domingo, 11 de janeiro de 2009

É melhor se incluir dentro dessa... E rápido!

O que mais tenho ouvido ultimamente é: minha vida está uma correria, não dá tempo pra nada! É verdade que o tempo sempre foi o assunto preferido para os momentos em que o tal do assunto falta, mas aos poucos vamos substituindo o tempo-clima pelo tempo-relógio. Acho que é uma forma inconsciente de dar uma de avestruz. Estamos evitando assuntos, digamos, naturais.

Esses dias um colega contava sua rotina das segundas-feiras quando o trabalho o obriga a ir de um extremo a outro da cidade, fazendo com que ele gaste quase cinco horas de transporte público nessa corrida. Muito espantado, alguém lhe perguntou:

- E você ainda encontra tempo para almoçar?

- Não! Faço fotossíntese!

É, minha gente, a situação é grave! Mas triste mesmo é ver que corremos tanto de um lado para o outro que não tem sobrado tempo para ver o que está acontecendo ao nosso redor. Nosso mundo está em perigo de morte e nem será súbita. É uma morte anunciada mas, como avestruzes, escondemos a cabeça num buraco no chão. Talvez só venhamos a reconhecer o problema quando esse buraco ficar tão insuportavelmente mal-cheiroso de tanto lixo acumulado que sejamos obrigados a levantar a cabeça para respirar ar puro. Nesse momento descobriremos, chocados, que ele não existe mais e que a água limpa para, pelo menos, lavar a cara e ficar livre desse cheiro... cadê? Desapareceu! Que horror! Quem foi que deixou a situação chegar a esse extremo? A resposta na qual não tivemos tempo para pensar a respeito será: NÓS!

Eu me divirto quando ouço:

O brasileiro é um povo mal-educado!

As pessoas estão preocupadas só com si mesmas e nem ligam para o que pode acontecer com os outros.

E, a melhor de todas:

O ser humano vive o presente sem se preocupar com o futuro!

Não é demais? Quem diz isso, pasmem, é brasileiro, logo, uma pessoa, ou seja, um ser humano! Se as sábias palavras partissem de um ET verdinho, tudo bem! Mas é engraçado como tem gente que diz “as pessoas”, colocando a si mesmo fora desse grupo! A grande verdade é que no grupo chamado genericamente de seres humanos estão incluídos todos, até mesmo, vejam que incrível, quem fala!

Portanto, a responsabilidade pelo estado terminal em que o mundo poderá se encontrar em não muito tempo é de CADA UM! Cada um dos seres humanos, cada uma das pessoas sejam elas brasileiras, australianas, americanas, africanas, européias, asiáticas e, se bobear, até mesmo marcianas! Baixou por aqui, danou-se, vai entrar na dança e ter de ajudar também! Fugir do assunto, partir para uma atitude do tipo “me inclua fora dessa” e se fingir de paisagem, não dá!

Chegará o momento em que não diremos mais “Que chuva, não?”, mas sim “Essa chuva ácida está insuportável!” Em vez de “Que calor!”, diremos “O superaquecimento hoje está demais!” Por isso substituímos o tempo-clima pelo tempo-relógio nas conversas sem assunto. É uma espécie de desculpa antecipada pela falta de consciência e engajamento e que, de quebra, evita dizer exatamente o que se pensa. O script completo é:

Corro de um lado para o outro e não tenho tempo de cuidar deste mundo. Não faço a minha parte, não consigo pensar em reciclagem, não dá tempo! E trabalho tanto, estou sempre tão cansado... Eu mereço o conforto que o meu dinheiro consegue comprar, mesmo que esse conforto signifique mais lixo, menos água, mais poluição, menos vida! Meu dinheiro comprará a água tratada, o ar filtrado, a comida industrializada e, além disso, eu pago a taxa de coleta de lixo, ora bolas!

E aí eu me permito interromper esse surto megalo-egoísta-egocêntrico para perguntar: E você já imaginou para onde vai esse lixo?

Sei lá! Isso é problema do governo (todo constituído por habitantes de Júpiter, é claro, eleito por aqueles cujos títulos eleitorais foram expedido na Lua, ou seja, os lunáticos), das empresas (cujos donos e funcionários vieram de Saturno) das ONGs (esses, então, vieram de Krypton, são todos parentes do Super-Homem e cheios de superpoderes) e não meu!

Sinto informar, cara-pálida (que logo deixará de ser pálida por conta dos raios UV), mas esse problema é seu TAMBÉM!

Qualquer atitude, por mínima que seja, ajuda. Para melhorar ou para piorar.

Somos mais de seis bilhões de humanos na face da Terra. Seis bilhões de atitudes, por mínimas que sejam, fazem uma coisa grande, não? Se seis bilhões de pessoas recusarem UMA sacola plástica por semana teremos seis bilhões de sacolas plásticas a menos no lixo.

Só que o contrário, infelizmente, também é verdadeiro. Seis bilhões de pessoas que, em nome do conforto, usem o carro para andar as longínquas três quadras até o supermercado deixarão seis bilhões de vezes mais gases tóxicos no ar.

Em pouco tempo o meu colega, ainda que ecologicamente correto por usar transporte público, não poderá nem mesmo fazer fotossíntese, o coitado!

Quando esse dia chegar, quem sabe tenhamos tempo para tentar salvar o que ainda restar. Ou, com sorte, conseguiremos encontrar a base de lançamento que nos mandará de volta ao planeta do qual viemos.

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2 comentários:

  1. Hehe, esse foi o texto que efetivamente mandaste.
    Mesmo reduzido, ficou muito bom.
    Mesmo.
    Se tudo der certo, e nenhum rebento resolver brotar "out of de blue", almoçamos quinta???
    Beijo
    Marie

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  2. Pois é, por aqui sou taxada de ET por reciclar material, lixo, participar de campnhas pro animais e crianças.... vai ver que sou mesmo!!!! beijos Juju!

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