quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Economizar nem sempre faz aumentar o que se tem

Pois é dando, que se recebe.
(Oração da Paz, São Francisco de Assis)
Quando eu tinha uns doze anos, ganhei uma caixa de bombons ao licor. Fiquei encantada! Guardei aquela caixa no canto mais secreto do meu armário porque, com três irmãos menores, não podia vacilar. Sabia que se desse bobeira, meus preciosos bombons desapareceriam em minutos!

Demorei dias para experimentar o primeiro e achei aquilo maravilhoso! Mas esse primeiro bombom saboreado lentamente, deixou também o primeiro espaço vazio na caixa e, naquele momento, comecei a sofrer o seu fim. Quis economizar o máximo o meu tesouro. Abria a caixa só quando estava absolutamente sozinha, muitas vezes só aspirava o aroma dos chocolates sem me permitir o prazer de degustá-los. Outras vezes, ficava apenas olhando a caixa, lendo a lista de ingredientes, observando as decorações em letras douradas. Não sei quantos bombons tinha lá dentro. O que sei é que a maior parte deles foi parar no lixo!

Um dia, quando, em vez de só cheirar e olhar, decidi provar outro bombom, descobri que o licor tinha secado e que o chocolate tinha gosto de mofo.

Há pouco tempo disse por aqui que a generosidade é fator recente na minha vida. Generosidade comigo mesma, porque a generosidade com os outros e com a vida eu já praticava intensamente. De receitas a conselhos; de ajuda para carregar caixas a decorações de festas inteiras; de técnicas de artesanato a procedimentos no trabalho que facilitassem caminhos; de cafuné a ombro para chorar, jamais deixei de distribuir por aí o que eu tivesse em mim que pudesse ajudar a quem quer que fosse. Só faltava mesmo a generosidade comigo mesma, mas agora até essa me pertence.

Desde o episódio dos bombons que considero o marco da avareza absoluta até o show da Madonna ao qual fui o ano passado e que, para mim, foi o marco da generosidade completa, muita coisa aconteceu e também deixou de acontecer pela pouca generosidade que eu tinha em relação a mim mesma. E, depois de viver esses dois extremos e tudo o que aconteceu entre eles, penso que a imagem que melhor representa a generosidade é a da cornucópia: aquele chifre de onde jorram constante e infinitamente os frutos que alimentam. Acredito que doar seja lá o que for, abre espaço dentro de si, o qual será rapidamente preenchido com algo que será novo, fresco e cheio de vida. O que doamos, volta. Certamente!

Pode ser doação de tempo, de atenção, de carinho. Doação de conhecimento, de sabedoria, de idéias. Doação de colo, de abraço ou de um simples beijo. Tudo aquilo que não doamos fica conosco, é certo. Nos pertence. Não corremos o risco de ficar sem. Mas existe um risco que, nesse caso, é de outra natureza...

Conheço gente de todo tipo: desde aqueles que se doam em excesso até aqueles que não se doam em absoluto. Nenhum extremo é saudável, mas, entre os dois, tenho mais pena das pessoas que se economizam.

As razões para ser avarento de si mesmo não importam. Pode ser preguiça, pode ser medo de vir a ter, quem sabe, algum incômodo, talvez seja medo de alguém fazer melhor aquilo que se faz bem, quem sabe o medo de se envolver com o outro e, com isso, criar laços... A verdade é que quem não se doa, também acaba por não receber...

Não há ilusão possível: a generosidade é via de mão dupla. Doa-se para receber em troca, é claro. Não é desinteressada, de maneira alguma! E, quando essa relação é desbalanceada, ou seja, alguém dá a que não retribui, fatalmente vai chegar o dia em que o doador se afastará e fará suas doações a quem seja generoso também em retribuição.

Aquele que se economiza permanecerá com seus tesouros muito bem guardados, esperando o dia em que encontrará o ser afortunado e merecedor de suas dádivas. Procurará tanto, escolherá tanto, esperará tanto por esse escolhido que correrá o maior risco a que está sujeito aquele que tanto se economiza: no dia em que tal criatura aparecer, ao abrir-se para enfim doar o que existe dento de si ao outro, descobrirá que, tal como os meus bombons, o que era doce, secou, o que era fresco, está mofado e que não existe nada além de matéria ressequida, envelhecida e sem valor, cujo destino não poderá ser outro que não o lixo.

4 comentários:

  1. Krida,
    Que post legal e verdadeiro.
    Também acho que a coisa mais triste que tem é uma pessoa mesquinha com ela mesma.
    A falta de generosidade como um todo é feia, consigo mesma é triste.
    Agora eu, dependo do momento da sua generosidade em me perdoar.
    Não só não liguei antes, como não dei nenhum sinal de vida desde que te convidei para a gente almoçar hoje juntas.
    Tsc, tsc, tsc...
    Que feio né?
    Me perdi hoje.Totalmente.
    Mas tô com saudades. Como está teu dia amanhã??? (dia depois das 17:30 mais ou menos).
    E como foi o seu dia hoje??
    Me dá uma ligadinha tá?
    Beijinhos
    Marie

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Que coisa mais linda!
    Simplismente adorei!
    Realmente, muitas vezes, queremos tanto ajudar os outros que esquecemos de nós mesmas.
    Parabens pelo seu blog. Se puder da uma passada no meu.

    http://entreaspas2.blogspot.com/

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  4. Verdade, Ju!
    Quem confia plenamente em si mesmo não precisa esconder o osso para roe-lo sozinho!
    Bjão!

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