quarta-feira, 14 de maio de 2008

Minha folhinha não marca o dia de ser feliz

O dia das Mães acabou de acontecer e talvez eu venha a surpreender alguns de vocês mas dias do ano que têm nome e sobrenome geralmente me irritam. Por exemplo, nome, 11 de maio, sobrenome, dia das Mães. Outros exemplos? 12 de junho – dia dos Namorados, 25 de dezembro – Natal, isso sem contar os aniversários de todos os tipos.

Antigamente eu vivia uma expectativa insana por causa das tais datas comemorativas e na maioria das vezes o resultado era catastrófico. Afinal, não tem nada mais impossível do que data marcada para estar feliz, disponível ou de bom humor. O dia das Mães, por exemplo. Vai parecer lugar comum, mas dia das Mães é todo dia! Todo dia em que for possível estar por perto, dizer que gosta, decidir não fazer manha, obedecer, ir tomar banho sem reclamar, não espalhar os brinquedos pela sala, etc., etc., etc. Confesso que prefiro receber tudo isso a prestação, um pouquinho por dia, a ter tudo concentrado num único dia do ano.

E o mesmo vale para as outras datas!

Imaginem só: a moça acorda, depois de uma noite mal dormida por causa de uma azia ou de um pesadelo, ou por causa das duas coisas ao mesmo tempo. A dor de cabeça só aumenta ao olhar no espelho e ver que as olheiras chegam ao queixo. Ela se arruma e, quando está engolindo um café de qualquer jeito na cozinha, tropeça num pano caído no chão e derruba o café na roupa. Já tinha sido difícil encontrar o que vestir na primeira vez, na segunda é quase uma tortura, mas ela consegue. Chama o elevador, volta em casa pra buscar uma pasta de documentos que tinha esquecido, e então perde o elevador que, invarialvelmente, vai fazer um tour pelo prédio indo do subsolo ao último andar onde mora aquela família que insiste em segurar a porta por infinitos cinco minutos contados no relógio. Completamente atrasada, ela chega na garagem e se dá conta de que, quando foi buscar a pasta de documentos, esqueceu a chave do carro em cima da mesa da copa. Nesse momento ela fecha os olhos, respira fundo e pensa que não vai suportar outras 10 horas do dia iguais aos 40 minutos que acabou de viver. Enfim, consegue sair de casa, mas pega todos os sinais fechados, não encontra vaga pra estacionar na rua próxima ao trabalho, leva bronca do chefe por um erro cometido por aquela colega que detesta, recebe uma notificação de multa por estacionamento em local proibido e, para completar, ao ligar para casa descobre que a empregada não foi trabalhar exatamente no dia seguinte ao de uma festinha em que a pia ficou transbordando de louça. Enfim chega a hora de ir embora. Ela consegue pegar todos os engarrafamentos possíveis numa sexta-feira à tarde e, no momento em que enfia a chave na fechadura, quebra a unha pintada de vermelho que tinha feito na hora do almoço! Tudo o que ela quer é se enfiar embaixo do chuveiro e depois na cama, agarrada a um pote imenso de sorvete, mas, que azar!, é dia dos Namorados e estava previsto um jantar romântico cheio de velinhas perfumadas na casa dela. Jantar no qual ela imaginava usar aquela lingerie sexy que só encontrou num número menor mas que comprou assim mesmo porque estava decidida a emagrecer. Fato que, obviamente, não aconteceu, muito pelo contrário: a balança acusa pelo menos três kilos a mais! É ou não é um cenário de horror?

O pior é que o namoro até poderia estar legal, mas o trauma de um dia dos Namorados completamente arruinado pode ser lembrado por anos...

E o que dizer do contrário? O cara é o maior safado, sem noção, meio indiferente. Mas no dia dos Namorados se transforma na criatura mais romântica da face da terra, envia flores três vezes no dia, contrata um quarteto de cordas para o jantar, faz cair um par de brincos de brilhantes dentro da taça de champagne e providencia uma cama coberta de pétalas de rosas na suíte do motel cinco estrelas que reservou. Isso transforma o mancebo num super companheiro? E os outros 364 dias do ano em que ele não liga a mínima para a cara metade?

Faz relativamente pouco tempo que desenvolvi essa capacidade de ignorar as datas festivas. Até há alguns anos eu torcia, rezava, fazia simpatias, mandingas e danças tribais pra ter muito sol em dias especiais como o meu aniversário, por exemplo. Adivinhem? Dá pra contar nos dedos, talvez de uma mão, quantas vezes vi raios solares enquanto cantava Parabéns pra você pra mim mesma diante do espelho. A prova está aqui. E quando teve sol, os outros eventos do dia foram nefastos. É só conferir aqui.

No dia do meu casamento chovia tanto que eu considerei a possibilidade de usar um snorkel pra sair do carro e chegar até a porta da igreja. A roupa molhada da minha sogra nas fotos não me deixa mentir! No aniversário de um ano do Felipe não só chovia, como também ventava e fazia frio. O mesmíssimo tempo que fazia no dia do aniversário de um ano da Ana Luíza. Garoa, frio e temperatura super baixa. No dia 26 de dezembro!!!

Hoje resolvi completamente esse problema meteorológico na minha vida. Aproveito TODOS os dias de sol que eu posso sem me importar com o que diz o calendário.

Da mesma forma, não tenho qualquer expectativa em relação a outros dias. Não espero presente, agrado, telefonema ou qualquer coisa em dia nenhum. Se por acaso acontecer alguma coisa legal, vou ser feliz. Se não acontecer nada, não estava esperando mesmo!

Obviamente se eu fosse comerciante, se vendesse flores ou cestas de café da manhã, talvez pensasse diferente. Se fosse psicóloga também. Quantos pacientes a menos eu teria se não existissem os traumas pelos presentes que o Papai Noel não trouxe, pelos dias dos Pais em que os filhos não telefonaram, pelo aniversário de casamento esquecido, pelas brigas no dia dos Namorados (já cheguei a terminar namoro em dia dos namorados, como sou cruel!), pelo fato de que o Coelhinho da Páscoa nunca trouxe aquele ovo Sonho de Valsa número 23 desejo de uma vida inteira, enfim, pelas apresentações de dia das Mães na escola em que a mãe chegou atrasada, quando tudo já tinha terminado? Aliás, essa última aconteceu comigo esse ano! Uma vez que não sou psicóloga, já estou fazendo a poupança necessária para pagar a terapia do Felipe...

De minha parte, dei meu grito de independência! Às datas especiais do calendário dedico minha mais profunda indiferença. Com isso ganhei bem mais de 300 outros dias no ano para ser feliz!

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5 comentários:

  1. Hehe maravilhosa....
    Estava esperando e veio mesmo, você tinha prometido no outro post.
    E mesmo aqui em gramado no intervalo de umas palestras que resolvi não assistir deste congresso delicioso (pela folga que estou tendo) consigo ser a primeira a te dizer que adore e: sono assolutamente d´accordo. Essere felice tutti i giorni possibile. Grande!
    Bacio grandissimo.
    Marie

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  2. Delícia começar meu dia lendo suas crônicas..Maravilha de Titia!!!

    Bjks
    Sheyla.

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  3. Ju, sumi né...!!
    Adorei a crônica... tristeza com bom humor, perfeito...
    Vou te mandar um email.
    Bjs. Até a próxima.
    Consuelo.

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  4. Ju, obrigada pela crônica, pra falar a verdade, nunca tive festa de aniversário, já deu pra perceber que o resto das datas também já eram... beijos!

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  5. Ju!
    Eu curto datas, mesmo as com chuva.
    Meu pai costumava dizer que os momentos realmente importantes da vida dele foram dias chuvosos... No dia de seu casamento, caiu um dilúvio!! Quem estava na igreja não saia e quem não estava não entrava... Meu pai estava, mas minha mãe ainda não!! Então 2 horas de atraso!!!
    E assim foi...
    No dia que ele morreu, choveu! E eu, minha mãe e irmã, nos emocionamos ainda mais porque sabíamos o que aquela chuva representava... Era uma data importante!
    E assim, sempre que chove, em datas importantes ou não, sinto meu pai! Sinto também em dias de sol, mas a chuva conquistou um lugar especial em minha vida!!
    Beijos carinhosos com desejos de muitos dias felizes pra você, com ou sem chuva!!
    Lili

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