quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Casal moderno

Cansada dos anos de papai-mamãe, resolveu que teria uma noite selvagem! Foi encontrada pela manhã. Eletrocutada pelo parceiro, o vibrador.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Roubaram a cordinha do mundo!

Era pra ser um email... Mas estava ficando imenso e é um assunto que gostaria de discutir com um monte de gente, sem esquecer o fato de que além de escrever a mensagem eu precisava também escrever um post aqui no blog (há tempos sem atualização), então decidi fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Como diz aquele antigo ditado política e ecologicamente incorreto, quis matar dois coelhos com uma cajadada só. E que ninguém do Greenpeace apareça por aqui!

Agora vivo dessa forma: costuro enquanto vejo televisão, preparo aulas usando assuntos e textos que me interessam, assim posso me divertir, me informar e trabalhar ao mesmo tempo, cozinho o que faz bem à saúde, ouço música enquanto trabalho, penso, logo existo, como disse Descartes. Mas só consigo pensar enquanto faço uma outra coisa... Ou duas. Ou três! Isso significa que não existo enquanto não faço nada?!

Não sei mesmo o que acho dessa vida que estamos todos levando... A mensagem que comecei a escrever era pra tentar acalmar as angústias de uma pessoa que pensa que não sabe mais algo que sabia, que não consegue fazer entrar mais conteúdos na cabeça e, ao pensar nela, acabei pensando em mim e numa série de outras ideias relacionadas. Como num hipertexto, um pensamento puxou outro, que puxou outro, que puxou outro e... é EXATAMENTE AÍ que está o problema!

Vivemos num turbilhão! Tudo gira à velocidade da luz ao nosso redor, tudo acontece ao mesmo tempo em todos os lugares e, embora novas e maravilhosas tecnologias tenham sido inventadas, ainda não acharam um jeito de um corpo ocupar mais de um lugar no espaço ao mesmo tempo. Quer dizer, agora tem aquela coisa da imagem holográfica, mas, mesmo assim, é só uma projeção de uma mesma pessoa em vários lugares. Uma projeção que fará a mesma coisa em todos os lugares. Ainda não existe a holografia que permite que eu dê aula na universidade, assista a uma palestra na Bienal, converse com os amigos num bar, passe tempo brincando com meus filhos em casa e ainda esteja dormindo pra descansar dessa maratona enquanto preparo a próxima... Não dá!

Só que me dilacero em mil pedaços pra tentar fazer tudo isso e fico orgulhosa de mim mesma porque consigo, literalmente, em partes. Mas aí encontro pessoas e vejo que elas fizeram outras coisas tão ou mais interessantes ou obrigatórias, coisas essas que eu mesma não consegui. E fico achando que sou incompetente, que não dou conta, que sou preguiçosa, que fico me enrolando em casa respondendo emails enquanto escuto música francesa pra ver se tem alguma novidade que possa ser utilizada em aula e, de quebra, me divirto um pouquinho já que gosto mesmo de música francesa e não dá muito tempo pra diversão. Mas, puxa vida, isso me fez deixar de ver o vídeo da Vanusa assassinando o Hino Nacional, além de não ler a notinha dizendo que o Collor é o mais novo "imortal" da Academia Alagoana de Letras e me impossibilitou completamente de participar do jogo Mafia Wars no Facebook, substituto do Orkut que, diga-se de passagem, está às moscas cibernéticas com centenas de recados sem responder além de fóruns de comunidades abandonados. E também não dá pra esquecer que não consegui fazer exercícios físicos, na verdade, bicicleta ergométrica sobre a qual pedalo enquanto devoro os romances que morro de vontade de ler mas que, como não são úteis para o trabalho ou para a prova de seleção para o doutorado que farei no fim do ano e nunca conseguem alcançar o primeiro lugar da fila para que eu possa saboreá-los, ficam juntando poeira na minha estante. Estante essa que está desorganizada, acumulando, além de poeira, os outros livros sobre os assuntos que me interessam ardentemente, os quais compro na esperança de um dia, quem sabe, poder pelo menos folhea-los. Compro os livros e, porque sempre estou atrasada para alguma coisa, os jogo de maneira apressada sobre essa estante que está esperando o dia em que conseguirei colocá-la em ordem. Nesse dia me lembrarei, mais uma vez, das tantas coisas que eu gostaria de aprender, estudar, construir, fazer, sem ter a mínima chance de sequer começar. E como é possível que tenha pessoas ao meu lado que conseguem ser melhores do que eu?!!!

É simples: não conseguem! O que acontece é que vejo o que elas executam, mas não tenho ideia do que elas gostariam de fazer, entretanto, não fazem. Só vejo as realizações e elas são muitas. Mas estou certa de que eu e todas essas pessoas mergulhamos constantemente a cabeça nas águas profundas da tristeza e da melancolia para observarmos de longe a imensidão do iceberg de desejos submerso sob um mar de falta de tempo. Com isso, não nos damos conta da pontinha desse iceberg de realizações que fica à luz do dia, para deleite, não nosso, mas dos demais, tão ocupados estamos em nos culpar e nos martirizar pelo que NÃO fizemos, pelo que NÃO conseguimos atingir ou realizar...

Escuto constantemente a seguinte frase: eu não sei onde você acha tempo pra fazer tudo o que faz! Sempre que escuto isso eu penso: Tudo o que? Eu não faço nem um terço do que deveria, isso sem contar que não faço nem um décimo do que gostaria! Estou constantemente em atraso e em dívida com os outros, comigo mesma, com minhas obrigações e, principalmente, com minhas vontades. E ainda tenho de conviver com pessoas que conseguem fazer as tais coisas que eu gostaria ou deveria! Que afronta!

Será que sou só eu que tenho vontade de urrar histericamente: PAREM ESSE MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!!!!!?

O que eu acho é que a gente tinha de mudar o ponto de vista. Não somos nós que não estamos fazendo todas as coisas que deveríamos ou gostaríamos. São as coisas que, por conta dos respingos líquidos de nossas lágrimas, estão se multiplicando como Gremlins que ficam ali no calabouço escuro da nossa culpa, pulando diante de nós e dizendo: Eu primeiro! Eu primeiro! Eu primeiro! E a gente olha abobado de um Gremlin pra outro sem saber por onde começar, dando conta de um, mas percebendo que surgiram três outros logo ao lado... Esses são os do mal. Os bichinhos do bem, os fofinhos e bonitinhos que não comeram depois da meia-noite, portanto, não arruinaram a dieta, aqueles que representam nossas vontades, nossa diversão e nosso prazer, esses ficam se multiplicando loucamente à distância, cada vez mais à distância, sem que a gente tenha a menor chance de chegar até eles porque temos um mar de Gremlins carrancudos, com os dentes à mostra e com etiquetas nas testas que dizem: Trabalho, Saúde, Manter-se informado, Estar em dia com as notícias econômicas, políticas, culturais e sociais, Atualizar o currículo, Fazer uma pós, Fazer uma certificação profissional, Aprender o quarto idioma, Limpar a caixa postal de emails, Fazer caridade, Cuidar dos filhos, Cuidar do corpo, Estar na moda, Ler Crepúsculo, Seguir o Twitter, Entrar no Facebook...

Vivemos uma época cruel em que a diversão, os prazeres e a liberdade estão todos expostos sobre uma linda mesa, decorados e apetitosos, iluminados por raios laser, cercados de sereias que cantam: Venha, tudo é possível, tudo está à sua disposição! Você pode tudo! O mundo é seu! As oportunidades estão aqui, sobre essa mesa, tudo é tão fácil. Você só não aproveita se não quiser... Só que estamos a centímetros de alcançar a tal mesa, as mãos e a cabeça livres, mas os pés presos às imensas bolas de ferro das nossas obrigações. As reais e aquelas que nos impomos por pressão nossa e do resto do mundo. Se todo mundo faz, então nós também temos de fazer, saber, ler, compreender, participar... Trabalhamos e corremos feito loucos uma vida inteira para nos livrarmos dessas bolas, pensando que quando chegarmos à aposentadoria poderemos, enfim, atingir a tal mesa para nos fartar e fazer o que quisermos do nosso tempo. Mas estou perdendo as esperanças... Quando observo meus pais, meus tios e outras pessoas aposentadas ao meu redor e vejo o quanto elas correm de um lado para o outro, sem chance de dar atenção a todas as suas obrigações nem de atender a pelo menos parte dos seus desejos...

E assim seguimos todos jogados de um lado para o outro, arrastados pelos pés, chicoteados no meio do turbilhão...

Se eu sei o que fazer pra sair dessa? É evidente que não tenho a menor ideia! Se soubesse o que fazer escreveria um livro pra dar essa receita ao resto do mundo. Provavelmente, passaria o resto dos meus dias dando palestras por aí, entrando e saindo de aviões, acordando cada dia numa cama de hotel diferente, sem o menor tempo de simplesmente... viver!

Olha, mesmo se eu descobrir como fazer pra fugir dessa armadilha, não volto aqui pra contar. Embora eu suspeite que escapar é impossível! O Belchior tentou e não é que foram encontrar o coitado escondido numa aldeia de dois mil e poucos habitantes? Não tem saída! Até mesmo eu, uma eterna, renitente e inconformada otimista, estou tendo de admitir que não há nada mais sábio do que outro ditado popular repetido pela antiga ministra: esse estupro é mesmo inevitável, o negócio é relaxar e gozar. Completando a série de lugares-comuns, vou mandar tudo o mais para o inferno (como cantou, mas agora renega, Roberto Carlos), dizimar meus Gremlins expondo-os à luz do sol e me abraçar a meus queridos filósofos hedonistas que diziam que a vida é pra ser vivida com prazer! Todo o resto é que não tem importância.