domingo, 28 de dezembro de 2008

Sim! Descobri como voltar a ser criança!


Esta semana foi aniversário da Ana Luíza e quem ganhou o presente fui eu! Ela quis comemoração com tema de fada e eu entrei num mundo cor-de-rosa, púrpura, fúcsia e furta-cor, cheio de glitter e de coisas brilhantes. Tudo o que eu precisava neste fim de ano era passar dias de fantasia depois de meses repletos de realidade. Preparei uma decoração cheia de fadinhas, flores, luzinhas coloridas, bolhas de sabão, roupa de fada e flutuei como Sininho, que agora mudou de nome e se chama Tinkerbell...


Enquanto percorria as lojas da cidade atrás de tudo o que pudesse usar nessa decoração, escutei vezes sem conta o eterno comentário de todo dezembro: Nossa! Já é Natal de novo e eu nem vi o ano passar! Pois quero declarar aqui que vi meu ano passar. Diferente do que me acontecia nos últimos tempos quando um Natal se sucedia ao outro sem que eu percebesse, neste ano fui criança de novo. Meu Natal demorou muuuuuuito para chegar.

Sempre achei que o fato de correr de um lado para o outro era o que fazia com que o tempo passasse tão rápido para nós, adultos. Achava que a agenda vazia das crianças era a responsável por fazer o tempo delas andar lentamente, mas estava enganada! Poucas vezes na minha vida tive dias tão corridos como neste ano em que quase enlouqueci e, no entanto, 2008 passou absurdamente devagar. Voltei aos meus tempos de infância!

Para as crianças o tempo não passa devagar. O que acontece é que todos os dias elas fazem alguma coisa nova, alguma coisa que nunca fizeram. Isso torna cada dia diferente do anterior. Como os dias são todos diferentes uns dos outros, então elas os vivem conscientemente. Elas vivem os 365 dias entre um Natal e outro! Portanto, o que faz o tempo passar rápido é a mesmice. Uma sucessão de dias idênticos. É quase como se, de dezembro a dezembro, houvesse um único e longo dia. É por fazer todos os dias a mesma coisa que ao chegar ao fim de um ano achamos que o tempo passou rápido demais.

Comprovei essa teoria sendo meu próprio ratinho de laboratório. Em 2008, procurei fazer coisas diferentes, coisas que nunca tinha feito. O resultado foi ter novamente a sensação de que meu Natal demorou uma eternidade para chegar, como quando eu era aquela menina que esperava ansiosamente pela vinda do Papai Noel... E não é uma questão de dinheiro. Não só de dinheiro, pelo menos. É principalmente uma questão de vontade de viver. Viver cada momento de maneira consciente.

Nesse ano que passou eu trabalhei muito. Demais. Exageradamente! E mesmo assim, fiz com que meus dias fossem diferentes uns dos outros...

Usei cores e tipos de roupas que nunca tinha usado. Usei cores nas roupas. Usei cores na maquiagem. Usei pelo menos sete cores diferentes de esmalte que jamais tinham passado pelas pontas dos meus dedos. Transformei meus dias num imenso arco-íris. Andei descalça na grama do Parque Barigui. Sentei embaixo de uma árvore e fiquei encostada no tronco, deixando que o sol queimasse o meu rosto. Caminhei por ruas da cidade que não conhecia. Fiz caminhos diferentes para percorrer percursos iguais. Por não ter mais um carro, quase só ando de ônibus ou a pé. Seja a pé ou seja no ônibus, viajei sempre olhando para cima, observando os prédios dessa cidade onde nasci, mas que pouco conhecia. Observei a fisionomia das pessoas, bisbilhotei a conversa alheia, prestei atenção às opiniões, às conclusões, aos raciocínios. Conversei com muitos estranhos e, nem que fosse por apenas dez minutos, prestei imensa atenção às suas histórias. Descobri que as pessoas têm histórias riquíssimas de vida pra contar. Perguntei sobre seus trabalhos e percebi quantas profissões diferentes existem e quantas coisas não sei fazer. Testei receitas novas. Fiz um jantar para doze pessoas com aperitivo, entrada, prato principal, queijo, sobremesa, café, chocolates e bolachinhas. Iluminado por velas perfumadas. Experimentei frutas que nunca tinha experimentado. Fiz geléias de laranja, limão, morango, jabuticaba e figo. Comprei marmelos e fiz marmelada. Escutei músicas que nunca tinha escutado de cantores que não conhecia. Ouvi novamente CDs que há anos estavam guardados. Assisti a filmes que já tinha visto e também a outros que queria ver mas sempre adiava. Usei roupas que há décadas não usava, assim como dei outras que acreditava que um dia ainda usaria. Conheci mais de vinte cafés diferentes na cidade e, em cada um deles, tentei pedir alguma coisa que nunca antes tivesse provado. Elegi um dia da semana para almoçar com amigos e procurei encontrar pessoas que não via há muito tempo. Quando não foi possível encontrar algum amigo nesse dia reservado, almocei em grande companhia: eu mesma e meus pensamentos. Dediquei várias horas a meus pensamentos sem achar que preciso sempre estar fazendo alguma coisa para me sentir útil. Organizei um churrasco para meus companheiros do ensino médio e pudemos constatar que amizades verdadeiras não morrem com o afastamento dos corpos. Juntei os e-mails trocados com um grande amigo em um único arquivo e escrevi o livro da nossa vida. Comi queijo e bebi vinho em dia de semana sem motivo nenhum. Tomei uma garrafa de vinho sozinha (experiência a não ser repetida em 2009!). Pulei numa cama elástica. Fiz uma aula de Hip-Hop. Comecei a fazer aulas de dança. Reorganizei os livros na estante. Visitei cidades às quais nunca tinha ido. Tirei milhares de fotos. Olhei fotos antigas. Fiquei hospedada na casa de pessoas que não conhecia pessoalmente. Abracei amigas que só conhecia virtualmente. Caí de uma cadeira e morri de rir. Quebrei uma taça na casa de uma amiga, espalhei a ração dos cachorros dela pelo chão. Fui ao salão fazer maquiagem para ir a um aniversário. Arrumei o cabelo em dia que não tinha festa. Corri de salto alto pela calçada. Fiz bijuterias. Fiz meu mapa astral. Consultei um tarólogo. Tomei florais. Escutei mantras. Encarei desafios profissionais. Andei de elevador com o Governador. Conversei com um senador, com um cônsul, com dois escritores. Enviei textos para seleções, entrei em algumas, fui negada em outras. Publiquei um trabalho em uma revista de patchwork. Escrevi dezenas de cartas e centenas de e-mails falando da vida, falando de mim, falando do outro. Espalhei bloquinhos por vários lugares e anoto ali todas as idéias que me passam pela cabeça: de novos projetos de patchwork a soluções para os problemas do mundo...

Dito assim pode parecer que meu ano foi só felicidade. Nada disso! Tive acessos de cólera. Pedi perdão a muita gente, inclusive a meus filhos. Enviei flores brancas em sinal de paz. Sufoquei meu superego e me concedi o direito de não ser perfeita: deixei de entregar trabalhos, faltei aulas na universidade, cheguei atrasada. Fiz isso porque percebi que meu corpo tem um limite e que precisa descansar. Permiti que meu corpo descansasse mesmo que isso significasse deixar algo por fazer e muita coisa ficou por fazer... Fiz promessas que não cumpri. Tive momentos duríssimos. Senti raiva e deixei que ela saísse. Senti tristeza, medo, solidão, mágoa, abandono... A diferença é que não tentei fazer de conta que nada estava acontecendo. Quando a tristeza veio, abri o peito e deixei que ela me invadisse. Chorei sozinha. Chorei acompanhada. Chorei escondida e também na frente de um monte de gente. Afundei na autopiedade e me senti abjeta. Vivi intensamente cada segundo da minha amargura para vivê-la toda de uma vez. Um dia acordei e percebi que ela tinha ido embora. A felicidade é um contraste em relação à tristeza. Sem nunca estar triste, como perceber que se está feliz?

Mas o que fiz de mais importante neste ano de 2008 foi deixar a generosidade entrar na minha vida. Generosidade comigo mesma. Percebi, abismada, que durante a maior parte dos anos que vivi anteriormente, o que mais disse a mim mesma foi uma infinita sucessão de nãos. Não posso, não consigo, não mereço, não tenho o direito, não faz sentido, não é justo, não é certo... Não, não, não... Sufoquei a mim mesma e a meus desejos sob toneladas de nãos até que uma duplinha formada de preposição e pronome interrogativo veio se juntar a esse advérbio. Um simples por quê? Por que não? Foi então que um Sim ainda muito tímido, atrofiado e pálido por conta dos anos enfurnado num quartinho escuro começou a dar o ar de sua graça na minha vida.

2008 foi o ano em que o Sim! entrou no meu vocabulário. E foram vários deles que disse a mim mesma nesses meses que passaram. O maior deles há poucas semanas...



Que venha 2009! Quero preencher os seus dias com muitas outras experiências para fazer com que o próximo Natal, assim como o próximo aniversário da Ana Luíza, demore uma eternidade para chegar. Quero ter muito tempo para andar de braços dados com esse Sim que acabei de conhecer.

Não faço mais promessas de ano novo. Agora só estabeleço desejos de ano novo. As promessas sou eu quem tem de cumprir. Os desejos pertencem em parte ao destino... Então, um 2009 repleto de novas experiências e com a presença do Sim a cada dia é o que eu desejo para todos nós!

Até o ano que vem!

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Se correr ainda dá tempo de fazer o vestibular!

Descobri uma coisa maravilhosa! Se eu fosse uma boa vendedora ganharia dinheiro com isso, mas, como sou incapaz de vender qualquer coisa que seja, lá vai a idéia de graça mesmo: se você quiser reduzir a quantidade de mensagens que recebe, faça um curso de Letras! De preferência, passe a assinar como Fulano de Tal, Professor de português. Sua caixa postal vai minguar em poucos meses, vai por mim!

Eu já tinha desconfiado disso, mas semana passada tive a confirmação definitiva! Recebi um e-mail do meu querido primo, amigo, padrinho de casamento e recém-contratado advogado, Paulo Horácio, com o seguinte P.S.: pela correria, vai sem correção o e-mail... hahahah

E essa não foi a primeira vez que recebi esse tipo de ressalva, seja por escrito, seja pessoalmente! Claro que isso não acontece com todo mundo, mas duas situações são freqüentes quando meu interlocutor sabe que sou da área de Letras: ou evita escrever, ou então escreve frases rocambolescas, com um vocabulário que eu mesma tenho de sair catando no dicionário. Acho que pensam que eu vou devolver as mensagens cheias de correções de ortografia e gramática ou que vou desprezar o texto se em vez de tertúlias débeis para dormitar vacum o meu correspondente escrever conversa mole pra boi dormir! Será que com os psicólogos acontece a mesma coisa, ou seja, será que tem gente por aí que evita conversar com eles, nem que seja em mesa de boteco, de pavor de pensar que será analisado?

Quando contei para uma amiga da França que ia começar a dar aula de francês, lá veio o retorno: agora não vou mais poder te escrever. Não! Por favor, não me abandone!!! Eu não corrijo e-mails nem com caneta vermelha (trauma abominável de infância), nem a lápis (conforme mandam as modernas teorias pedagógicas anti-trauma, idéia de algum psicólogo, talvez.)

O fato é que estou começando a viver na pele a história que ouvi de uma professora de português, colega numa escola em que eu lecionava ainda na época da informática. Ela contou que um dia recebeu um cartão de Natal de um amigo no qual estava escrito: Feliz Natal! E nada mais. Bem embaixo, em letras miúdas, quase tímidas, um P.S.: Desculpe os erros de português.

Ela contou essa história meio pesarosa, amargando o abandono epistolar que estava vivendo porque os amigos simplesmente não lhe escreviam mais. Nem um bilhetinho sequer. Tudo por medo da cometer uma gafe. Aquele amigo tinha sido um dos raros corajosos a vencer o medo de ter seu texto lido, corrigido e analisado por uma professora de português. Entre um suspiro e outro ela acrescentou:

- E o pior é que ele estava indo super bem! Mas errou no P.S. Desculpar é verbo transitivo direto e indireto, portanto, deveria ser desculpe-ME pelos erros de português, afinal, quem deveria ser desculpado era ele e não os erros...

Eu não sou assim não, tá? Pode me escrever mensagens que eu não fico procurando erros e não dou a mínima para eles quando aparecem! Comigo ninguém corre o risco de ir parar numa daquelas listas tipo pérolas do ENEM! Além do mais, minha formação é em Letras Francês e não Português. Não tive uma única aula sequer de gramática nos oito anos que fiquei na faculdade, fique sossegado! Me escreva, me escreva! Olha aí! Até eu cometo erros quando uso essa próclise de pronome átono em início de frase, verdadeiro assassinato à gramática. Se Napoleão Mendes de Almeida ainda fosse vivo, teria acabado de bater as botas!

Deve ter ainda vestibular para curso de Letras rolando por aí. A partir do momento que começar o curso passe a assinar Fulano de Tal, estudante de Letras. Com o tempo que vai sobrar por conta das mensagens que não vai mais receber, você pode visitar este blog e me escrever um pouquinho! Sem medo de ser feliz!!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Foi ontem, mas tudo bem...

Ontem este blog completou um aninho de vida... Não sou de ficar me ligando a datas, como já tive a oportunidade de dizer, mas queria fazer uns agradecimentos especiais, ainda que com um dia de atraso. Como boa libriana que sou, vou listar agradecidos em ordem alfabética. Justa e imparcial! Com isso quero dizer que nenhum dos que aqui será citado é mais ou menos importante. Só teve a sorte ou o azar de ter a inicial no começo ou no fim do alfabeto.

Começo, então, por agradecer aos meus filhos, Ana Luíza e Felipe. Eles não lêem esse blog, nem imaginam que ele existe, nunca leram meus textos. Mas cada tempo que dedico a alguma coisa, é tempo tirado deles. Como me dedico a várias coisas, são vários também os tempos que surrupio dos dois o que, obviamente, me enche de culpa. Quando me ausento por conta de trabalho, tudo bem, aplaco um pouco minhas crises de consciência. Mas escrever por aqui é ato de puro prazer, então, lá vêm as chibatadas morais que me aplico todos os dias. Agradeço, portanto, à compreensão dos dois, ao fato de eles continuarem a gostar de mim, apesar das minhas ausências que nos últimos meses chegaram a níveis insuportáveis.

Aos meus bleitores, ou seja, todas essas pessoas conhecidas e anônimas que passam por aqui uma vez, algumas vezes ou muitas vezes. Aos que deixam comentários sempre, aos que comentam apenas uma vez, aos que me mandam mensagens, aos que me escrevem no Orkut, aos que falam pessoalmente comigo e aos que não dizem nada, apenas chegam de mansinho e aceitam conhecer um pouco de mim. Desde abril tenho um contador de acessos que me mostra uma série de coisas interessantes. Entre elas, a média de acessos diários. Comecei com 11 acessos e hoje estou em 20. É um crescimento inesperado para mim e me anima a continuar. Tenho bleitores internacionais, vejam só! Alemanha, Austrália, Suíça, França (sei quem são todos vocês!)... E todos os meus bleitores brasileiros, de norte a sul do país, alguns que me surpreendem imensamente quando descubro que me acompanham. Tudo isso me impressiona, de verdade!

Ao escritor, poeta, cronista, professor e ser humano singular Fabrício Carpinejar. Uma série de acasos fez com que nos encontrássemos pessoalmente por algumas horas em Curitiba em novembro do ano passado. O que conversamos naquele dia me encheu de coragem e, por causa daquela conversa, comecei este blog. Deu no que deu. Um aninho, com direito a textos publicados em livros e grandes planos para o futuro. Fabrício, acho que você nem imagina que teve participação tão grande nesse processo! Espero que um dia possa ter também participação nos lucros! :-)

À minha amiga Giuseppina Loffredo. Ela tem um blog também, mas prefere ficar incógnita. Há anos (em torno de cinco para ser um pouco menos inexata) me mandou um e-mail dizendo: Decidi contar a história da minha vida e quem vai escrever o livro é você! Ela não foi a primeira a mencionar que eu devia escrever, mas foi a mais insistente. É minha parceira nas artes dos retalhos e também na das letras. Mais do que isso, é parceira na vida, de uma forma que me desconcerta, às vezes.

Mariane Corbetta é outra amiga, também blogueira, também incógnita. Mas tinha de ser mencionada aqui. É minha comentadora mais assídua! Mas principalmente, veio dela o incentivo para participar da primeira seleção, que gerou minha primeira publicação, e tudo o mais que veio depois! Nossos caminhos, certamente, não se cruzaram por acaso, Marie. Embora a forma como tenhamos nos conhecido tenha sido exatamente assim: um gigantesco acaso!

Last but not least, em absoluto, a Vidal, meu marido, companheiro, parceiro, cúmplice. Presença constante e firme. Sinaliza sempre o norte, mesmo quando me perco e depois me acho, vagando em tantas direções. Atravessou esses anos comigo e esteve sempre ao meu lado, assim como eu estive ao lado dele. Não sei como nos classificar. Já fomos idênticos e também totalmente opostos. Daqui por diante, não imagino como seremos. O que sei é que hoje resta pouco da mulher com quem ele se casou há quase quinze anos e mesmo com toda a ebulição, transformação e estremecimento pelos quais passei, e continuo a passar, ele, ainda assim, quer estar ao meu lado. Sou uma mulher de sorte!

Que venha um novo ano. Que ele seja tão cheio de surpresas como foi este. Que eu continue a ter idéias, mas principalmente, que eu continue a encontrar tempo pra escrever por aqui. Isso economiza muito em terapia!

Vou assoprar velinhas, comer brigadeiros e recolher mais palavras soltas por aí!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ninguém é perfeito. Ninguém MESMO!

Inauguro uma nova série neste blog: a dos pensamentos vapt-vupt! Aquelas idéias que me passam pela cabeça e que são personal trainer dos meus neurônios. Botam os bichinhos em movimento e não deixam que meu cérebro se acomode. São reflexões filosóficas, transcendentais, metafísicas, na grande maioria das vezes, inúteis. Mas o que seria da vida sem as coisas inúteis que pensamos? Que coisa mais horrível um tempo preenchido somente de utilidades! Sem nossos devaneios absolutamente dispensáveis talvez fôssemos todos Dom Casmurros, aproveitando o bonde da minissérie que começou ontem.

Portanto, aqui vai meu primeiro pensamento vapt-vupt: A jaqueira é, certamente, um erro de projeto de Deus!


Essas frutinhas aí da foto são jaquinhas bebês que eu fotografei de longe, em absoluta segurança, felizmente. Dizem que os frutos podem chegar a pesar 30Kg, embora no Brasil tenham sido registrados somente frutos de apenas 10Kg. Que sorte de quem estava fazendo uma siesta embaixo dessa jaqueira, não? Com certeza 10Kg de jaca na cabeça são bem menos predudiciais do que 30! Sem falar naquela casca cheia de pontinhas. Sei não, mas acho que Deus também sofre de TPM! É a única explicação que eu encontro pra essa piadinha botânica de mau gosto. Já pensaram se Sir Isaac Newton, em vez de descansar sua beleza sob uma macieira, estivesse sob uma jaqueira?! Não saberíamos nada sobre a lei da gravidade e, hoje, não existiria lipoaspiração, lifting, nem Botox! Hummmm... Estou começando a lamentar o fato de não existirem jaqueiras na Inglaterra...

É óbvio que uma jaca jamais poderia nascer pendurada em árvore! Ela é a prima-irmã-baranga da melancia. Tinha de nascer rasteirinha pelo chão e se dar por feliz se alguém quisesse provar seu conteúdo gosmento. Eca! Eu sei que tem gente que gosta. Eu mesma tenho uma super-mega-blaster-amiga que adora. Decididamente, ninguém é perfeito. Nem mesmo Deus!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

:-D

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Tudo o que eu queria era poder ver um jogo Atlético-PR x Corinthians no ano que vem!!!

E saiu melhor do que o esperado: ficar na primeira e ainda participar da Sulamericana? Só espero que meu amigo torcedor do Internacional retribua a gentileza deste ano!

Fim de semana em São Paulo: lançamento de livro, muita risada com as amigas, dar abraço real em amiga que até anteontem era só virtual, passeio pela 25 de Março, almoço no Mercado Municipal e mergulho na Livraria Cultura (não tenho mais cartão de crédito: agora tenho cartão de DEScrédito!)... Coroando tudo: um lindo dia de sol!

Para estar tudo perfeito só faltava eu não ter uma pilha de provas para corrigir, ainda algumas aulas para dar e um último e torturante trabalho da faculdade para fazer! Tudo bem! O mundo não é perfeito, mas é um lugar onde a gente é feliz muitas vezes!!!

:-D

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Subo pra cima, claro!

Há algumas semanas fui acusada, vejam bem a gravidade do termo, acusada de ser uma torcedora passional! O mais impressionante é que meus detratores são torcedores e também profissionais das palavras, o que só causou espanto maior. Ora, torcedor passional entra na categoria gramatical do pleonasmo, ou seja, uma redundância, a repetição desnecessária de uma idéia. O mesmo que entrar pra dentro, sair pra fora, subir pra cima, assim é torcer passionalmente. O torcedor que não é passional, simplesmente não é torcedor. Pode ser classificado como simpatizante, fazedor de tipo, aquele que quer se sentir parte da tchurma, qualquer coisa dessas, mas torcedor de verdade, não é!

Compunha a mesa nesse dia um torcedor do Coritiba, um do Internacional, um neutro e esta que vos escreve, pobre Atleticana sofredora. Eu não tinha nem sentado à mesa, estava ainda na fase do Oi, tudo bem? e, ao me declarar Atleticana, comecei a ser atacada pelos outros dois torcedores. Um por motivos óbvios o outro por motivos que eu ignoro (ele até tentou justificar, mas não me convenceu...).

Basicamente, eles diziam que nós, Atleticanos, defendemos o time com unhas e dentes. E aí eu digo: é CLARO que fazemos isso! Somos torcedores com sangue nas veias, unhas nas pontas dos dedos e lágrimas nos olhos, ora bolas! Essa coisa de análises imparciais sobre o desempenho do time, a atuação do técnico ou a administração do dirigente é para quem não torce de verdade! Torcedor é como mãe italiana ou judia: o filho sempre tem razão! Depois, em casa, a gente se acerta, dá uns sopapos, bota de castigo. Mas fora de casa é defesa armada da cabeça aos pés, é evidente!

Eram dois marmanjos contra mim (acho que o torcedor neutro só interferiria para desviar pratos, ou pior, facas, que começassem a voar pelo restaurante) então, para tentar amenizar o clima, o assunto mudou para Seleção Brasileira. Piorou! Apesar de brasileira, em relação a esse grupo de pessoas não sou mais torcedora. Joguei a toalha, saí de campo, debandei geral. Não chego a torcer pela Argentina, é claro, mas o que acontece com a Seleção Brasileira para mim é absolutamente indiferente! Não sou mais torcedora porque acho que ali não tem mais jogadores. Tem pessoas que correm displicentemente atrás de uma bola, buscando a câmera mais próxima pra fazer uma firula qualquer e conseguir a atenção de algum time europeu, outro contrato milionário ou uma namorada do tipo manequim-modelo-e-atriz.

Faz duas copas que simplesmente ignoro o que acontece com esse ajuntamento de homens preocupados com tudo, menos com a camisa que vestem. Uma pena porque algumas das melhores lembranças que tenho de infância e adolescência estão ligadas aos períodos de copa do mundo. Mas as decepções foram tantas que admito que desisti da Seleção Brasileira de futebol. Não sou mulher de ser abandonada e de ficar chorando pelos cantos. Não sou rancorosa ao extremo, choro um pouquinho, faço umas manhas, até tento a reconciliação uma ou duas vezes, no máximo, mas depois deixo para lá quem me despreza e vou buscar outra paixão. Eu sou mais eu! Há alguns anos me senti abandonada pela Seleção Brasileira e pronto! Por isso fiz o comentário que gerou uma chuva ainda maior de ataques de meus companheiros de garfo daquele momento:

- Para mim, a Seleção tinha de ficar fora de uma Copa do Mundo. Só assim, quem sabe, eles voltariam a ser um time de verdade.

- Ah não! Péra lá! Isso não! Imagine, a Seleção fora da Copa é uma catástrofe!!!

- Exatamente! Foi isso que eu disse: a queda das torres gêmeas, a Seleção fora da Copa... As catástrofes mudam o mundo e só uma catástrofe dessas proporções é que poderia mudar alguma coisa!

- Olha só como são os Atleticanos! O time deles está mal, então eles querem que aconteça alguma coisa ainda pior pra desviar a atenção!

Pronto! Voltamos aos ataques pessoais...

Muito pacientemente vou explicar hoje o que não consegui no outro dia porque meus colegas comensais simplesmente não permitiam que eu emitisse minhas opiniões, tamanha era a indignação deles.

É claro, óbvio e ululante que um torcedor vai tentar justificar a má atuação de seu time por fatores externos! A culpa é sempre do juiz, do bandeirinha, da CBF, do governo, da bolsa de valores, do gramado, da posição do vento, da inclinação do Sol, de São Pedro, dos anjos celestiais ou até mesmo de Deus e jamais do nosso time! E se não der para botar a culpa em nenhum desses, então vamos desejar uma hecatombezinha qualquer pra desviar a atenção, lógico! O kit básico do torcedor inclui a paixão, a cegueira, a falta de raciocínio, o desespero, além de uma coleção invejável de palavrões. Torcedor que é torcedor só reconhece que o time está uma droga quando está entre seus pares, chorando baldes de lágrimas e afogando as mágoas em latas e mais latas de cerveja, ou em um prato de brigadeiros, como no meu caso. Diante dos outros, nem pensar!

Meu último domingo foi, mais do que literalmente, AFLITO! Por causa dele, passarei uma semana angustiada e só sossegarei no fim do próximo domingo. Estarei longe de qualquer televisão ou radinho de pilha, porque meu coração não aguenta! Na final do campeonato brasileiro de 2001 fui passear num shopping. Eu sou assim, passional. Torcedora de sangue rubro. E, nesse momento, infelizmente, pensamentos negros...

A semana será longa. Mas rezarei novenas, acenderei velas, invocarei espíritos, entoarei mantras, dançarei coreografias tribais. Se nada disso funcionar, costurarei caprichosamente um conjunto de vodus nos quais espetarei todos os alfinetes e agulhas que encontrar pela casa. Tudo para que a expressão descer pra baixo não esteja no meu vocabulário da semana que vem!

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Freddy Krueger atacando de motosserra elétrica vestido de Papai Noel?!

Estranharam o título deste post? Pois é. Eu também estranhei muito quando recebi o convite para participar de mais uma seleção de textos para publicação de uma antologia. Contos de terror e suspense cuja ação acontece no Natal? Que coisa mais doida!

E, no entanto, dias depois uma idéiazinha muito etérea veio surgindo na minha cabeça, quase como um fantasma... e não é que acabei escrevendo um conto de suspense de inspiração natalina? A gente vive cem anos e nunca chega ao fim das surpresas em relação aos próprios limites!

A boa notícia é que o editor também gostou e agora meu conto faz parte de uma antologia que será lançada no próximo dia 7 de dezembro!


Eu estarei lá, é claro! Quem estiver em São Paulo nesse dia e também quiser aparecer, será uma imensa alegria!

Embora eu não seja nem um pouco chegada a banhos de sangue (e a maioria dos autores dos contos da antologia caprichou nos efeitos especiais) reconheço que há estórias muito boas, daquelas que fazem a gente esconder a cabeça debaixo da coberta na hora de dormir. Para quem gosta do gênero, o livro vale a pena. Para quem não gosta, também! :-) No mínimo é interessante observar as cenas escabrosas motivadas por ceias, pinheirinhos, pacotes de presentes, Papai Noel,.... Brrrrrrrrr! De arrepiar!

Esta é minha segunda publicação em antologias, a segunda também pela Andross. Aproveito para agradecer publicamente ao organizador, Edson Rossatto, pela idéia, pelo empreendedorismo, pela oportunidade e pela imensa capacidade de trabalho! Estou para ver uma pessoa mais online que ele! 24 horas por dia, é de assustar!

Embora seja a segunda publicação em antologias, é a primeira em forma de conto. E é absolutamente inédito, ou seja, nunca apareceu nem neste blog, nem no outro. Para conhecer o desfecho do texto que escrevi cujo título é Cai o véu, vai ser necessário ler o livro! Chantagem? Só um pouquinho para combinar com o clima sobrenatural da publicação...

O livro se chama Réquiem para o Natal e está em pré-lançamento na Livraria Cultura.

Aí vai uma palhinha do conto, pra ninguém dizer que sou malvada... demais!

"A angústia inundou seu peito e ela sentia que alguma coisa muito grave estava para acontecer. Andava de um lado para o outro quando parou subitamente, o espelho às suas costas. O relógio começou a bater novamente, anunciando a meia-noite."

(trecho do conto Cai o Véu que faz parte do livro Réquiem para o Natal da Andross Editora)

Réquiem para o Natal - lançamento
Data
7/12/2008

Local

Espaço WN
Rua Jorge Augusto, 668
São Paulo - SP (próximo ao metrô vila Matilde)
http://www.espacown.com.br/

Horário

das 17h às 20h

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Esperança

Essa foto foi tirada hoje por um grande amigo, num parque na cidade em que ele mora. Obviamente não é Curitiba, mas pelo clima que temos tido, quase poderia ser.

Quis imortalizar também por aqui, porque acho que o nome que ele deu para a foto, que é também título deste post, diz tudo...

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É minha última semana de faculdade. Estou a dois trabalhos e quatro dias de terminar esse curso que comecei em 2001. Eu sou essa frutinha vermelha no meio da neve! A personificação da esperança!

domingo, 23 de novembro de 2008

Todos podemos!

Assisti ontem a um filme no Canal Futura chamado De repente, Gina. É um filme excelente e realmente faz pensar.

Pensar, principalmente, que a correria que vivemos não pode ser desculpa para não fazer nada contra o seguinte fato: milhares de pessoas no mundo morrem de fome a cada dia.

Em 2000 a Reunião de Cúpula das Nações Unidas assinou um acordo chamado Declaração do Milênio no qual estão estabelecidas as Metas de Desenvolvimento para o Milênio. São oito metas, realmente objetivas, isto é, nada de demagogias. O que eles propõem é possível de ser alcançado. A primeira delas é reduzir pela metade, até o ano de 2015, o número de pessoas que morre de fome no mundo.

Qualquer um pode colaborar. Qualquer atitude conta. Divulgar num blog, por exemplo. É pouco, mas espalha a notícia.

Por isso incluí por aqui um link para a página oficial do projeto (está em inglês). E foi com orgulho que pesquisando o site vi que é citado o programa Fome Zero do Brasil para descrever o que já foi feito até agora para atingir esse objetivo.

De 2000 a 2015 são 15 anos. Passamos pouco da metade do tempo, o que significa que podemos ainda fazer muita coisa! Não direi aqui o que eu pretendo fazer a respeito. Não estamos numa competição para ver quem faz mais ou melhor. O que espero com esse post é divulgar, lançar a idéia. Depois, cada um vai atuando do seu modo, na medida das suas possibilidades, como um exército de formiguinhas anônimas. A notícia que quero ler em 2015 é aquela que dirá que outras metas foram estabelecidas para 2030. Isso vai significar que aquelas de 2000 terão sido atingidas!

O filme será repetido no Canal Futura hoje às 22h00. Eu recomendo!

domingo, 16 de novembro de 2008

Diversidade cultural nem sempre cheira bem

Mais uma vez, o que seria comentário de post em um blog, virou post no meu próprio. Esse mundinho da blogosfera é realmente muito interessante.

Também não dá pra ignorar o fato de que estou ensandecida, enlouquecida e desvairada por conta do fim do ano e sua habitual correria. Como tenho repetido sem cessar, quero chegar eu mesma ao fim do semestre e não ele ao fim de mim. Portanto, não há tempo algum para meus próprios escritos, fico só vampirizando blogs alheios, chopinzando as idéias do próximo. Espero ser perdoada por isso no dia do Juízo Final.

Voltando ao comentário que virou post, desta vez foi o divertidíssimo texto do Chéri à Paris que me inspirou. Vale a pena dar uma lida!

Ele me fez lembrar de um fato recente. Uma amiga, também professora de francês, esteve em Lyon no início do semestre para ensinar a língua de Nicolas Sarkozy a um grupo de estrangeiros. Todos os anos, estudantes dos cinco continentes vão à França e precisam aprender francês para poder acompanhar os cursos nos quais se inscreveram. A turma que essa amiga conduziu nos meses de agosto e setembro tinha vários chineses e a presença deles em sala gerou momentos de pura tensão cultural...

Além da conjugação dos apavorantes verbos, acompanhados de suas misteriosas preposições, sem contar as artimanhas arrepiantes da ortografia francesa, a professora teve de repetir à exaustão outros tipos de estranhas lições a fim de que seus alunos compreendessem definitivamente que Não! Soltar pum em público é uma coisa que não se faz no ocidente e que Sim! Comer queijo é fato natural nesta metade de cá da terra!

Verdade! Os chineses tinham crises quase incontroláveis de engulhos diante de pedaços de queijo, o que me faz pensar no porquê de terem escolhido a França para estudar... Deve ser algum componente masoquista de personalidade, só pode. Ao lado disso, aparentemente a cultura deles defende que nada deve ser guardado dentro do organismo sob pena de envenená-lo. Isso significa que qualquer fluido corporal que esteja querendo sair, não só pode, como deve abandonar as entranhas da carne o mais rapidamente possível. Não dá tempo nem mesmo de pronunciar, como num exorcismo, Sai que este corpo não te pertence! Quando menos se espera, PRRRRRRRRR, o flato abandona os meandros intestinais e ganha a liberdade do ar livre. Ar este que era livre, mudando para a condição de condenado a provocar engulhos, desta vez, nos ocidentais que por azar estiverem por perto naquele momento.

O mais engraçado é que eles têm total carta branca para liberar o metano interno mas, que Buda os fulmine, não podem de maneira nenhuma assoar o nariz em público. Tal atitude é considerada extremamente grosseira e mal educada, portanto, eles fungam sem parar.

Acabo de detectar uma incoerência no sábio pensamento oriental: por que o ranho pode ficar dentro do organismo e o pum, não? Sei não, mas começo a desconfiar de que não se trata de sabedoria oriental coisíssima nenhuma. Tudo não passa de uma grande sacanagem! O que não fede, fica dentro. O que fede, que saia pra atormentar o nariz alheio. Pois, sim!

Eu até estava começando a concordar com a tal da milenar filosofia oriental. Realmente ficar guardando aquilo que nos envenena não é atitude inteligente. O problema é que, muitas vezes, desenvenenar o próprio organismo significa envenenar o organismo alheio, o que, convenhamos, não é muito justo.

Minha amiga deve ter tido dificuldades imensas nesse curso de verão para estrangeiros. Primeiro, por motivos óbvios, deve ter sido difícilimo respirar fundo para tentar manter o ar de civilidade diante do som e do perfume que decidiam participar das aulas sem serem convidados. Depois, imagino que a tarefa de convencer um chinês de que ele não podia empestar o ar com seus gases internos foi hercúlea. Se algum deles parou para refletir um pouco deve ter perguntado imediatamente porque seus flatos causavam tanto mal se alguns queijos franceses cheiram a... Bem, alguns deles exalam os mesmos aromas que os puns que os orientais deixavam partir livremente em classe. Realmente complicado justificar porque cheiro de pum no supermercado ou na geladeira pode e na sala de aula não pode.

Portanto, aqui vai um conselho ao ocidental desavisado que decida dar dar um rolé pela Europa: ao topar com olhinhos puxados em ambientes fechados, fuja! Nada contra os orientais, é questão de diferença cultural e blá, blá, blá... Mas alguns aspectos culturais é melhor que sejam vividos bem longe e, de preferência, a sós!

Para aqueles que decidirem visitar a China... Dizem que Vick Vaporub na entradinha do nariz ajuda um monte!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Que saudades do arco-íris

Era pra ser um comentário no blog da minha amiga Carol. Mas como sou verborrágica (fiquem calmos! isso aparentemente não é contagioso...) e a indignação é grande, virou post por aqui.

Pra entender tudinho, tem de ler o post da Carol primeiro.

Pois bem, desde que eu, Carol e também Carol (minha irmã) tivemos um animado papinho no qual a Carol do blog nos explicou esses modernos conceitos dos relacionamentos humanos eu fiquei, como manda o novo vocabulário das gírias para demonstrar estupefação, bege. Fazíamos um lanchinho na minha casa (aliás, precisamos repetir! Minha balança já regrediu o suficiente) quando ela começou a discorrer sobre esses novos tipos de relação entre homens e mulheres. Estanquei de um minuto a outro e permaneci de boca aberta, meu naco de pão caseiro coberto com minha geléia de morango também caseira parado no ar, sem compreender o mundo, com a estranha impressão de que dormi por alguns séculos congelada em alguma máquina e acordei no futuro cinza-chumbo dos filmes de ficção. Até já comecei a escrever sobre isso, mas cadê o tempo? No futuro da ficção ele também não existe mais, assim como as relações humanas...

Enfim, concordo com a Carol, isso não é relacionamento! JAMAIS será! Também estou de acordo que uma mulher assumirá o papel, para lá de secundário, de Falcatrua se, e somente se, aceitar. O que quero dizer é que no mundo ideal ela poderia simplesmente se recusar. Até acredito que há mulheres que queiram exatamente esse tipo de vivência (ia escrever convivência, mas me contive a tempo). Só que gravitamos no mundo real, e o mundo real é habitado por um monstro imaterial, logo, incolor, mas sufocante que atende pelo nome de Solidão. Apesar de imaterial e incolor, a tal da solidão pode ganhar consistência e acabar ficando ainda mais negra do que a alcunha de Falcatrua, Pegação, Cadastro, Mulher Pantufa - aquela que só se usa em casa (Carol, você esqueceu de mencionar essa importante categoria!) - ou qualquer outra tão ou mais perversa do que essas. E isso tudo é desolador...

Conversando com minha terapeuta (sim! preciso disso para não enlouquecer de vez), acho que ela definiu exata e tecnicamente esse novo tipo de encontro físico entre pessoas (não dá pra chamar de relacionamento e meu dicionário ainda é do mundo em que eu vivia). Trata-se de uma masturbação a dois. Não passa disso. Uma das nossas modernidades. O que antes era praticado sozinho, agora é feito a dois. Ou três. Ou quatro. Ou quantos estiverem na balada naquele momento, outra situação que já vi por aí em reality shows na TV a cabo e que me deixa de uma cor de indignação ainda indefinida. Portanto, nessa nova modalidade de masturbação, o parceiro tomou o lugar da mão, vibrador ou boneca inflável. Com a vantagem de se lavar sozinho depois, nem mesmo esse trabalho o descendente de Onã terá!

Parênteses cultural: Onã é personagem bíblico que teve de transar com a cunhada, mas decidiu literalmente fazer nas coxas, desperdiçando o sêmen, tal como acontece na masturbação. E daí veio a palavra onanismo que é meio sinônimo de masturbação. No fim das contas, um jeito chique de abordar o tema, ou de esbanjar cultura inútil geral, ou, então, uma maneira de falar do assunto na frente das crianças acreditando que elas não estão entendendo nada. Blogs também podem ser educativos!

Aliás, fazendo a pesquisa sobre onanismo (muito sábio esse Google), descobri uma coisa que pode acabar com o mercado das Falcatruas e quem sabe os homens (e também algumas mulheres) voltem a querer namoros como no tempo em que eu vivia. Uma engenhoca japonesa que primeiro me fez ficar roxa de rir para, em seguida, empalidecer de tanto chorar. Aonde vamos parar?!! Haja lugar na casa para guardar tanta tralha!!! E eu que sofria em pensar onde arrumaria espaço para o processador de alimentos cuja poupança, que estou fazendo há meses, já quase é suficiente para comprar... Definitivamente, passei anos em estado de catatonia, a fila andou, o mundo girou e eu fiquei parada no tempo.

O que mais me assusta é que esse nem é o mundo que meus filhos encontrarão quando saírem de casa para procurar companhia. Se em poucos anos desde minha solteirice até hoje ficou assim, sinto que ainda passarei por várias cores de pasmo e indignação antes de voltar a ser pó acinzentado. Na minha época a gente chamava um relacionamento inconseqüente de amizade colorida. Hoje vejo que ela simplesmente perdeu a cor.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A esperança tem gostinho de cereja!

Era pra eu ter escrito ontem, mas por motivos vários isso não foi possível, então vai hoje mesmo porque o sentimento continua igual ainda que com uma noite muito mal dormida no meio :-)

Pode ser que daqui a alguns meses ele já tenha passado, é possível que um dia a decepção tome o seu lugar como já aconteceu antes, não importa! Hoje eu sinto uma enorme, alegre e luminosa esperança! Tudo por conta da eleição do novo presidente dos Estados Unidos.

Não acompanhei essa eleição, assim como não acompanhei também as recentes eleições municipais. Podem me chamar de alienada, eu suporto! Mas tenho tido de fazer opções na distribuição do bem mais precioso que possuo no momento, ou seja, meu tempo, e telejornais estão para lá do último lugar na minha lista de prioridades. Há anos! Tenho meus motivos pra isso e um dia até posso voltar aqui pra comentar mas, agora, vejam só, não tenho tempo!

O que tenho é esse otimisto renitente, essa crença exagerada no ser humano, no fundo, no fundo, sou uma verdadeira Pollyana! Uma Pollyana quase quarentona, bem melhorada pela vida, mas ainda assim, uma Pollyana. Por isso acordei ontem respirando mais levemente, observando borboletinhas azuis por aí e só não saudei os passarinhos com beijos atirados ao vento porque eles são responsáveis, em parte, pelas minhas noites de insônia!!! Assunto também para outro dia...

O fato de ter um homem tão jovem e negro na presidência de um país que viveu recentemente (em termos históricos) a Ku Klux Klan é admirável! Faz pensar que realmente tem muito da humanidade que definitivamente não está perdido e que esse planeta tem um futuro que não é sombrio! E mais! Desconfio que partilho de um sentimento global de esperança, imagino que aqui do meu cantinho insignificante neste planeta, faço parte de um gigantesco coro de pensamentos positivos e crédulos no porvir. Isso, por si só, já é maravilhoso, envolve o mundo numa aura de energia boa, independente do que o Sr. Obama venha a fazer nos próximos anos. Pelo menos por esses dias nos sentimos esperançosos e isso já é tudo de bom! De acordo com minha filosofia plâncton de ser, o que o futuro trará não nos pertence ainda, portanto, não nos cabe sofrer tormentos ou gozar delícias antecipadas. Vamos viver o hoje, e o hoje está transbordando de esperança. Desde ontem.

O dia de ontem foi, para mim, como dizem os franceses, la cerise sur le gâteau, ou, na língua de Machado de Assis, a cereja sobre o bolo! E cerejas são frutinhas que eu adoro.

O dia de ontem foi, na verdade, repleto de cerejas!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Apertem os cintos, porque o piloto...

Preciso comentar uma notícia que li esta semana. É a seguinte: sindicalistas do maior sindicato de pilotos de avião São Paulo protestaram publicamente queimando manuais de procedimentos em praça pública. Eles alegam que os tais manuais cerceiam a liberdade de atuação e a autonomia de cada piloto que, dentro da sua aeronave, quer ter a liberdade de conduzir seu trabalho da maneira que acredita ser a mais adequada.

Tais pilotos passaram por um curso superior de formação de pilotos, obviamente. Nesse curso eles tomaram contato com diversas teorias sobre a aviação, discutiram inúmeras abordagens sobre psicologia aplicada aos passageiros, além de terem estudado profundamente a história da aviação e a organização geral das empresas aéreas. Claro que tiveram disciplinas práticas, nas quais era esperado que recebessem instruções precisas e objetivas sobre como pilotar um avião, mas, com algumas exceções, mesmo nessas disciplinas os professores acharam mais interessante e proveitoso para os futuros pilotos discutir outras tantas teorias, principalmente as marxistas, porque todo mundo sabe que a burguesia e as elites tentam desde sempre dominar o povo oprimido e cabe aos pilotos fazer passar essa mensagem a seus passageiros, provocando com isso a tão desejada transformação do mundo.

Vocês não estavam sabendo disso? Não tinham visto essa notícia? Na verdade, eu também não tinha. Ela não foi destaque nacional e eu só acabei sabendo por puro acaso quando folheava uma revista de abril passado numa das intermináveis esperas em consultórios a que tenho sido submetida. Estou atrasada para comentar o fato, reconheço. Só que ele é tão relevante que não podia deixar passar.

Apesar de a revista ser do mês de abril, não era do dia primeiro, mas não resisti! Antes que meu singelo texto provoque novo caos aéreo (olha a pretensão!) vou confessar: é brincadeirinha!!! Os pilotos de avião jamais fizeram um protesto estapafúrdio desses, onde já se viu? Continuem sossegados. Todos podem entrar nos aviões tranqüilos de que os pilotos sabem exatamente como fazer para conduzir os aparelhos, conhecem perfeitamente o local de onde partem, têm certeza absoluta do destino aonde devem chegar e que os procedimentos a serem adotados no percurso estão claríssimos para todos. Inclusive, se um piloto tiver um mal súbito (o que pode acontecer com qualquer humano), outro piloto assumirá o comando e tudo estará lá: todos os procedimentos, as metas, etc. Antes de entrarem em uma cabine eles estudaram anos a fio e o fato de terem manuais de procedimentos não diminui em nada a capacidade intelectual deles, nem os impede de serem criativos para tomar decisões em momentos de crise nem, de maneira nenhuma, tira a autonomia desses profissionais. E, obviamente, mesmo que uma pessoa passe vinte anos ou mais da sua vida andando de avião todos os dias, ela não se sente capaz de pilotar um avião, nem mesmo um teco-teco, não é mesmo?

Respirem aliviados, meus caros bleitores, esse absurdo completo não acontece no cenário da nossa aviação. Ufa!

Mas ele acontece, exatamente assim, no cenário da nossa educação. A notícia que li realmente foi divulgada, mas não eram pilotos de avião os que protestavam queimando manuais de procedimentos, mas sim, professores do sindicato dos professores de São Paulo. Os argumentos do protesto eram exatamente os que descrevi no início: manuais de procedimentos para professores são absurdos, tiram a autonomia do professor, etc., etc., etc. Muitos podem estar pensando: Olha essa exagerada de novo! Um piloto de avião tem vidas nas mãos. O despreparo ou a falta de procedimentos claros pode causar uma catástrofe, matar pessoas, não tem comparação uma situação com a outra. Antes que aqueles que me acham exagerada me convençam de que estou realmente precisando de um ansiolítico, uma camisa-de-força ou ambos, farei algumas considerações e comparações que julgo interessantes. Depois, podem me mandar para o Pinel.

Um professor despreparado não corre o risco de eliminar vidas diretamente como os pilotos. Mas quem é que ensina os pilotos a pilotarem? Vamos um pouco mais adiante. Quem é que ensina os médicos a operarem, os engenheiros a projetarem, os advogados, futuros juízes, a julgarem? Quem é que forma as pessoas que, no futuro, serão vereadores, deputados, prefeitos, governadores e por aí vai? Surpresa! O professor! Portanto, o estrago de um professor despreparado não é imediato, mas existe e é tão silencioso e distante do fato gerador em si, que não há como imputar aos professores a culpa pelo despreparo de milhões de pessoas. E se formos retrocedendo na vida escolar, vamos ver que essa é uma culpa partilhada, pulverizada em anos e anos de sala de aula. A maior parte da nossa infância, adolescência e início de juventude passamos sob os cuidados desses profissionais que fazem o melhor que podem com os recursos que têm ou que, na maioria das vezes, não têm. Todos sabemos que temos uma escola cheia de deficiências e problemas, mas se hoje as coisas estão infinitamente melhores do que há alguns anos, não dá pra ignorar que temos ainda um caminho igualmente infinito pela frente!

Agora que já não ouço mais os protestos de quem me acha exagerada, começo a escutar os balbucios de quem diz: E quem é ela para sair criticando de maneira tão mal-humorada essa classe sofrida que trabalha demais e ganha de menos? Peço que esperem mais um minuto antes de atirarem pedras nessa Madalena aqui, que de arrependida não tem muito.

Sou professora. Há quinze anos. Comecei no ensino superior e, tirando a faixa etária que vai da primeira à sétima série do ensino fundamental, o resto já andou pelos meus livros de chamada. Da pré-escola, passando por alunos de oitava série, ensino médio, ensino superior, até a pós-graduação, mas também alunos de preparatório para concursos públicos, treinamento empresarial, treinamento profissionalizante, curso presencial ou à distância e, até mesmo, curso de artesanato, já tive todo tipo de aluno nas minhas de salas de aula.

Faço aqui um mea culpa e confesso que quando comecei nessa carreira não tinha tido formação alguma! Mas pertenço a uma família que é uma verdadeira dinastia de professoras e, além disso, dos meus vinte e quatro anos na época em que comecei, tinha passado pelo menos vinte e dois deles dentro de uma sala de aula, portanto, acreditava que sabia o que fazer! Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, de professor, muitos acreditam que têm tudo. Mais ou menos como o viajante que, de tanto viajar e observar o piloto, pensa que pode pilotar o avião. Vocês acham que vai ser uma sorte danada se esse avião chegar inteiro ao destino? Pois é! Meus aviões, em melhor ou pior estado, chegaram ao destino. Mas o que aconteceu depois? Estremeço só de pensar que um dos meus alunos pode ter feito parte da equipe que desenvolveu algum sistema de controle de tráfego aéreo por aí e que, em parte por despreparo meu e de outros professores que teve na vida, acabou construindo um programa de computador que venha a falhar.

Por acreditar que precisava de formação para continuar a ser professora, fui estudar Educação. Fiz uma especialização em Didática, depois um mestrado no qual foram discutidas questões de ensino e aprendizagem, fiz um curso de formação de professores com duração de seis meses e agora estou terminando um curso de Licenciatura, ou seja, um curso que coloca, definitivamente, um carimbo na minha testa e no meu currículo: professora. Não sou uma sumidade no assunto, mas considero que vivi razoavelmente por dentro e por fora essa questão da educação para me achar no direito de, muito prepotentemente, dar minha opinião.

Como seres humanos, vivemos uma eterna caça às bruxas, procurando sempre os culpados pelo que acontece. Sou humana, portanto, aproveitando que hoje é 31 de outubro, dias das bruxas, vou colocar meus gravetinhos em algumas fogueiras.

Tem o culpado óbvio, ululante e evidente, o que sempre foi reconhecido como carrasco do ensino de qualidade, ou seja, o governo e seus investimentos pífios, salários irrisórios, infra-estrutura medíocre, e blá blá bla. Isso tudo é verdade e já foi discutido por quem tem muito mais autoridade no assunto do que eu. Vamos passar rapidamente ao próximo algoz da educação: o próprio professor! Como? Sim, infelizmente...

Sou paranaense e há alguns anos sei de uma iniciativa do governo do estado com o objetivo de propiciar formação aos professores. Ela acontece de diversas formas, seja como incentivo salarial para quem faz pós-graduação, seja na promoção de semanas de formação num local chamado Faxinal do Céu. Nunca fui à Faxinal, não sou professora do estado, mas vou contar o que já vi e ouvi por aí. Preparem-se para fortes emoções!

Tem professor que paga para que outras pessoas façam a monografia de conclusão de seus cursos de pós-graduação. Aliás, não paga somente a elaboração da monografia, mas também a dos outros trabalhos que deveria fazer durante o curso. Tem professor que se recusa terminantemente a ir para Faxinal participar dessas formações. Tem professor que vai, mas boicota. Fica no quarto dormindo, foge das atividades, ou até comparece, mas fica batendo papo. E ontem, conversando sobre esse assunto com uma amiga cuja mãe é professora da rede municipal de ensino, soube de algo que me deixou estarrecida. No intuito de promover inclusão social, alunos com alguns tipos de deficiência, como a auditiva por exemplo, não são mais enviados para escolas especiais, mas freqüentam escolas regulares. Portanto, os professores devem participar de um curso de formação em Libras, a língua dos deficientes auditivos. O instrutor de um desses cursos na cidade de Curitiba é deficiente auditivo e, embora fale, tem uma pronúncia diferente daquela de uma pessoa considerada normal. Lembro que aqueles que estão sentadinhos nos bancos são todos professores, mas o que alguns deles fazem é ridicularizar a forma de falar do instrutor ou insultá-lo quando ele está de costas e não está ouvindo o que seus diletos alunos dizem! Eu não sei nem que sentimento me invade quando ouço histórias como essas! Dentre os muitos grupos de alunos que tive nessa vida, houve alguns formados só de professores e também de futuros professores (alunas de um curso de Pedagogia). Posso afirmar que, especialmente esse grupo de alunas de Pedagogia, está nos primeiros lugares na minha lista particular dos piores grupos de alunos que já tive na vida!

Não! Não são todos assim, graças aos céus de Faxinal e do resto do universo. Novamente, vamos respirar aliviados. Mas se eu, que não tenho nada a ver com tudo isso, não estou dentro do ensino público, nem do município nem do estado, sei dessas aberrações, quantas mais não acontecem por aí? Tremo, agora mais fortemente, só de imaginar!

Portanto, mesmo quando o governo faz alguma coisa, ainda que não seja a melhor coisa, os próprios professores boicotam. Não participam, nem que seja para criticar e propor outra solução. Como criticar aquilo do que não se participa? E o que dizer das pessoas que queimam manuais de procedimentos em nome do cerceamento de liberdade? Era uma iniciativa do governo de São Paulo no intuito de padronizar o ensino, estabelecendo metas e objetivos, mas os professores se sentiram afrontados!

Quero deixar muito claro que defendo até meu último fio de voz o direito que os professores teriam de questionar o manual. Eles poderiam até mesmo se reunir para criar um manual, mas jamais poderiam se opor ao uso de um. E essa rebeldia vem de onde? Da Universidade!

Quando estamos na faculdade, em teoria aprendendo a ser professores, grande parte do que fazemos é isso mesmo: teoria! Teorizamos sobre tudo, estudamos os filósofos, os pedagogos. Conhecemos o percurso de Emília Ferreiro, lemos as conclusões a que chegou Maria Montessori, discutimos embevecidos as teorias de Piaget, Skinner, Pavlov, Carl Rogers, Vigotski e tantos outros. É uma base teórica de profundidade inquestionável. Tudo isso nos é passado, em alguns casos, sob o olhar constante Dele, o maior, o supremo, o poderoso, salve, salve: Marx! Só que o pobre do Marx, acorrentado e amordaçado, limita-se apenas a arregalar os olhos, provavelmente marejados de lágrimas, e observar o que se faz e diz em seu nome. Digo isso porque acredito que foram pouquíssimos aqueles efetivamente leram Marx, ainda que traduzido. E quando digo pouquíssimos imagino que esse número se aproxima perigosamente do zero. Todos falam de Marx e de suas teorias a partir de reinterpretações das interpretações dos comentários das resenhas que foram feitas. A partir de um resumo de sua obra.

Estou terminando uma licenciatura depois de um curso de formação, um mestrado e uma especialização em didática e, de verdade mesmo, com algumas honrosas e recentes exceções, raríssimos foram os professores que, em sala de aula, me explicaram COMO dar aula, quais são os procedimentos a executar de tal forma que eu levante vôo com minha classe daqui e chegue sã e salva lá onde é o meu destino, passando esse grupo de passageiros da vida às mãos de outro piloto-professor, o qual saberá os procedimentos a seguir e assim por diante. Aprendi teorias e agora tenho total liberdade para agir como quiser quando fechar a porta da minha sala de aula. Como fazer? Isso é problema meu, faz parte da minha autonomia, eu é que me vire! Se não fossem os poucos mestres nesses longos anos de formação que me deram alguns indícios de caminhos, estaria absolutamente sozinha, por minha própria conta e risco. Eu e meus alunos.

Atualmente sou professora de francês. Descobri, maravilhada, que no ensino de línguas estrangeiras são usados métodos e que tais métodos são acompanhados de guias pedagógicos. Esses guias, pasmem, são manuais de procedimentos que dizem exatamente o que fazer a cada passo e qual o objetivo de cada uma daquelas atividades. Não me sinto nem um pouco tolhida na minha autonomia, nem na minha criatividade e esta semana me emocionei quase às lágrimas por uma bobagem. Recebi os e-mails com o exercício proposto aos alunos que consistia em escrever um pequeno parágrafo sugerindo a um francês fictício um lugar em Curitiba, dizendo porque eles preferiam esse lugar e dando algumas indicações de onde ele fica. Há pouco mais de dez semanas esses meus alunos mal sabiam dizer bonjour e hoje escrevem pequenos textos e falam de seus gostos e preferências em francês! Mérito meu? Em parte, sim. Mas em grande parte é mérito do guia pedagógico que me orientou no espaço infinito de possibilidades no ensino de uma língua estrangeira e mostrou o caminho a percorrer. Eu sigo um manual e não sou menos autônoma, nem menos criativa, nem menos capaz por isso! Os anos de estudos, inclusive das teorias, são necessários. Só um manual não faz um professor, assim como, mesmo com um manual detalhadíssimo em mãos, vou continuar incapaz de fazer voar uma aeronave.

Governo, academia, professores... A solução para termos uma educação de qualidade e, como conseqüência, um país de qualidade, está em todos eles, mas está também na sociedade que mal toma conhecimento de protestos absurdos como o dos sindicalistas de São Paulo. Com esse tipo de atitude, tal sociedade deixa que ela mesma e seus filhos sejam conduzidos por pilotos que torcem o nariz para os manuais de procedimentos. Fico curiosa em imaginar qual seria a reação dessa mesma sociedade se minha história surreal do início fosse verdade, ou seja, se o protesto fosse mesmo dos pilotos de avião...

Claro que, mesmo da forma como as coisas estão, chegaremos a algum lugar. Mas tremo descontroladamente da cabeça aos pés ao imaginar aonde poderá ser!

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Será que o Jassa ainda está vivo?

Ah o tempo, o tempo... Por que será que ele decide sumir dessa forma?

Aproveitando que o assunto do último post foram minhas madeixas, faço uma nova sessão Recordar é viver. É a prova de que meus infortúnios capilares vêm de longa data!

O post original é do meu outro blog, dia 19 de fevereiro de 2004. Nossa! Como passa o danado do tempo! E eu nem imaginava o que ainda viria pela frente com relação aos meus cabelos...

Antes de encerrar essa singela introdução, um comentário para matar a sede de curiosidade dos meus bleaders...

Parênteses. Aprendi ontem essa: um bleader é um blog reader. Vamos criar um termo nacional? Que tal bleitores?

Voltando ao assunto, saibam vocês, meus caros bleitores, que depois do evento que vão ler agora, passei um ano cortando eu mesma meu cabelo . Mas como não sou, nem nunca serei, uma boa cabeleireira, um dia capitulei e procurei outro salão. Antoine é o nome da criatura que devolveu um pouco de dignidade à imagem que eu via no espelho. Mas só um pouco... Diferente do Renato, meu cabelereiro brasileiro, o Antoine não tinha nada de mágico nem de santo e não sabia fazer milagres!

Até a próxima! Idéias são muitas, textos começados existem, mas ainda me falta encontrar o mágico ou santo que dará um jeito no meu tempo!

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Um dia desses parei pra fazer uma análise crítica e realista a respeito do meu estado físico geral depois de alguns meses morando na França. Vamos aos resultados:

· Quem inventou o velcro também teve de passar um tempo fazendo faxina, lavando as mãos constantemente, etc. A pele estava tão ressecada que eu já nem precisava mais pegar coisas de tecido, elas simplesmente colavam na minha mão e vinham junto comigo pela casa.

· Fazia tempo que não via minhas sobrancelhas e teria sido melhor continuar sem ver: elas estavam parecendo duas taturanas. Fiz um rabo-de-cavalo e meu primeiro ímpeto foi o de afugentar os bichos que estavam na minha cara. Foi só depois que eu percebi que eram as sobrancelhas.

· Meu cabelo? Sem comentários. A última vez que passou por um salão foi ainda no Brasil. Minhas luzes não passavam de, no máximo, um abajurzinho. A franja estava um verdadeiro caminho de rato, já que tinha feito a besteira de tentar fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, cortar eu mesma.

· Para coroar, os quilinhos (dezenas deles) que se apaixonaram por mim e relutam em ir embora.

Apesar de tudo isso, estranhei quando me olhei no espelho e percebi um leve sorriso no meu rosto. Será que estava aprendendo a ser feliz mesmo na adversidade? Foi aí que observei mais de perto e vi que o sorriso, na verdade, era a pele repuxada. Tinha acabado meu creme hidratante.

Decidi dar um basta na situação!

Com as mãos fui radical: passei a usar luvas para tudo, até pra fazer xixi. As sobrancelhas eu mesma dei uma ajeitadinha. Coisa pouca. Só tirei os fios que estavam caindo dentro dos olhos e emendando tudo sobre o nariz, acabando com aquele ar de Frida Khalo. O rosto foi fácil. Fui ao supermercado comprar um creme hidratante. Só que nesta terra tenho um problema grave. Gravíssimo, eu diria. Sou obrigada a usar cosméticos nacionais! Ha ha ha! Essa é a parte boa de estar morando na França: cosméticos, queijos e vinhos, só os nacionais. Que chato! Escolhi um anti-rugas leve, primeiras rugas, coisa para quem acabou de passar dos trinta. Nisso eles são incríveis! É uma prateleira imensa em qualquer mercadinho de esquina com todos os tipos de creme que se pode imaginar. Até um para afinar o rosto que estou pensando em experimentar. Quem sabe eu não consigo acabar com essa cara de lua cheia e não fico igual à Mortícia Adams? Com o cabelo a coisa era mais complicada. Precisava de uma solução profissional!

Na França temos o médico da família (atende a todos nós, até à Ana Luíza), achei que devíamos ter também o cabeleireiro da família. Já tínhamos tentado um que cortou o cabelo do Vidal e do Felipe e, apesar de os cortes não terem ficado maravilhosos, decidi eu mesma testar pra ver se ficaríamos com ele de vez ou procuraríamos outra opção.

Marquei horário. Uma terça-feira. Dezoito horas. O grande dia!

Por causa do resultado não muito bom com o Vidal e com o Felipe eu estava meio cabreira. Mas sentei confiante na cadeira e fiquei esperando pelo chefe. O dono do salão, aquele que me transformaria numa criatura deslumbrante.

Ele chegou e perguntou o que eu queria. Minha resposta convicta foi: Não sei! E era verdade. Fiquei dias pensando como ia querer cortar o cabelo e não sabia o que fazer. Disse que ele podia fazer o que quisesse. Eu só queria manter a franja (bem cortada, é claro). E não queria o cabelo muito curto. Mas que tivesse volume. E que fosse prático para arrumar (com duas crianças não dá pra ficar horas na frente do espelho). Ah! E que, se possível fosse igual ao daquela foto ali na revista. Dei total liberdade, portanto, para fazer o que quisesse.

Ele se armou de tesoura e pente, pegou uma mecha do alto da cabeça e... tac! Cortou pela metade! Gelei na cadeira. Será que meu francês estava tão ruim que quando disse não muito curto acabei esquecendo de falar a negação? Fiquei ainda mais cabreira.

Foi quando chegou o assistente e ficou, como todo bom assistente, assistindo. Quis saber qual era a técnica de corte que estava sendo usada. O cabeleireiro explicou, o assistente disse ahhhn e continuou assistindo.

Aí o tal do assistente fez um comentário que iniciou o momento mais tenso do dia: Uma vez eu vi uma técnica de cortar que era bem estranha. Eles juntavam o cabelo todo em cima e faziam um único corte. O cabeleireiro disse: É verdade! Você faz assim, ó... Juntou todo meu cabelo no alto da cabeça, chegou a tesoura perto e... tac! Ele só falou o tac, não fez o tac. Eu me encolhi alguns centímetros. Ele se empolgou. Começou a descrever todas as técnicas de juntar o cabelo numa parte da cabeça e tac. Só que ele falava e fazia. Junta tudo na esquerda e tac. Junta tudo na direita e tac. Junta em cima, no meio, atrás e tac, tac, tac. Ele não cortava, mas repuxava todo meu cabelo, chegava com a tesoura perto e falava: tac. Além de estar ficando com dor de cabeça, a cada tac daqueles eu apertava os olhos e encolhia mais um pouquinho. O meu medo era que ele esquecesse o corte que pretendia fazer quando começou.

O clímax aconteceu na descrição da técnica em que o cabeleireiro coloca a cliente de quatro sobre a cadeira, joga o cabelo todo pra baixo e tac! Essa foi ele mesmo quem demonstrou. Não ousou me pedir pra fazer isso, mesmo porque, eu me recusaria. Mas fiquei pensando... Isso tudo foi um curso ma-ra-vi-lho-so que ele fez em Barcelona onde ele aprendeu tu-do o que sabe. O que acontece é que quando eu tinha dezoito ou dezenove anos fazia exatamente isso: juntava todo o cabelo no alto da cabeça e... tac! Eu mesma cortava meu cabelo. Se soubesse que essa era uma técnica refinadíssima tinha aberto um salão e hoje estaria rica. Fiquei, se é que isso é possível, ainda mais cabreira. Na verdade, até nem me importaria de ser cobaia, desde que ele não estivesse cobrando (bastante) por isso.

Felizmente acabou a aula. Já nem me via mais no espelho de tão encolhida que estava. Sentei normalmente de novo e ele voltou a cortar. Foi cortando, cortando. Cheguei a achar que ia cortar tudo. Não faz isso, não! É pouquinho, é fininho, mas é tudo o que eu tenho.

Durante esse tempo meus pensamentos se alternavam. Gostei. Não gostei. Detestei!!! Aí, aí, tá bom. Adorei! Não, do outro jeito. Não dá pra colar de novo esse pedacinho?

Ele terminou o corte, Voilà! Eu estava parecendo um fósforo: uma bolinha no alto da cabeça e o resto espremido nos lados do rosto. Já não tinha como ficar mais cabreira. Desisti de me preocupar. Cabelo cresce, não é mesmo?

De secador em punho, começou o processo de secagem e arrumação do cabelo. As mulheres vão me entender, ele girava o secador e amassava os fios, afinal, eu tinha pedido volume, não tinha? Desligou o secador e pegou a lata de spray (detesto spray!). Fiquei sufocada de tanto que ele apertou o dedo naquela latinha. Puxou para baixo, puxou para os lados, para cima. Acabou! Pegou o espelho para que eu pudesse apreciar o resultado na parte de trás. Não vou dizer que eu parecia uma leoa porque aprendi num parque de diversões num passeio de fim de semana que as leoas não têm juba. Mas eu estava parecendo... quem?... Já sei! Toni Tornado quando cantava ... na BR3... Murmurei um très bien meio engasgado, levantei, paguei e saí.

Ainda bem que o salão é na frente de casa e que felizmente não encontrei ninguém pela rua. Abri a porta do apartamento e voei como um raio para o banheiro. O Vidal na sala com as crianças, perguntou: E aí? Fiquei no banheiro um tempo observando. Passei um lápis nos olhos. Um batom. Talvez estivesse estranhando minha cara sem maquiagem. Não adiantou. Peguei uma escova e comecei a tentar tirar aquele spray todo. Foi difícil. Lágrimas de indignação e de dor de tanto puxar o cabelo escorriam dos meus olhos. Pensei em entrar embaixo do chuveiro e arrumar do meu jeito. Mas achei que seria um desaforo! Pagar caro no salão pra chegar em casa e desmanchar tudo? Isso eu fazia no Brasil quando era poderosa. Agora não estou com essa bola toda, não.

Um dia eu teria de reencontrar as pessoas do mundo, então saí do banheiro e entrei na sala para o Vidal dar seu veredicto. Ele disse que com aquela toalha na cabeça não dava pra ver nada. Brincadeirinha! Só lembrei da minha irmã, Renata, que aos oito anos de idade amarrou uma toalha na cabeça quando minha mãe mandou cortar o cabelo dela bem curtinho. Disse que só ia tirar a toalha quando o cabelo crescesse. Só hoje, quase vinte anos depois, consegui compreender a atitude da minha irmã. Tive vontade de fazer o mesmo.

O Vidal olhou. Ficou quieto por alguns (torturantes) segundos e, para meu horror, disse: O que foi que ele fez aí atrás? Quase surtei! Balbuciei algumas explicações para o que não tinha explicação alguma. Ele, gentil, tentou consertar: Nem fez diferença! Foi pior! Como não fez diferença? Quando eu saí tinha todos os fios quase do mesmo tamanho com as pontinhas viradas para baixo. Agora cada um tem um comprimento diferente com as pontinhas viradas para todos os lados!

O padre tinha dito: na alegria e na tristeza, na saúde e na riqueza, na saúde e na doença, não tinha? Faltou acrescentar com o cabelo seja lá como for. O Vidal decidiu ser solidário e acrescentou: Eu também não gostei do trabalho dele. É um cara legal, mas não dá. Vamos procurar outra pessoa... Fiquei um pouco mais reconfortada, mas, por via das dúvidas, decidi cobrir todos os espelhos da casa, afinal, o que os olhos não vêem o coração não sente, certo?

O travesseiro acabou fazendo um bom trabalho. No dia seguinte o cabelo já tinha baixado bem e com o passar dos dias foi ficando praticamente normal. Mas desconfio que ficarei longe de salões por um bom tempo...

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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Pelo menos a voz continua a mesma!

Nascemos juntos. Quer dizer, não tenho recordações nítidas de nós dois na maternidade, mas estou certa de que, no mínimo, a promessa dele nasceu comigo. E até meus três anos de idade, pelo menos, nossa convivêcia foi pacífica, até mesmo harmoniosa. Daí veio um período do qual não me lembro muito bem e, então, a guerra foi declarada! Um dia, aos onze anos de idade, simplesmente sentei numa cadeira e, muito decidida, dei a ordem: Tosa! Meia dúzia de tesouradas depois, a cabeleireira tinha decepado minhas madeixas.

Meus cabelos passaram a ser curtos, o que se chamava à la garçon ou estilo Joãozinho, depende de quão chique tivesse ficado o resultado. No meu caso foi catastrófico. Mas quem é que controla os hormônios em fúria da adolescência que nos faz cometer loucuras?

De lá para cá, com raros períodos de trégua, estivemos em guerra franca e declarada. Devo reconhecer que ele tem sido mais forte do que eu...

Aquela surecada dos onze anos me deixou ainda mais indecente do que já fica indecente uma menina que sai da infância e cresce toda desconjuntada. Tinha pontas para todos os lados. Dessa época só tenho guardada uma foto 3x4 de uma carteirinha de estudante. Será minha arma de persuasão quando a Ana Luíza entrar na adolescência e tiver as mesmas idéias insanas.

Os tais hormônios, além do tsunami emocional que provocaram, atingiram também diretamente os cabelos e fizeram um estrago sem precedentes! Eu tinha fios de todas as espessuras, assim como fios de todos os tipos: dos lisos escorridos ao crespo sarará. Sem exagero. Isso quem descobriu foi uma das inúmeras cabeleireiras pelas quais passei na tentativa vã de dar um jeito naquela gadelha.

O que sei é que minhas memórias dos onze aos dezoito anos no que se refere a minhas melenas são repletas de tentativas de domar a fera enraivecida dos meus cabelos. Um calvário em bem mais de quatorze estações...

Claro que tentei de tudo. Todos os tratamentos que me aconselharam. Abacate batido, por exemplo. Vocês lembram de uma das cenas do filme O Exorcista? Pois é. Ver minha cabeça coberta de abacate batido no espelho me fez pensar em vidrinhos de água benta. E essa nem foi a receita mais esdrúxula que tentei!

Uma vez sugeriram uma mistura de ovo, azeite de oliva e, se não me engano, um frasquinho de vitamina A. Só que era pra aquecer o azeite de oliva. Claro que quando misturei o ovo ele começou a fritar. Dessa vez, a cabeça cheia de pedacinhos de ovo frito me deram uma vontade quase incontrolável de passar novamente pelas tesouras.

Naquela época, meu sonho era ter cabelos cacheados e foram várias as tentativas nesse sentido. Comecei indo ao salão para fazer bigoudis. Passava horas com aquelas coisinhas na cabeça. Soltava e me via cheia de cachinhos como Shirley Temple. A alegria durava da porta do salão à porta de onde quer eu fosse. Os cachinhos iam se transformando em pontas espetadas e eu acabava, em minutos, parecendo uma Medusa.

Claro que apelei para soluções radicais! Era época dos permanentes e só quem já fez isso pode dizer que sabe bem qual é a eau de cologne que usa Satanás. Mas nem mesmo a química mais pesada conseguiu colocar graciosos cachinhos na minha cabeça. Depois dos permanentes meu cabelo parecia vítima eterna da catástrofe dos bigoudis. E, antes que algum herói solto por aí decidisse reencarnar Perseu e decepar minha cabeça, desisti dos cachos.

Porém, isso não aliviou em nada a situação porque meus cabelos não eram crespos como eu sonhava, mas também não eram lisos. Eles eram uma... coisa. Uma coisa com aparência de vassoura de piaçava.

Como eu tinha de tentar algo, decidi investir no liso. Haja muque para fazer escova! Vale lembrar que estamos falando do século passado, portanto, absolutamente nada de silicone, muito menos nenhum dos 1834 cremes disponíveis que temos hoje. Era xampu de ovo da Colorama e Creme Rinse, aquele rosinha. E só! E, ah, os hormônios, quem disse que eles deixavam minhas mechas em paz? Nem com escova! Então eu apelava para a touca. Vocês conhecem essa técnica para ficar parecendo a Mortícia Adams?

A gente vai prendendo o cabelo com dezenas de grampos, enrolando tudo ao redor da cabeça em tantas camadas quantas forem necessárias para segurar todo o comprimento. Eu costumava fazer isso à noite e dormia assim. O negócio é que a técnica prevê enrolar para um lado e depois para o outro, o que, obviamente, eu não fazia, já que não acordava de madrugada para virar a touca. Portanto, na manhã seguinte tinha de levantar quinze ou vinte minutos antes para ter tempo de tirar a centena de grampos da cabeça e soltar o cabelo que ficava liso, mas todo para um mesmo lado. E os Emos se acham originais?

A lisura durava só até o primeiro ventinho úmido que eu pegava, ventinho esse que sopra em Curitiba uns trezentos dias no ano, mais ou menos. Nos outros sessenta e cinco chove torrencialmente, o que dá no mesmo! Eu saía de casa de manhã como Emo e voltava ao meio-dia igual ao Valderrama.

Como prova para aqueles que pensam que estou exagerando segue um fato verídico. Antes de começar a usar lentes de contato por conta de uma miopia galopante, eu usava uns óculos redondinhos. Um dia me disseram que eu era a cara da Janis Joplin.

Ainda bem que naquela época eu não fazia idéia de quem era Janis Joplin e também não existia internet. Quando vi uma foto dela pela primeira vez já era mais velha, tinha domado os cabelos e pude somente compreender perfeitamente porque ela morreu de overdose. Tem coisas que nem bebendo dá pra esquecer...

Como as toucas não davam jeito, sucumbi à sugestão de uma cabeleireira para testar uma técnica chamada touca de gesso que consistia em passar um produto no cabelo e escovar bem. Mais um perfumezinho de Belzebu que encarei pela frente. Fui ao salão cheia de esperanças e me entreguei às mãos profissionais que me deixariam igual à Perla.

Só que o gesso do nome da técnica não era força de expressão. Ela passou uma meleca branca em todo o cabelo e começou a escovar. Alguns segundos depois aquela coisa começou a endurecer, ela tinha dificuldade para fazer correr o pente ou a escova. Puxava, repuxava e eu tinha a sensação de que ia acabar ficando sem cabelo algum na cabeça. Depois de horas desse sofrimento, tudo foi lavado, secado, e... continuou exatamente como era antes!

Como tudo nessa vida tem um fim, a adolescência inclusive, embora eu não tenha ficado com o cabelo dos meus sonhos, dá pra dizer que tivemos uma certa trégua dos vinte aos trinta anos. Dez anos de relativa paz nos quais minha maior preocupação eram os fiozinhos brancos que começaram a aparecer.

E então, sofri uma nova revolução hormonal causada pela gravidez! Quando o bebê está ali pelos quatro meses, o cabelo da mãe começa a cair desesperadamente. Juntando-se a isso o fato de que mais ou menos nessa época já não eram poucos os fios brancos, dá pra imaginar que pegamos em armas novamente e partimos para a luta, meu cabelo e eu.

Não acreditava mais em soluções caseiras, é claro. Não poderia contar, nem por alto, a quantidade de tratamentos que fiz. Cremes, extratos, ampolas, xampus, pílulas, médicos dermatologistas. Minha herança genética não me deixava qualquer esperança. E as escovas continuavam porque sem elas iam pensar que eu era uma reencarnação da Janis Joplin. Sem os óculos.

Já nem sonhava mais com cabelos crespos, estava conformada. Sonhava só com a possibilidade de lavar a cabeça e deixar secar os cabelos ao vento. Sem chance! Fazer isso significava acabar como a Madame Mim. É por esse, entre outros motivos que não vêm ao caso agora, que detesto programas de praia ou piscina. Isso pra mim sempre foi um verdadeiro tormento capilar.

Com a segunda gravidez, aquilo que era ruim, ficou pior! E para complicar ainda mais a situação, morava fora do país sem dinheiro pra salão, creme ou tratamento. Tintura era eu mesma quem fazia, com resultados que iam do horrível ao tenebroso. Durante um ano cortei eu mesma meu cabelo porque a experiência em salão tinha sido traumática. Voltei para o Brasil num estado deplorável: além da segunda gravidez, um hipotireoidismo fez cair mais de um terço do meu cabelo, que já era quase um terço branco e, o que restou, continuou aquela coisa disforme, nem liso nem crespo.

Com a visita de uma amiga brasileira na minha casa na França aprendi várias coisas sobre silicone, cremes e tratamentos. Foi uma aula para lá de valiosa. De novo em terras verde-amarelas, e novamente submetida ao ventinho úmido de Curitiba, coloquei tudo em prática. Deu uma melhoradinha, mas ainda caía muito, não nascia o suficiente, eu estava insatisfeita. Vocês sabem, a gente vive reclamando, até descobrir que tudo pode ficar ainda pior...

Veio o diagnóstico de um câncer e, por causa das sessões de quimioterapia, fiquei careca. A verdade é que essa foi a época em que menos briguei com meus cabelos, simplesmente porque eles debandaram todos! A peruca foi uma experiência à parte, um causo a ser contado em outro dia.

Com o fim das quimios, meus cabelinhos começaram a voltar. Tivemos um reencontro festivo, cheio de saudades, cuidados e carinhos de ambas as partes. É verdade que, se antes eu tinha um terço deles brancos, agora é quase metade, mas tudo bem. Eles voltaram TODOS! Todos os que tinham caído durante toda a vida, o que significa que eu jamais me vi com tanto cabelo na cabeça!
Estou feliz com isso, é claro! Mas... Sempre tem um mas. Ah, o ser humano, esse eterno insatisfeito. Tal como haviam me prevenido e conforme eu sempre sonhei, agora tenho cabelos crespos! Não é ondulado não. É crespo mesmo. Tanto que tenho andado constantemente com a voz da Sandra de Sá na minha cabeça cantando Sarará crioulo.

Eu sei, isso foi tudo o que sempre quis, fiz permanente e coisa e tal. Mas a moda agora é chapinha e eu moro em Curitiba, que já foi a terra do topete e que hoje deve ter a maior concentração de profissionais de escova progressiva por metro quadrado do país! A considerar o que vejo nas cabeças das curitibanas, elas são todas descendentes de índias ou japonesas. Até as loiras.

Quando abandonei a peruca meu cabelo tinha pouco mais de meio centímetro de comprimento. Voltei a ser o Joãozinho dos meus onze anos. Quer dizer, uso umas echarpes para dar a impressão de que é um corte à la garçon. Fica mais chique.

Ouvi vários comentários de que ficou bom e cheguei a concordar. Mas disse que vou deixar crescer até eu ficar igual ao Capitão Caverna. Daí posso pensar em cortar curtinho de novo. A diferença é que nesse caso vai ser porque eu quis!

O problema é que com um centímetro de comprimento ele já começou a encaracolar. Olhava minha imagem refletida no espelho e me achava a cara do Ronaldinho, só que sem ter os mesmos milhões que ele no banco. Que injustiça!

Novamente tenho de acordar mais cedo, não por causa dos grampos, mas para fazer chapinha. Fazer chapinha num cabelo de pouco mais de um centímetro de comprimento é uma experiência abrasadora. Que o digam meus dedinhos queimados.

Como o cabelo tem crescido super rápido, o que é ótimo, as soluções que dou para não me sentir pavorosa mudam a cada semana. Nos primeiros dias eu conseguia alisar bem e, como eles estavam curtíssimos, eu era a versão feminina do Dr. Spock. Mas, o que deu certo semana passada, certamente não dará na próxima. Haja criatividade!

Nesta manhã tive ummomento difícil... Ontem eu tinha usado a técnica da vez que consistia em fazer chapinha na parte da frente, no que seria a franja, e também nas laterais, deixando a parte de trás ao natural, ou seja, igual a um poodle ruivo, separando as duas metades com uma tiara. Até estava ficando legal, dava um certo ar romântico, mas o clima de Curitiba... Calor úmido, seguido de chuva torrencial e depois garoa. Combinação explosiva. Voltei para casa cansadíssima e me atirei na cama sem nem olhar direito para o espelho. Hoje acordei e dei de cara com a Marge Simpson me encarando no banheiro.

Tudo bem, estou exagerando, admito. Meu cabelo não está azul! Mas o resto era igualzinho! Recomecei a sessão: silicone, spray, creme, chapinha. Deu uma ajeitadinha, mas não muito, e tremo só de pensar no dia de amanhã, principalmente porque continua o calor úmido, seguido de temporal e garoa...

Marquei hora no salão para o fim da semana. Esse cabeleireiro eu conheço e confio. Fez o último corte antes da peruca e operou um verdadeiro milagre com os poucos fios que restavam. Estou botando a maior fé nos poderes mágicos dele. Qualquer coisa, como não sou Sansão e sei que minha força não está nos meus cabelos mesmo, encaro uma máquina dois!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eu é que sei onde meu sapato aperta

Hoje aconteceu, mais uma vez, um fato que acontece há anos desde que me tornei consumidora: entrei numa loja de sapatos e pedi para experimentar um dos modelos que vi na vitrine. Não parece uma coisa banal? Mas não é! No meu caso, vivo momentos de extrema expectativa!

O ritual é o mesmo, com poucas variações sobre o tema: olho a vitrine procurando entre os modelos disponíveis aquele que atende aos meus requisitos, depois peço ao vendedor para me trazer um ou dois pares para experimentar...

Tá, tudo bem! Confesso que com o passar dos anos estou ficando cada vez mais exigente, mais cheia de manias. É coisa da idade. Portanto, tenho os tais requisitos. O jargão profissional dos vendedores de calçados muito provavelmente chama meus requisitos de frescuras mas, como o dinheiro e os pés são meus, acho que tenho o direito de querer ou não alguma coisa, não é verdade? Voltemos ao ritual...

Olho os modelos disponíveis, escolho um ou dois e chamo um vendedor dizendo, por exemplo:

- Eu queria ver aquela sandália de couro marrom ali e também aquela outra, número 39, por favor.

Às vezes, eles chegam a confirmar:

- Aquela de salto alto?

- Isso!

- 39, né?

- Exato!

- Só um momentinho, por favor.

E é aí que a expectativa começa. Quanto mais minutos tiver esse momentinho, mais apreensiva eu fico. E o meu desânimo só se confirma se eu observar o vendedor voltando escondido atrás de uma pilha de oito ou nove caixas de sapato que ele tenta equilibrar. Quanto mais caixas ele traz, menor a chance de eu ter encontrado o que procurava. E o ritual continua:

- Exatamente aquelas duas não tem, mas eu trouxe estes aqui, olha!

E eu olho! No lugar de uma sandália de salto alto em couro marrom vejo uma sapatilha preta, uma sandália dourada e um scarpin vermelho de plástico! E, então, o grand finale:

- Ah! Não tinha o 39, tá? Então eu trouxe o 38...

Provavelmente quando eu agradeço e viro as costas desolada sem nem ao menos experimentar o que ele, tão gentilmente, trouxe, devo ser fuzilada com o olhar além de virar objeto da conversa de cafezinho com os colegas: Mulherzinha mais cheia de frescuras!

Requisitos, meu amigo vendedor, requisitos. Se estou procurando uma sandália de salto alto em couro marrom e se, depois de ver tudo o que tinha na vitrine, escolho um modelo, é porque não estou querendo sapato sem salto, nem sandália dourada, muito menos calçados de plástico e, por mais obsceno que seja uma mulher que calça 39, o que eu posso fazer se a combinação genética entre meus pais gerou um Sasquatch? Fique tranqüilo, sou uma ligeira encarnação do lendário Bigfoot, ou Monstro do Pé Grande, mas não como criancinhas nem avanço nas pessoas mostrando as garras, embora até tenha vontade às vezes! Meu número é 39 mesmo e meus pezinhos de Cinderela não entram no sapatinho 38, muito menos no 37 (Sim! Até 37 já veio na pilha de caixas nada a ver que o vendedor trouxe pra mim). Não deu certo com as irmãs da Gata Borralheira e também não dará certo comigo. Além disso, nunca fiz treinamento pra gueixa. É 39 mesmo, fazer o que? Pelo menos minha altura não me deixa ficar parecendo um L maiúsculo. Principalmente porque tenho senso de ridículo suficiente pra não comprar sapatos de bico fino.

Tenho certeza de que, neste exato momento, além de ter contra mim uma horda indignada de vendedores de calçados, também tenho uma galera de leitores pensando: mas que criatura mais mal-humorada! Pobre vendedor que só quis ser gentil. Custa ser um pouquinho mais simpática? E a esses eu respondo: Custa. Custa, sim!

Não diz o ditado popular que tempo é dinheiro? Pois bem. As lojas de calçados só recebem UM par de cada modelo no tamanho 39. Unzinho só! Já fiz essa pesquisa em várias delas e a resposta é invariavelmente a mesma: só existe UM PAR de sapatos número 39 de cada modelo, o qual raramente está disponível quando eu chego. E, se por um lado, o fato de descobrir que não sou a única pezuda da cidade me alivia, por outro, faz com que eu entre numa corrida maluca contra esse outro Sasquatch que quase sempre consegue chegar antes de mim nas lojas e que, ainda por cima, tem o mesmo gosto que eu! Então, a cada vez que preciso procurar um sapato, sei que vou ter de passar por dez lojas ou mais até encontrar um par que seja do modelo, cor, altura do salto, material, preço e também tamanho adequados. Portanto, aqueles minutos que fico sentadinha na loja esperando enquanto o vendedor, que nem me conhece, logo não sabe dos meus gostos, garimpa coisas que não têm nada a ver com o que eu pedi, é o tempo necessário para minha adversária passar à minha frente e zapt!, me deixar comendo poeira na estrada. Descalça!

A solução para o meu caso talvez fosse entrar para alguma ordem religiosa dessas que andam sem sapatos por aí, mas morro de frio nos pés. Além disso, minhas chances de ser santa já ficaram para trás. Perdi qualquer esperança de canonização, tudo por culpa dos vendedores de sapatos que me fazem cometer o pecado da ira sem parar!

A passagem do tempo e a experiência têm as suas vantagens. Depois de viver esse ritual inúmeras vezes aprendi a fazer o pedido nas lojas de sapatos da seguinte forma:

- Eu queria experimentar um igualzinho àquele ali, preto, número 39. Mas é exatamente aquele modelo, PRETO e TRINTA E NOVE, tá? Se não tiver AQUELE MODELO, PRETO E TRINTA E NOVE, não precisa trazer NADA, certo?

Com certeza ele me dá as costas revirando os olhos (Mulherzinha mais cheia de frescuras!). Ingrato! Evito que ele desça escadas carregando as dezenas de caixas que ele vai ter de guardar depois e eu é que sou a chata!

Hoje, esqueci de fazer isso. Entrei na loja e disse, simplesmente:

- Queria experimentar aquela sandália de tirinhas caramelo, número 39, por favor.

Depois de mais de cinco minutos esperando, vi a vendedora chegar com duas caixas. Na primeira tinha um sapato fechado, marrom café, listado, alternando faixas de couro e vinil (Por favor! Faço um apelo desesperado aos fabricantes de sapatos: existem mulheres neste país que NÃO SUPORTAM sapatos de vinil, acreditem!). Na segunda caixa tinha um tamanco plataforma, com salto quadrado, todo bordado com flores coloridas. Pelo menos era na cor caramelo.

Pode ser que meus requisitos é que estejam exagerados, não é mesmo? Entre uma sandália de tirinhas de salto fino e um tamanco florido de salto quadrado não existe tanta diferença assim, eu até posso aceitar isso... Mas depois, que nenhum vendedor venha reclamar adicional de insalubridade por causa do chulé mortal que vai exalar dos meus pés quando eu tirar o tamanco para experimentar a rasteirinha azul turquesa que ele trouxer no lugar do sapato social prateado que pedi para ver. Resistirei até mesmo à tentação de jogar o tamanco na cabeça dele! Prometo!