terça-feira, 10 de junho de 2008

Quem espera sempre cansa!

Estou pensando seriamente em fazer uma modificação na minha vida. Vou alugar uma sala comercial e instalar um espaço para que os médicos venham me ver, e não o contrário! Se eu for fazer uma conta de quantas horas por semana estou envolvida em consultas, exames, liberação de guias do plano de saúde, ou então pendurada no telefone tentando conciliar os horários de tudo isso, vou acabar reclamando salário em algum Ministério por aí. Será que já existe o Sindicato dos (Im)Pacientes? Deveria!

Claro que não vou nem mencionar o tempo gasto em deslocamentos de um consultório para outro, de uma clínica para outra, senão vou achar que teria direito também a, no mínimo, vale-transporte.

Mas o que não dá pra ignorar é o tempo que aguardo nas salas, cujo nome não poderia ser mais adequado, de espera! Aliás, é de um desses ambientes que escrevo nesse momento. Considerando que, só hoje, ainda tenho mais dois encontros médicos, acho que vai dar pra escrever umas dez páginas, no mínimo! (Esqueci de acrescentar que não são só os cuidados comigo mesma que me levam aos consultórios e laboratórios, mas também o envolvimento com meus pimpolhos que, no outono, caem de cama na mesma proporção e velocidade com que caem as folhas das árvores!) Se eu não acabar esse texto hoje, deixem-me ver, só nessa semana ainda tenho mais um exame e uma consulta... Tempo de sobra!

É verdade que essas horas da minha vida gastas só esperando para ser atendida já me permitiram fazer uma série de coisas interessantes: li romances inteiros, escutei muitos CDs, pensei na vida, bisbilhotei a conversa alheia, participei de conversas várias e já até dei piti!

Uma vez fui acordada cedíssimo pelo som estridente do telefone. Era da clínica onde eu devia fazer uma ecografia naquele dia. Eles diziam que o médico tinha um compromisso urgente e que não poderia fazer meu exame no horário marcado a não ser que eu me encaminhasse imediatamente para lá. Pulei da cama mais do que depressa, mal tive tempo de limpar as remelas dos olhos, e saí em desabalada carreira para a tal clínica. 5 revistas Caras e três horas e meia depois, o médico já estava mais de 40 minutos atrasado em relação ao horário original em que eu deveria ter sido atendida! Foi nesse momento que outorguei a mim mesma o direito de me debulhar em lágrimas histéricas de raiva, sono, fome e indignação, já que abandonar a clínica estava fora de cogitação: eu não tinha outra alternativa a não ser fazer aquele exame, naquele dia, com aquele médico, o único que tinha aceitado me encaixar.

Aliás, morro cardíaca de inveja dos médicos, verdadeiros especialistas em Física capazes de realizar o milagre da multiplicação das horas. A quantidade de páginas do livro que levarei para a sala de espera de um consultório vai depender do que me disser a telefonista. A simples menção à palavra encaixe já me faz pensar em algo como Ilíada e Odisséia. Juntas!

O engraçado é que, mesmo tendo sempre um livro (ou dois) na bolsa, raramente resisto à pilha de revistas Caras das salas de espera dos consultórios. O que seria da revista Caras sem médicos, dentistas e afins? É verdade que na maioria das vezes vou saber quem saiu em qual trio elétrico no carnaval da Bahia enquanto o hit do momento é alguma coisa como Cai, cai balão! Cai, cai balão! Aqui na minha mão, para desespero dos bombeiros. Descubro quem casou, quem fez plástica, quem teve filho no momento em que o casal provavelmente já está separado, a plástica já está vencida e o filho quase a ponto de sair num trio elétrico no carnaval da Bahia, mas tudo bem! Qualquer coisa que me mantenha num estado de semi-catatonia serve para preencher as intermináveis horas passadas nas salas de espera. Ler coisas que façam pensar é até perigoso! Se desenvolvo meu raciocínio lógico-matemático, posso acabar fazendo (de cabeça!) uma continha simples: 45 minutos (ou mais) de espera para, às vezes, 5 minutos (ou menos) de atendimento. Dá quase uma hora. Justifica o valor da consulta, não?

Claro que, felizmente, a menor parte dos médicos que consulto é assim. Aliás, nos últimos anos foram tantos os discípulos de Hipócrates, daqui e d’além-mar, em cujas salas de espera descansei meus glúteos, que desenvolvi uma espécie de anamnese particular para avaliar o comportamento do profissional candidato a figurar na junta médica da minha vida. Quanto maior o tempo que tenho para decorar as feições e os trejeitos da secretária, menor a chance de voltar. E o tempo da consulta também conta. Não exatamente o tempo, mas a qualidade do que é discutido, evidentemente. Tem coisas que se resolvem em cinco minutos, não sou carente a ponto de esperar que o médico permaneça meia hora ouvindo minhas lamúrias. Mas, acho que vocês vão concordar comigo, desisti de um médico quando, na quarta consulta com menos de cindo minutos de duração, vi que o doutor à minha frente tinha se confundido completamente! Eu tinha emagrecido 3Kg desde nosso último encontro e ele estava registrando no seu computador que eu tinha engordado 3Kg! Isso, por si só, já seria motivo mais do que suficiente para um processo por erro médico, calúnia e difamação. Mas a gota de formol que fez transbordar meu tubo de ensaio foi que, quando olhei para a tela do computador para verificar porque ele tinha cometido engano tão cruel, vi que ele estava conversando no MSN! Tenho certeza de que paciente em estado terminal não bate papo pelo computador. Achei que nada justificava aquele verdadeiro absurdo! Até penso que fui muito legal. Tudo o que fiz foi nunca mais beber uma única gota sequer do chá de cadeira daquela sala de espera!

Hoje, felizmente, só tenho contato com médicos absolutamente responsáveis e atenciosos durante as consultas, o que não quer dizer pouca espera, infelizmente. Paraíso na terra não existe, todo mundo sabe disso!

E, tirando o dia em que rodei a baiana naquela clínica de ecografia, não tenho nenhuma passagem mais tragicômica para contar. Mas soube por um médico, cujo nome não revelarei nem sob ameaça de bisturi, que uma vez um de seus paciente pediu uma pizza enquanto esperava para ser atendido. No maior bom humor! Foi aí que esse médico começou a rever seus conceitos, assim como a também a organização de sua agenda, e hoje, vejam que progresso, esperei só uma hora para ser chamada!

Depois de saber desse divertido episódio da pizza, pus a cabeça para funcionar e fiquei imaginando quantas possibilidades de negócio estão sendo perdidas! Para começar, daria para fazer uma espécie de banca de revistas ou livraria na sala de espera. Quem sabe um cybercafé com confeitaria. Endocrinologistas poderiam ter só produtos diet, por exemplo. No mínimo, daria pra ter um ou mais vendedores ambulantes que anunciariam: Olha o suco de tomate! Licopeno para a sua próstata, Chefia! Vai um suco de cenoranja aí, Madame? Combate os radicais livres, hein! Tá barato, tá gostoso, e ainda por cima não te deixa ficar canceroso! Vamo aproveitá freguesia!

E meus planos são ainda mais ousados. Vou abrir imediatamente uma empresa de prestação de serviços. Ela vai se chamar Wait is fun!, nomes em inglês ficam mais chiques e dão um ar internacional para a coisa. Essa empresa vai contar com uma série de profissionais que se encarregarão de tomar conta das salas de espera que existem por aí. As possibilidades são infinitas. Vão desde um músico que fique tocando violão ou violino para deleite dos agora não mais impacientes, até coisas mais inusitadas como aulas de artesanato, por exemplo.

Pensando bem, acho que a escolha do profissional deveria ser mais direcionada à especialidade clínica em questão. A cada médico, um tipo de entretenimento. Por exemplo, aulas de dança do ventre nos consultórios ginecológicos. Show de mágica nos consultórios dos oncologistas. Para os pediatras é fácil: equilibristas, malabaristas, contorcionistas e palhaços (as mães, principalmente de gêmeos, dariam aulas para os contorcionistas se fosse o caso). Salas de espera de nutricionistas e endocrinologistas teriam cursos de culinária em ritmo de fast food. Nas salas de espera dos proctologistas... Tá, nem tudo é tão simples assim, reconheço! Mas nos consultórios dos geriatras poderia rolar um divertido bingo. Os prêmios seriam fraldas geriátricas ou tubinhos de Corega. E, para quem fechasse a cartela, o grande prêmio: um ano de consultas realizadas no horário marcado! Um verdadeiro sonho!

Uma outra idéia seria transformar a sala de espera em sala de cinema. Com programação diária divulgada na porta. Mas confesso que, por melhor que fosse o médico, eu desistiria caso chegasse à clínica e lesse na porta: Hoje, em cartaz, trilogia completa em versão estendida e sem cortes do Senhor dos Anéis. Não dá! Mesmo que ficar sem tratamento possa significar a morte, a gente tem mais o que fazer na vida!

PS.: depois de uma hora na sala de espera, aguardei mais 20 minutos dentro do consultório. Consegui até terminar o texto. O que vou fazer nas próximas consultas do dia? Céus!

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4 comentários:

  1. Êba! Mais consultas? Mais textos? Adooooro!!
    Acho mesmo uma tremenda falta de educação essa tal de sala de espera. Pior que sala, só a fila, nos bancos. Quem merece ficar horas em pé pra quando ser atendido ter que entregar o próprio dinheiro? Com tudo o que nos cobram deviam nos oferecer terapia de pedras quentes, limpeza de pele, ofurô e outras frescuras mais, não acha?
    Voto sim pelo entretenimento!
    Mas se não escrever mais durante a espera, promete que escreve quando chegar em casa?

    Beijo

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  2. Juliana,

    Minha musa, minha poeta, minha amiga....Você com sua linda alma, sempre me toca em poesia com o cotidiano nosso que tão bem trabalhas em palavras.

    É um presente poder vir aqui e simplesmente te ler...Adoro!!!
    Faz bem para minha alma e saúde (física e mental, of course).

    Saúde e beijão.

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  3. AHHHH!!!!! Não acredito que cheguei assim tão atrasada!!! Este texto estava aqui há dois dias!?!?!?!? Meu computador me engana. Dou reload e ele faz de conta que nada aconteceu. Juro, olhei ainda ontem e não tinha nada novo para mim...
    Bem, vai ver ele estava guardando para me presentear hoje. Computadores de mulheres talvez tenham estas coisas...
    Mesmo sendo parte da parcela analisada e julgada no texto, A DO RE IIIIIIII!!!!! Bem, se eu não fosse da parte da outra parte, diria que poderíamos nos vingar deles fazendo-os esperarem infinitamente na fila de autógrafos quando formos famosas, no Waldorf Astória em NY, para os últimos nossos lançamentos na B&N.
    Mas sendo parte "culpadíssima", da outra parte, primeiro sei que, com certeza estarei atrasada lá também. Segundo, tenho que ir fazendo uma economia substancial para contratar teus serviços ou melhor, os serviços da Wait is fun... Diabo vai ser eu ficar atendendo enquanto rola a maior coreografia de belly dance lá fora... Mas...
    Adorei a crônica. A minha espera por elas, sempre é recompensada. Vale a pena. Que devo te desejar??? Que tenhas mais esperas????? Que continues nos encantando. Aliás, taí outro negócio. Um livro de crônicas ou contos para a sala de espera. Só para minha especialidade já tens duas. E uma já está em livro.
    Beijos, maravilhosa.

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  4. Juju, se vc for abrir mesmo o negócio me chame para ser sócia, espero em média 3 horas para passar em consulta com minha endócrinologista, isto porque chego geralmente com 1 hora de antecedência devido ao rodízio e trânsito paulista, totalizando: 4 horas de espera... beijos, adorei o texto!

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