sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Será que o Jassa ainda está vivo?

Ah o tempo, o tempo... Por que será que ele decide sumir dessa forma?

Aproveitando que o assunto do último post foram minhas madeixas, faço uma nova sessão Recordar é viver. É a prova de que meus infortúnios capilares vêm de longa data!

O post original é do meu outro blog, dia 19 de fevereiro de 2004. Nossa! Como passa o danado do tempo! E eu nem imaginava o que ainda viria pela frente com relação aos meus cabelos...

Antes de encerrar essa singela introdução, um comentário para matar a sede de curiosidade dos meus bleaders...

Parênteses. Aprendi ontem essa: um bleader é um blog reader. Vamos criar um termo nacional? Que tal bleitores?

Voltando ao assunto, saibam vocês, meus caros bleitores, que depois do evento que vão ler agora, passei um ano cortando eu mesma meu cabelo . Mas como não sou, nem nunca serei, uma boa cabeleireira, um dia capitulei e procurei outro salão. Antoine é o nome da criatura que devolveu um pouco de dignidade à imagem que eu via no espelho. Mas só um pouco... Diferente do Renato, meu cabelereiro brasileiro, o Antoine não tinha nada de mágico nem de santo e não sabia fazer milagres!

Até a próxima! Idéias são muitas, textos começados existem, mas ainda me falta encontrar o mágico ou santo que dará um jeito no meu tempo!

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Um dia desses parei pra fazer uma análise crítica e realista a respeito do meu estado físico geral depois de alguns meses morando na França. Vamos aos resultados:

· Quem inventou o velcro também teve de passar um tempo fazendo faxina, lavando as mãos constantemente, etc. A pele estava tão ressecada que eu já nem precisava mais pegar coisas de tecido, elas simplesmente colavam na minha mão e vinham junto comigo pela casa.

· Fazia tempo que não via minhas sobrancelhas e teria sido melhor continuar sem ver: elas estavam parecendo duas taturanas. Fiz um rabo-de-cavalo e meu primeiro ímpeto foi o de afugentar os bichos que estavam na minha cara. Foi só depois que eu percebi que eram as sobrancelhas.

· Meu cabelo? Sem comentários. A última vez que passou por um salão foi ainda no Brasil. Minhas luzes não passavam de, no máximo, um abajurzinho. A franja estava um verdadeiro caminho de rato, já que tinha feito a besteira de tentar fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, cortar eu mesma.

· Para coroar, os quilinhos (dezenas deles) que se apaixonaram por mim e relutam em ir embora.

Apesar de tudo isso, estranhei quando me olhei no espelho e percebi um leve sorriso no meu rosto. Será que estava aprendendo a ser feliz mesmo na adversidade? Foi aí que observei mais de perto e vi que o sorriso, na verdade, era a pele repuxada. Tinha acabado meu creme hidratante.

Decidi dar um basta na situação!

Com as mãos fui radical: passei a usar luvas para tudo, até pra fazer xixi. As sobrancelhas eu mesma dei uma ajeitadinha. Coisa pouca. Só tirei os fios que estavam caindo dentro dos olhos e emendando tudo sobre o nariz, acabando com aquele ar de Frida Khalo. O rosto foi fácil. Fui ao supermercado comprar um creme hidratante. Só que nesta terra tenho um problema grave. Gravíssimo, eu diria. Sou obrigada a usar cosméticos nacionais! Ha ha ha! Essa é a parte boa de estar morando na França: cosméticos, queijos e vinhos, só os nacionais. Que chato! Escolhi um anti-rugas leve, primeiras rugas, coisa para quem acabou de passar dos trinta. Nisso eles são incríveis! É uma prateleira imensa em qualquer mercadinho de esquina com todos os tipos de creme que se pode imaginar. Até um para afinar o rosto que estou pensando em experimentar. Quem sabe eu não consigo acabar com essa cara de lua cheia e não fico igual à Mortícia Adams? Com o cabelo a coisa era mais complicada. Precisava de uma solução profissional!

Na França temos o médico da família (atende a todos nós, até à Ana Luíza), achei que devíamos ter também o cabeleireiro da família. Já tínhamos tentado um que cortou o cabelo do Vidal e do Felipe e, apesar de os cortes não terem ficado maravilhosos, decidi eu mesma testar pra ver se ficaríamos com ele de vez ou procuraríamos outra opção.

Marquei horário. Uma terça-feira. Dezoito horas. O grande dia!

Por causa do resultado não muito bom com o Vidal e com o Felipe eu estava meio cabreira. Mas sentei confiante na cadeira e fiquei esperando pelo chefe. O dono do salão, aquele que me transformaria numa criatura deslumbrante.

Ele chegou e perguntou o que eu queria. Minha resposta convicta foi: Não sei! E era verdade. Fiquei dias pensando como ia querer cortar o cabelo e não sabia o que fazer. Disse que ele podia fazer o que quisesse. Eu só queria manter a franja (bem cortada, é claro). E não queria o cabelo muito curto. Mas que tivesse volume. E que fosse prático para arrumar (com duas crianças não dá pra ficar horas na frente do espelho). Ah! E que, se possível fosse igual ao daquela foto ali na revista. Dei total liberdade, portanto, para fazer o que quisesse.

Ele se armou de tesoura e pente, pegou uma mecha do alto da cabeça e... tac! Cortou pela metade! Gelei na cadeira. Será que meu francês estava tão ruim que quando disse não muito curto acabei esquecendo de falar a negação? Fiquei ainda mais cabreira.

Foi quando chegou o assistente e ficou, como todo bom assistente, assistindo. Quis saber qual era a técnica de corte que estava sendo usada. O cabeleireiro explicou, o assistente disse ahhhn e continuou assistindo.

Aí o tal do assistente fez um comentário que iniciou o momento mais tenso do dia: Uma vez eu vi uma técnica de cortar que era bem estranha. Eles juntavam o cabelo todo em cima e faziam um único corte. O cabeleireiro disse: É verdade! Você faz assim, ó... Juntou todo meu cabelo no alto da cabeça, chegou a tesoura perto e... tac! Ele só falou o tac, não fez o tac. Eu me encolhi alguns centímetros. Ele se empolgou. Começou a descrever todas as técnicas de juntar o cabelo numa parte da cabeça e tac. Só que ele falava e fazia. Junta tudo na esquerda e tac. Junta tudo na direita e tac. Junta em cima, no meio, atrás e tac, tac, tac. Ele não cortava, mas repuxava todo meu cabelo, chegava com a tesoura perto e falava: tac. Além de estar ficando com dor de cabeça, a cada tac daqueles eu apertava os olhos e encolhia mais um pouquinho. O meu medo era que ele esquecesse o corte que pretendia fazer quando começou.

O clímax aconteceu na descrição da técnica em que o cabeleireiro coloca a cliente de quatro sobre a cadeira, joga o cabelo todo pra baixo e tac! Essa foi ele mesmo quem demonstrou. Não ousou me pedir pra fazer isso, mesmo porque, eu me recusaria. Mas fiquei pensando... Isso tudo foi um curso ma-ra-vi-lho-so que ele fez em Barcelona onde ele aprendeu tu-do o que sabe. O que acontece é que quando eu tinha dezoito ou dezenove anos fazia exatamente isso: juntava todo o cabelo no alto da cabeça e... tac! Eu mesma cortava meu cabelo. Se soubesse que essa era uma técnica refinadíssima tinha aberto um salão e hoje estaria rica. Fiquei, se é que isso é possível, ainda mais cabreira. Na verdade, até nem me importaria de ser cobaia, desde que ele não estivesse cobrando (bastante) por isso.

Felizmente acabou a aula. Já nem me via mais no espelho de tão encolhida que estava. Sentei normalmente de novo e ele voltou a cortar. Foi cortando, cortando. Cheguei a achar que ia cortar tudo. Não faz isso, não! É pouquinho, é fininho, mas é tudo o que eu tenho.

Durante esse tempo meus pensamentos se alternavam. Gostei. Não gostei. Detestei!!! Aí, aí, tá bom. Adorei! Não, do outro jeito. Não dá pra colar de novo esse pedacinho?

Ele terminou o corte, Voilà! Eu estava parecendo um fósforo: uma bolinha no alto da cabeça e o resto espremido nos lados do rosto. Já não tinha como ficar mais cabreira. Desisti de me preocupar. Cabelo cresce, não é mesmo?

De secador em punho, começou o processo de secagem e arrumação do cabelo. As mulheres vão me entender, ele girava o secador e amassava os fios, afinal, eu tinha pedido volume, não tinha? Desligou o secador e pegou a lata de spray (detesto spray!). Fiquei sufocada de tanto que ele apertou o dedo naquela latinha. Puxou para baixo, puxou para os lados, para cima. Acabou! Pegou o espelho para que eu pudesse apreciar o resultado na parte de trás. Não vou dizer que eu parecia uma leoa porque aprendi num parque de diversões num passeio de fim de semana que as leoas não têm juba. Mas eu estava parecendo... quem?... Já sei! Toni Tornado quando cantava ... na BR3... Murmurei um très bien meio engasgado, levantei, paguei e saí.

Ainda bem que o salão é na frente de casa e que felizmente não encontrei ninguém pela rua. Abri a porta do apartamento e voei como um raio para o banheiro. O Vidal na sala com as crianças, perguntou: E aí? Fiquei no banheiro um tempo observando. Passei um lápis nos olhos. Um batom. Talvez estivesse estranhando minha cara sem maquiagem. Não adiantou. Peguei uma escova e comecei a tentar tirar aquele spray todo. Foi difícil. Lágrimas de indignação e de dor de tanto puxar o cabelo escorriam dos meus olhos. Pensei em entrar embaixo do chuveiro e arrumar do meu jeito. Mas achei que seria um desaforo! Pagar caro no salão pra chegar em casa e desmanchar tudo? Isso eu fazia no Brasil quando era poderosa. Agora não estou com essa bola toda, não.

Um dia eu teria de reencontrar as pessoas do mundo, então saí do banheiro e entrei na sala para o Vidal dar seu veredicto. Ele disse que com aquela toalha na cabeça não dava pra ver nada. Brincadeirinha! Só lembrei da minha irmã, Renata, que aos oito anos de idade amarrou uma toalha na cabeça quando minha mãe mandou cortar o cabelo dela bem curtinho. Disse que só ia tirar a toalha quando o cabelo crescesse. Só hoje, quase vinte anos depois, consegui compreender a atitude da minha irmã. Tive vontade de fazer o mesmo.

O Vidal olhou. Ficou quieto por alguns (torturantes) segundos e, para meu horror, disse: O que foi que ele fez aí atrás? Quase surtei! Balbuciei algumas explicações para o que não tinha explicação alguma. Ele, gentil, tentou consertar: Nem fez diferença! Foi pior! Como não fez diferença? Quando eu saí tinha todos os fios quase do mesmo tamanho com as pontinhas viradas para baixo. Agora cada um tem um comprimento diferente com as pontinhas viradas para todos os lados!

O padre tinha dito: na alegria e na tristeza, na saúde e na riqueza, na saúde e na doença, não tinha? Faltou acrescentar com o cabelo seja lá como for. O Vidal decidiu ser solidário e acrescentou: Eu também não gostei do trabalho dele. É um cara legal, mas não dá. Vamos procurar outra pessoa... Fiquei um pouco mais reconfortada, mas, por via das dúvidas, decidi cobrir todos os espelhos da casa, afinal, o que os olhos não vêem o coração não sente, certo?

O travesseiro acabou fazendo um bom trabalho. No dia seguinte o cabelo já tinha baixado bem e com o passar dos dias foi ficando praticamente normal. Mas desconfio que ficarei longe de salões por um bom tempo...

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9 comentários:

  1. Ju, hilário!!! Adorei!!!
    Meu problema no cabelereiro sempre foram as escovas... Numa época em que todas as mulheres faziam permanentes, eu amava meu cabelo bem lisinho... Então, quando em datas festivas, corria pro salão pra fazer a escova mais lisinha possível, mas não havia um cabelereiro(a) que não reclamasse da quantidade de cabelo que eu "ainda" tenho!!! Eram comentários do tipo, "Ai, não aguento mais de dor no meu braço..." E eu com aquela cara de "Sinto muito!"
    O melhor foi uma loucura que fiz, uma vez. De tanto ir na contra mão, com meu lisão, resolvi fazer "bigudim" (:D). As pessoas falavam tanto no tal do "bigudim" que entrei no salão e pedi o tal. Sentei na cadeira, a cabelereira pediu a ajuda de mais uma, me viraram de costas para o espelho e aguardei por duas longas horas pelo momento de virar a cadeira e encarar o espelho e me ver... de cachos!!!! Hahahahaha!!!! Até hoje acho que fui completamente louca de sair do salão com aquele cabelo!! Hahahaha!!! Mas adoro lembrar, especialmente quando estou triste, é risada na certa!!!
    Beijos

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  2. Ju, hilário!!! Adorei!!!
    Meu problema no cabelereiro sempre foram as escovas... Numa época em que todas as mulheres faziam permanentes, eu amava meu cabelo bem lisinho... Então, quando em datas festivas, corria pro salão pra fazer a escova mais lisinha possível, mas não havia um cabelereiro(a) que não reclamasse da quantidade de cabelo que eu "ainda" tenho!!! Eram comentários do tipo, "Ai, não aguento mais de dor no meu braço..." E eu com aquela cara de "Sinto muito!"
    O melhor foi uma loucura que fiz, uma vez. De tanto ir na contra mão, com meu lisão, resolvi fazer "bigudim" (:D). As pessoas falavam tanto no tal do "bigudim" que entrei no salão e pedi o tal. Sentei na cadeira, a cabelereira pediu a ajuda de mais uma, me viraram de costas para o espelho e aguardei por duas longas horas pelo momento de virar a cadeira e encarar o espelho e me ver... de cachos!!!! Hahahahaha!!!! Até hoje acho que fui completamente louca de sair do salão com aquele cabelo!! Hahahaha!!! Mas adoro lembrar, especialmente quando estou triste, é risada na certa!!!
    Beijos

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  3. Ju, quanto tempo não lia suas crônicas... Tempo, oh falta de tempo... O tempo que passa tão rápido e que é o vilão mascarado da minha total falta de organização... Oh vida, oh céus, oh azar!!! hehehe
    Adorei ler e reler, rir, sorrir e até chorar... A tristeza e o cansaço do dia-a-dia deram uma trégua e vou dormir sorrindo ;)
    Beijo! Dea

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  4. Juju, somos todos criaturas de Deus, juntamente com os mandrovás.
    A parte boa de mandar um cabeleireiro cortar o seu cabelo é que depois você tem a quem amaldiçoar...
    Bjão, querida!
    Feliz Halloween!

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  5. Eu já desisti de cortar o meu cabelo há muito tempo e é só por isso que ando c essa juba de crente. É a pior pretação de serviço que existe: vc dá uma explicação subjetiva do que quer, imagina que o coitado vá ler os seus pensamentos, o cara se engana, faz porcaria, vc paga a contra gosto, dá beijinho de tchau e chega em casa chorando. Que processo mais maluco? e se repete c todo mundo!! Por isso que há anos eu tiro as pontinhas do meu cabelo no seu esquema de levantar tudo e tac! Pelo menos se ficar ruim eu não paguei nada e não foi um profissional quem fez né?

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  6. Lili!
    Vc de cachos deve ter ficado uma coisa muito legal!!! Tirou foto?!
    E, como diz a minha mãe, com bastante cabelo TEM O QUE FAZER! Não importa! Pra sempre vamos morrer de inveja do seu cabelão! :-D
    Ana Luíza e Maria Clara se divertiram um monte no sábado!

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  7. Déa

    Fico tão feliz quando alguém me diz que estava triste e que acabou ficando melhor depois de rir das minhas "desventuras". Dá sentido pra todas elas!

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  8. Rose!
    hahahahahaha
    Mandrová foi ótima! Já tô me sentindo bem melhor!!!!
    Depois te mando uma foto da minha versão Halloween!

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  9. Carol
    Vamos combinar que o Altíssimo já te deu uma uma boa vantagem sobre nós, mortais, né? :-)
    Ninguém resiste a uma loira!
    Depois pega o telefone do Renato comigo. Ele realmente é muito bom!!! Milagreiro!

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