sexta-feira, 25 de julho de 2008

Deixa a onda me levar...

Há pouco mais de dois anos desenvolvi uma nova filosofia de vida. Já falei sobre isso com muitas pessoas e hoje venho a público oficializar o que já compreendi sobre mim: eu sou um plâncton! Isso mesmo. Um plâncton. Aquela criaturinha que vive no mar e que vai daqui para lá ao sabor da correnteza.

Por que cheguei a essa brilhante conclusão? Porque um dia acordei e percebi que não queria mais nadar contra a maré. Vi que era inútil, além de um gasto desnecessário de energia, tentar mudar o rumo das coisas ou me rebelar contra a grande corrente marinha da vida. Desde esse dia decidi: sou um plâncton e como plâncton viverei.

E como é a vida de plâncton? Simples, muito simples. Vou para onde a correnteza me leva, sem protestar ou resistir. Quando chego ao destino, ou mesmo no meio do caminho, vou me adaptando à nova realidade, procurando aproveitar o que tem de bom no novo ecossistema e tentando, na medida do possível, ignorar o que tem de ruim já que um plâncton do meu tipo, ou seja, um zooplâncton, vejam só, é animal e não planta, portanto, não cria raízes! Um plâncton hoje está aqui, mas amanhã vem uma corrente quente do Equador e leva ele embora. Que beleza! O que era mau não existe mais, o que era bom virou lembrança e vamos a novas descobertas!

É verdade que às vezes a corrente é fria e o pobre do plâncton entra numas geladas de dar dó. Aí o negócio é arranjar um bom cachecol, uma meia de lã e aproveitar pra tomar uns vinhos e comer fondue, porque no frio isso é tudo de bom!

Há quem pense que ser plâncton é ruim porque ele é comida de baleia, mas eu pergunto: quem é que garante que os peixinhos ou mesmo peixões que vão para onde querem conseguirão deixar de ir parar na goela da baleia? Já que não dá pra ser a própria baleia, melhor viver tranqüilo e quando for pra partir, coisa que vai acontecer a todos quer queiram quer não, NHOC!, que seja de uma só vez e sem dor. Claro que não tenho provas científicas disso, mas imagino que, na hora de virar lanchinho de baleia, muito melhor ser plâncton que é engolido de uma só vez do que ser dilacerado e mastigado aos pouquinhos, é ou não é?

Também vão aparecer aqueles que se sentem inferiores por serem apenas passageiros nessa corrente, por não controlarem o leme de seus próprios destinos, não decidirem a direção a seguir. A esses eu digo, mais uma vez, salve a vida de plâncton! Tudo isso aí é verdade, um plâncton não tem muito querer, até pode tentar aproveitar uma calmaria para escolher um ou outro rumo, porém, mais cedo ou mais tarde, virá uma onda que mudará irremediavelmente todos os planos.

Mas o bom de ser plâncton é que, como ele é carregado de um lado para o outro, não se cansa na viagem. Está sempre pronto pra balada assim que chega, embora às vezes esteja um pouco confuso com a mudança de rumo. E há inúmeras vantagens em ser passageiro na vida, vantagens essas impossíveis aos que dirigem: dá pra ficar olhando pela escotilha admirando a beleza da paisagem, dá pra estudar o mapa observando a trajetória percorrida e imaginando as inúmeras e surpreendentes possibilidades de caminho pela frente, dá pra fechar os olhos e dormir um pouco nos momentos de tédio, em tempos de lei seca não precisa se preocupar com o teste do bafômetro, dá até pra escrever com luz individual quando fica noite como é o caso na viagem de ônibus que faço nesse momento (sou um plâncton terrestre também, um dia a ciência descobrirá essa importante categoria!).

E o principal é que, quando cansar de tudo isso, é possível apagar todas as luzes e simplesmente observar a lua e as estrelas que surgirem pelo caminho. Com sorte dá até pra ver uma estrela cadente e fazer um pedido: que a vida me conserve plâncton para sempre!

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Eu tinha um outro post preparado para hoje, sobre minha experiência recente no nordeste. Mas inverti minhas prioridades para publicar esse texto em homenagem a uma amiga de longa data, Cláudia.

Que a corrente da vida não nos faça passar tanto tempo sem nos encontrarmos na mesma praia novamente! Senão vão nos expulsar ainda de muitos outras confeitarias, bares, restaurantes até conseguirmos colocar todos os assuntos em dia! Esses garçons que não entendem a nossa necessidade de falar muitas horas seguidas estão precisando conhecer minha nova filosofia :-)

Mais um aviso: logo voltarão as versões para impressão, inclusive dos posts recentes! Promessa!

7 comentários:

  1. Ju,
    Post certo na hora certa.
    Eu q brigo tanto c a vida q vive me levando pra onde eu não quero, estou quase convencida a ser mais plâncton.
    Sofri tanto p estar em Ctba de novo e em uma semana já estou entediada, traçando novos planos em cima daqueles que eu nem concretizei ainda. Que canseira que isso tudo me dá!
    Vou ler mais algumas vezes!
    Beijo

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  2. Juliana você iria ser uma "plânctom" muito bonitinha, viu.
    Eu gostaria imensamente de poder ter este tipo de personalidade Plânctom..simplesmente deixar levar-me ao sabor da ocasião...Mas adoro um bom embate.
    bjks.

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  3. Eu tb gostaria de poder me resignar e ser plancton.
    Otima leitura, obrigada!

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  4. Juliana, li seu comentário no blog do Fabrício e resolvi entrar no seu. Agora você terá 14 acessos diários, viu? Adorei o texto. Também queria ser um plâncton, mas não é fácil, não. Ainda chego lá. Beijocas e parabéns!! Bel, do www.beleleo.com.br. Inté.

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  5. Bah este foi muito legal !

    O do nordeste tambem, vcs devem ter tirado de letra aquele tempinho mixuruca, afinal quem viveu em nantes minha filha, com chuva por tempo indeterminado, tem sempre uma capa por perto he he eh
    Beijocas

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  6. Como diz a música......
    Deixe a vida me levar, vida leva eu!!!! Parece que essa é a melhor filosofia de vida pros dias de hoje!
    Bjos

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  7. Zeca Pagodinho é a trilha sonora básica de um plâncton!!! :-D

    Lulu Santos também: "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia..." hehhehe

    A "filosofia plâncton de ser" está cada dia mais avançada! Além de trilha sonora, já tem literatura tb! Um dia coloco por aqui um poema que encontrei que praticamente "define" um plâncton!

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