da Vanusa assassinando o Hino Nacional, além de não ler a notinha dizendo que o Collor é o mais novo "imortal" da Academia Alagoana de Letras e me impossibilitou completamente de participar do jogo Mafia Wars no Facebook, substituto do Orkut que, diga-se de passagem, está às moscas cibernéticas com centenas de recados sem responder além de fóruns de comunidades abandonados. E também não dá pra esquecer que não consegui fazer exercícios físicos, na verdade, bicicleta ergométrica sobre a qual pedalo enquanto devoro os romances que morro de vontade de ler mas que, como não são úteis para o trabalho ou para a prova de seleção para o doutorado que farei no fim do ano e nunca conseguem alcançar o primeiro lugar da fila para que eu possa saboreá-los, ficam juntando poeira na minha estante. Estante essa que está desorganizada, acumulando, além de poeira, os outros livros sobre os assuntos que me interessam ardentemente, os quais compro na esperança de um dia, quem sabe, poder pelo menos folhea-los. Compro os livros e, porque sempre estou atrasada para alguma coisa, os jogo de maneira apressada sobre essa estante que está esperando o dia em que conseguirei colocá-la em ordem. Nesse dia me lembrarei, mais uma vez, das tantas coisas que eu gostaria de aprender, estudar, construir, fazer, sem ter a mínima chance de sequer começar. E como é possível que tenha pessoas ao meu lado que conseguem ser melhores do que eu?!!!

É simples: não conseguem! O que acontece é que vejo o que elas executam, mas não tenho ideia do que elas gostariam de fazer, entretanto, não fazem. Só vejo as realizações e elas são muitas. Mas estou certa de que eu e todas essas pessoas mergulhamos constantemente a cabeça nas águas profundas da tristeza e da melancolia para observarmos de longe a imensidão do iceberg de desejos submerso sob um mar de falta de tempo. Com isso, não nos damos conta da pontinha desse iceberg de realizações que fica à luz do dia, para deleite, não nosso, mas dos demais, tão ocupados estamos em nos culpar e nos martirizar pelo que NÃO fizemos, pelo que NÃO conseguimos atingir ou realizar...

Escuto constantemente a seguinte frase: eu não sei onde você acha tempo pra fazer tudo o que faz! Sempre que escuto isso eu penso: Tudo o que? Eu não faço nem um terço do que deveria, isso sem contar que não faço nem um décimo do que gostaria! Estou constantemente em atraso e em dívida com os outros, comigo mesma, com minhas obrigações e, principalmente, com minhas vontades. E ainda tenho de conviver com pessoas que conseguem fazer as tais coisas que eu gostaria ou deveria! Que afronta!

Será que sou só eu que tenho vontade de urrar histericamente: PAREM ESSE MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!!!!!?

O que eu acho é que a gente tinha de mudar o ponto de vista. Não somos nós que não estamos fazendo todas as coisas que deveríamos ou gostaríamos. São as coisas que, por conta dos respingos líquidos de nossas lágrimas, estão se multiplicando como Gremlins que ficam ali no calabouço escuro da nossa culpa, pulando diante de nós e dizendo: Eu primeiro! Eu primeiro! Eu primeiro! E a gente olha abobado de um Gremlin pra outro sem saber por onde começar, dando conta de um, mas percebendo que surgiram três outros logo ao lado... Esses são os do mal. Os bichinhos do bem, os fofinhos e bonitinhos que não comeram depois da meia-noite, portanto, não arruinaram a dieta, aqueles que representam nossas vontades, nossa diversão e nosso prazer, esses ficam se multiplicando loucamente à distância, cada vez mais à distância, sem que a gente tenha a menor chance de chegar até eles porque temos um mar de Gremlins carrancudos, com os dentes à mostra e com etiquetas nas testas que dizem: Trabalho, Saúde, Manter-se informado, Estar em dia com as notícias econômicas, políticas, culturais e sociais, Atualizar o currículo, Fazer uma pós, Fazer uma certificação profissional, Aprender o quarto idioma, Limpar a caixa postal de emails, Fazer caridade, Cuidar dos filhos, Cuidar do corpo, Estar na moda, Ler Crepúsculo, Seguir o Twitter, Entrar no Facebook...

Vivemos uma época cruel em que a diversão, os prazeres e a liberdade estão todos expostos sobre uma linda mesa, decorados e apetitosos, iluminados por raios laser, cercados de sereias que cantam: Venha, tudo é possível, tudo está à sua disposição! Você pode tudo! O mundo é seu! As oportunidades estão aqui, sobre essa mesa, tudo é tão fácil. Você só não aproveita se não quiser... Só que estamos a centímetros de alcançar a tal mesa, as mãos e a cabeça livres, mas os pés presos às imensas bolas de ferro das nossas obrigações. As reais e aquelas que nos impomos por pressão nossa e do resto do mundo. Se todo mundo faz, então nós também temos de fazer, saber, ler, compreender, participar... Trabalhamos e corremos feito loucos uma vida inteira para nos livrarmos dessas bolas, pensando que quando chegarmos à aposentadoria poderemos, enfim, atingir a tal mesa para nos fartar e fazer o que quisermos do nosso tempo. Mas estou perdendo as esperanças... Quando observo meus pais, meus tios e outras pessoas aposentadas ao meu redor e vejo o quanto elas correm de um lado para o outro, sem chance de dar atenção a todas as suas obrigações nem de atender a pelo menos parte dos seus desejos...

E assim seguimos todos jogados de um lado para o outro, arrastados pelos pés, chicoteados no meio do turbilhão...

Se eu sei o que fazer pra sair dessa? É evidente que não tenho a menor ideia! Se soubesse o que fazer escreveria um livro pra dar essa receita ao resto do mundo. Provavelmente, passaria o resto dos meus dias dando palestras por aí, entrando e saindo de aviões, acordando cada dia numa cama de hotel diferente, sem o menor tempo de simplesmente... viver!

Olha, mesmo se eu descobrir como fazer pra fugir dessa armadilha, não volto aqui pra contar. Embora eu suspeite que escapar é impossível! O Belchior tentou e não é que foram encontrar o coitado escondido numa aldeia de dois mil e poucos habitantes? Não tem saída! Até mesmo eu, uma eterna, renitente e inconformada otimista, estou tendo de admitir que não há nada mais sábio do que outro ditado popular repetido pela antiga ministra: esse estupro é mesmo inevitável, o negócio é relaxar e gozar. Completando a série de lugares-comuns, vou mandar tudo o mais para o inferno (como cantou, mas agora renega, Roberto Carlos), dizimar meus Gremlins expondo-os à luz do sol e me abraçar a meus queridos filósofos hedonistas que diziam que a vida é pra ser vivida com prazer! Todo o resto é que não tem importância.

sábado, 15 de agosto de 2009

Realmente, incomodada ficava minha avó!

Meninos, fora! Vão pra lá brincar com seus carrinhos porque o que vai rolar por aqui hoje é um papo mulherzinha. Portanto, rua! Xô, xô, todo mundo!

Já foram? Então tá... O negócio agora é entre nós, mulherada. Peguem seus banquinhos, puxem o fio do tricô e vamos trocar umas ideias...

Quando eu passei a ter intimidade com eles, não sabia que eram ainda tão recentes no convívio feminino. Confesso que cheguei a experimentar aqueles que a gente não conseguia manter presos. Eles tinham umas pontas soltas, estranhas, que avançavam na frente e atrás e não eram nadinha discretos! Todas conviveríamos alguns dias com eles de tempos em tempos, quando desenvolveríamos estratégias mirabolantes pra disfarçá-los. Só que, fatalmente, um dia passaríamos pelo aperto de ser pegas de surpresa, ou ficar longe de casa mais do que prevíamos, ou perceber que eles tinham mudado de lugar. Aí aconteceria o inevitável e constrangedor acidente. Novas estratégias, mais mirabolantes ainda pra voltar o mais rápido possível pra casa se esgueirando pelos cantos e becos escuros, rezando e revendo mentalmente o filme das últimas horas vividas, na tentativa desesperada de lembrar com quem nos encontramos, pra saber de quem nos despedimos, para quem viramos as costas ou sobre o que estivemos sentadas ou apoiadas e avaliar, dessa forma, a extensão do estrago.

Mas... o que é isso? Saí pra lá, moleque! Quanta curiosidade! Isso aqui é conversa de mulher, já disse!

Esses homens... Dariam tudo pra entender nossa relação tão íntima, misteriosa e absolutamente impossível de ser reproduzida no mundo masculino com eles: os absorventes!

Como disse, nasci num mundo em que esse grande invento da humanidade não só existia como era corriqueiro. Ouvi histórias sussurradas e entrecortadas aqui e ali sobre um tempo incivilizado no qual eles não tinham sido inventados. Histórias de terror absoluto que falavam em toalhinhas higiênicas. Simplesmente não consigo imaginar esse tormento...

Parênteses: preciso rever imediatamente os filmes de náufragos em ilhas desertas! Nunca assisti Lost, mas duvido que eles digam como aquelas mulheres fazem quando estão naqueles dias. Fim do parênteses.

Só que, lentamente, meu universo foi se modificando e hoje me encontro absolutamente perdida diante de uma prateleira de absorventes. Sou uma libriana típica e convicta, gente, isso não se faz! Colocar cinquenta e duas opções diferentes diante de um libriano e dizer Agora decide! é quase uma sentença de paralisia!

Se eu voltar no tempo revejo comerciais de TV que desfilam diante dos meus olhos. O primeiro deles é do Modess, palavra que serviu por um tempo como exemplo da marca que vira substantivo, do mesmo jeito que aconteceu com xerox, gilete, chicletes e tantas outras. Mas nesse caso o tempo fez evoluir o vocábulo e hoje nem sei se o saudoso Modess ainda existe.

Saudoso, sim! Pelo menos eu não tinha que pensar. Era ele e pronto, sem muitas reflexões. O máximo era decidir entre o modelo inicial e sua evolução. O primeiro era aquele com as tais pontas soltas na frente e atrás, que eu nunca entendi bem pra que funcionavam até ouvir a propaganda do novo Modess com tiras adesivas que, segundo o reclame, dispensava o uso de cintas ou presilhas. Cintas? Era pra usar uma cinta elástica com aquilo? Até é uma boa idéia considerando que, em tempo de regras, a regra é ficar com um barrigão inchado de dar raiva! Se não fosse cinta, então era presilha? Presilha de cabelo, tipo tic-tac? Como é que se prendia isso? E se o tic-tac pegasse onde não devia, tipo a pele ou um pelinho? Ui!!! Talvez presilha fosse um eufemismo para alfinete. Ai!!! Espetada de alfinete dói em qualquer parte, imaginem... ! Que horror! Felizmente vivi pouquíssimo tempo essa coisa das pontas soltas...

Quando surgiu o Modess com tiras adesivas seguido de outras marcas igualmente pegajosas (no bom sentido), uma das propagandas mostrava uma mocinha com um short branco e mínimo (para os padrões da época, é claro) e vinha a frase: incomodada ficava sua avó!

Propaganda enganosa, é óvbio. Sorte deles que na época não existia Procon. Tudo bem que o negócio não se mexia mais, mas tinha o tamanho de um talão de cheques e a espessura de uma Bíblia. Nem pensar em usar um shortinho minúsculo e, ainda por cima, branco! Vazamentos laterais, frontais ou traseiros eram líquidos, literalmente, e certos e a gente continuava apelando para as calças e saias pretas nesses dias.

Nova passagem do tempo. Vislumbro outro comercial, aquele que deu origem à quantidade absurda de opções que temos hoje e que deixa essa pobre libriana que vos escreve aturdida, abobalhada, incapaz de decidir.

Foi a vez do Sempre Livre Mini e a propaganda mostrava dois daqueles tijolões bem no centro de uma mesa. Em seguida, uma mulher colocava dois Sempre Livre Mini antes e três depois deles dizendo: para quando seus dias estão chegando, ou indo embora.

A ideia foi boa, não estou reclamando. Realmente, no começo, mas principalmente no finzinho, eu achava um verdadeiro desperdício jogar aquele tijolão fora com uma sujeirinha de nada no meio. Então os mini foram muito bem vindos.

Depois deles houve só mais uma inovação, essa sim pra lá de super-mega-maravilhosa. Estou falando das abas! Como somos mocinhas comportadas e cruzamos as pernas ao sentar, fatalmente espremíamos o absorvente que ia, mas não vinha, e lá estava criado o ambiente perfeito para os vazamentos laterais. As geniais abas acabaram com isso!

Ah! As abas! Maravilhosas abas que protegem como asas angelicais o elástico das nossas calcinhas. Depois das abas eu nunca mais tive de ordenhar os tais elásticos! O elástico, vocês sabem, é espesso e não poderia ser diferente. Vocês também não sofriam esfregando, enxaguando, olhando e achando que estava ótimo, para então dar uma última espremida no elástico e descobrir, desanimada, que tinha sobrado alguma coisa? Não era uma verdadeira ordenha? Minha vida é outra depois das abas... Mas podia ter parado aí!

Quer dizer, vou dar uma chance pros noturnos... Tenho de admitir que o noturno é tudo de bom. Quem de vocês nunca passou pela saia justa de ir dormir na casa de uma amiga, tia, avó, sei lá, e, ao acordar, ver terrificada aquela roda de sangue no lençol, colchão e tudo o mais? Eu passei por essa e minha amiga Alessandra vai se lembrar. Eu, pelo menos, não me esqueço. Que situação! Eu mal tinha saído da infância e abandonado os colchões plastificados por causa do xixi, não queria ter de pedir de novo um colchão barulhento por causa de um sangue impertinente. Desenvolvi minhas próprias táticas de guerra, todas abandonadas com o advento dos absorventes noturnos.

O mundo, por mim, podia ter parado ficado assim: mini, normal, noturno, todos com abas. Mais a versão sem abas dos dois primeiros, para aqueles dias em que a gente vai fazer massagem ou depilação... É meio chato absorvente com abas quando estaremos seminuas em semipúblico, não?

Bem, para ser absolutamente honesta, tem ainda o protetor diário, outra ideia interessante, embora eu continue a não entender uma das primeiras propagandas do Carefree e que circula, com algumas modificações, até hoje. A moça dizia: com ele eu tenho a sensação de estar sempre usando uma calcinha que acabei de tirar da gaveta.

Alguém pode me explicar? Se a gente usa o absorvente junto com a calcinha, no final do período ele estará tão imprestável quanto ela. Se fica trocando de hora em hora vai à falência e ainda leva o lixo urbano ao caos. Apesar desse senão da propaganda, eles são úteis, não há como negar.

Por fim, vem aquele que causa inveja, ciúme e, provavelmente, um certo frisson na macharada: o absorvente interno.

O pobre Príncipe Charles foi pego com a mão na cumbuca quando veio a público a comunicação proibida com a sua, na época, amante, Camila Parker Bowles, em que ele afirmava: queria ser o seu Tampax. Credo! E ela ainda está com ele? Fetiche puro! Será que algum dos rapazes que mandamos passear já se esquivou sorrateiramente para um banheiro, a fim de analisar escondido o conteúdo assustador e excitante de uma caixinha de O.B.? Aliás, que nome é esse? Tampax até dá pra fazer alguma associação, mas O.B.? OBstrução? Ofirício Bloqueado? O Buraco tá fechado? Esquisito, não?

Esse moçoilo deve ter ficado com uma certa inveja se, desavisadamente, fez pesquisas exploratórias com um Tampax super com aplicador. Aquele aplicador é realmente qualquer coisa de... fálico! Mas como é prático e higiênico...

Que os meninos fiquem lá com suas fantasias e que não nos escutem, mas não existe nada de menos excitante ou estimulante do que um absorvente interno. Pensamos em tudo na hora de colocar um deles, menos naquilo. A gente está inchada, irritada, com cólica, dor no seio, dor nas costas, dor de cabeça, vontade de chorar, de comer chocolate, numa posição estranha, num banheiro gelado... Definitivamente, nada pode combinar menos com clima de sedução do que absorvente interno. Nada! Talvez somente se compare em desconforto e constrangimento o exame ginecológico, a ecografia transvaginal e o exame de toque na gravidez. Vamos combinar que o Criador não foi muito camarada com a gente, né?

Resumindo: mini e normal, com e sem abas. Noturno, protetor diário, interno (com suas variações mini, médio e super). Estava bom, não estava? Mas não! Esse mercado consumista queria mais! E agora a gente chega na farmácia e tem de levar um banquinho e uma mesinha para consultar brochuras e poder decidir entre as opções anteriores e ainda: cobertura seca ou suave? Qual é a diferença, céus! Se a cobertura é suave então você não fica seca? E se é seca, então não é suave? O que significa não ser suave? É porque arranha? Sai pra lá!

E isso não é tudo! Tem gotinhas no pacote e o número de gotinhas vai de duas a quatro. Isso quer dizer que eu tenho de comprar um pacotinho de cada e, depois, fazer uma planilha de cálculos de fluxo e de horários pra saber quando passo de um pro outro? E que absurdo é esse de absorvente pra usar com calcinha fio dental? Com e sem abas, diga-se de passagem! Acho particularmente inútil usar absorvente com calcinha fio dental. Pra mim são incompatíveis, e deve ser por isso que nesse tipo de embalagem está escrito Teen. Quer dizer, ainda por cima, estão me chamando de velha!!! O que penso é que com esse tipo de calcinha usa-se logo um absorvente interno, não é? Já que é pra entrar mesmo, então que entre tudo de uma vez, em todos os lugares!

E até na tranquilidade e simplicidade dos absorventes internos acharam um jeito de complicar a coisa. Tinha com e sem aplicador. Agora tem o aplicador extensível. Passei pelo desespero de inutilizar dois absorventes internos antes de conseguir entender o funcionamento deles. E isso só aconteceu depois de ler o manual de instruções que veio na caixinha. Agora imaginem o ridículo da situação: eu estava num banheiro de livraria, tentando usar um absorvente interno para dar conta de uma intrusa que veio antes da hora, de mau humor, numa outra cidade para a qual eu tinha ido numa viagem do tipo bate e volta. Isso quer dizer que tinha rodado a noite inteira, passaria o dia andando na cidade e viajaria novamente a noite toda, ou seja, a perspectiva ou possibilidade de um banho era longínqua. Além disso, tinha todas as sensações ruins de início de menstruação e era obrigada a ler manual de instruções! Tudo bem que eu estava numa livraria mas, ora, faça-me o favor!

Esses dias não achei minha marca preferida com aquele aplicador simples e óbvio. Tive de comprar outra marca. Ao abrir a caixinha, descobri que todos são embaladinhos individualmente com plásticos em alegres e exuberantes cores bem vivas. Pra que isso? Pra disfarçar e parecer balinha dentro da bolsa? Pra combinar com a roupa? Ela será fatalmente preta! Ou será que sou só eu que não confio nem mesmo na eficiência das abas e não arrisco jamais uma roupa clara nesses dias?

Ah não! Nem imagino a possibilidade de retornar às impossíveis toalhinhas higiênicas, mas evolução tem limite. Quero de volta a simplicidade dos tempos intermediários. Já estou a ponto de me sentir minha própria avó e ficar como ela: incomodada. E, ainda por cima, completamente perdida!