domingo, 28 de dezembro de 2008

Sim! Descobri como voltar a ser criança!


Esta semana foi aniversário da Ana Luíza e quem ganhou o presente fui eu! Ela quis comemoração com tema de fada e eu entrei num mundo cor-de-rosa, púrpura, fúcsia e furta-cor, cheio de glitter e de coisas brilhantes. Tudo o que eu precisava neste fim de ano era passar dias de fantasia depois de meses repletos de realidade. Preparei uma decoração cheia de fadinhas, flores, luzinhas coloridas, bolhas de sabão, roupa de fada e flutuei como Sininho, que agora mudou de nome e se chama Tinkerbell...


Enquanto percorria as lojas da cidade atrás de tudo o que pudesse usar nessa decoração, escutei vezes sem conta o eterno comentário de todo dezembro: Nossa! Já é Natal de novo e eu nem vi o ano passar! Pois quero declarar aqui que vi meu ano passar. Diferente do que me acontecia nos últimos tempos quando um Natal se sucedia ao outro sem que eu percebesse, neste ano fui criança de novo. Meu Natal demorou muuuuuuito para chegar.

Sempre achei que o fato de correr de um lado para o outro era o que fazia com que o tempo passasse tão rápido para nós, adultos. Achava que a agenda vazia das crianças era a responsável por fazer o tempo delas andar lentamente, mas estava enganada! Poucas vezes na minha vida tive dias tão corridos como neste ano em que quase enlouqueci e, no entanto, 2008 passou absurdamente devagar. Voltei aos meus tempos de infância!

Para as crianças o tempo não passa devagar. O que acontece é que todos os dias elas fazem alguma coisa nova, alguma coisa que nunca fizeram. Isso torna cada dia diferente do anterior. Como os dias são todos diferentes uns dos outros, então elas os vivem conscientemente. Elas vivem os 365 dias entre um Natal e outro! Portanto, o que faz o tempo passar rápido é a mesmice. Uma sucessão de dias idênticos. É quase como se, de dezembro a dezembro, houvesse um único e longo dia. É por fazer todos os dias a mesma coisa que ao chegar ao fim de um ano achamos que o tempo passou rápido demais.

Comprovei essa teoria sendo meu próprio ratinho de laboratório. Em 2008, procurei fazer coisas diferentes, coisas que nunca tinha feito. O resultado foi ter novamente a sensação de que meu Natal demorou uma eternidade para chegar, como quando eu era aquela menina que esperava ansiosamente pela vinda do Papai Noel... E não é uma questão de dinheiro. Não só de dinheiro, pelo menos. É principalmente uma questão de vontade de viver. Viver cada momento de maneira consciente.

Nesse ano que passou eu trabalhei muito. Demais. Exageradamente! E mesmo assim, fiz com que meus dias fossem diferentes uns dos outros...

Usei cores e tipos de roupas que nunca tinha usado. Usei cores nas roupas. Usei cores na maquiagem. Usei pelo menos sete cores diferentes de esmalte que jamais tinham passado pelas pontas dos meus dedos. Transformei meus dias num imenso arco-íris. Andei descalça na grama do Parque Barigui. Sentei embaixo de uma árvore e fiquei encostada no tronco, deixando que o sol queimasse o meu rosto. Caminhei por ruas da cidade que não conhecia. Fiz caminhos diferentes para percorrer percursos iguais. Por não ter mais um carro, quase só ando de ônibus ou a pé. Seja a pé ou seja no ônibus, viajei sempre olhando para cima, observando os prédios dessa cidade onde nasci, mas que pouco conhecia. Observei a fisionomia das pessoas, bisbilhotei a conversa alheia, prestei atenção às opiniões, às conclusões, aos raciocínios. Conversei com muitos estranhos e, nem que fosse por apenas dez minutos, prestei imensa atenção às suas histórias. Descobri que as pessoas têm histórias riquíssimas de vida pra contar. Perguntei sobre seus trabalhos e percebi quantas profissões diferentes existem e quantas coisas não sei fazer. Testei receitas novas. Fiz um jantar para doze pessoas com aperitivo, entrada, prato principal, queijo, sobremesa, café, chocolates e bolachinhas. Iluminado por velas perfumadas. Experimentei frutas que nunca tinha experimentado. Fiz geléias de laranja, limão, morango, jabuticaba e figo. Comprei marmelos e fiz marmelada. Escutei músicas que nunca tinha escutado de cantores que não conhecia. Ouvi novamente CDs que há anos estavam guardados. Assisti a filmes que já tinha visto e também a outros que queria ver mas sempre adiava. Usei roupas que há décadas não usava, assim como dei outras que acreditava que um dia ainda usaria. Conheci mais de vinte cafés diferentes na cidade e, em cada um deles, tentei pedir alguma coisa que nunca antes tivesse provado. Elegi um dia da semana para almoçar com amigos e procurei encontrar pessoas que não via há muito tempo. Quando não foi possível encontrar algum amigo nesse dia reservado, almocei em grande companhia: eu mesma e meus pensamentos. Dediquei várias horas a meus pensamentos sem achar que preciso sempre estar fazendo alguma coisa para me sentir útil. Organizei um churrasco para meus companheiros do ensino médio e pudemos constatar que amizades verdadeiras não morrem com o afastamento dos corpos. Juntei os e-mails trocados com um grande amigo em um único arquivo e escrevi o livro da nossa vida. Comi queijo e bebi vinho em dia de semana sem motivo nenhum. Tomei uma garrafa de vinho sozinha (experiência a não ser repetida em 2009!). Pulei numa cama elástica. Fiz uma aula de Hip-Hop. Comecei a fazer aulas de dança. Reorganizei os livros na estante. Visitei cidades às quais nunca tinha ido. Tirei milhares de fotos. Olhei fotos antigas. Fiquei hospedada na casa de pessoas que não conhecia pessoalmente. Abracei amigas que só conhecia virtualmente. Caí de uma cadeira e morri de rir. Quebrei uma taça na casa de uma amiga, espalhei a ração dos cachorros dela pelo chão. Fui ao salão fazer maquiagem para ir a um aniversário. Arrumei o cabelo em dia que não tinha festa. Corri de salto alto pela calçada. Fiz bijuterias. Fiz meu mapa astral. Consultei um tarólogo. Tomei florais. Escutei mantras. Encarei desafios profissionais. Andei de elevador com o Governador. Conversei com um senador, com um cônsul, com dois escritores. Enviei textos para seleções, entrei em algumas, fui negada em outras. Publiquei um trabalho em uma revista de patchwork. Escrevi dezenas de cartas e centenas de e-mails falando da vida, falando de mim, falando do outro. Espalhei bloquinhos por vários lugares e anoto ali todas as idéias que me passam pela cabeça: de novos projetos de patchwork a soluções para os problemas do mundo...

Dito assim pode parecer que meu ano foi só felicidade. Nada disso! Tive acessos de cólera. Pedi perdão a muita gente, inclusive a meus filhos. Enviei flores brancas em sinal de paz. Sufoquei meu superego e me concedi o direito de não ser perfeita: deixei de entregar trabalhos, faltei aulas na universidade, cheguei atrasada. Fiz isso porque percebi que meu corpo tem um limite e que precisa descansar. Permiti que meu corpo descansasse mesmo que isso significasse deixar algo por fazer e muita coisa ficou por fazer... Fiz promessas que não cumpri. Tive momentos duríssimos. Senti raiva e deixei que ela saísse. Senti tristeza, medo, solidão, mágoa, abandono... A diferença é que não tentei fazer de conta que nada estava acontecendo. Quando a tristeza veio, abri o peito e deixei que ela me invadisse. Chorei sozinha. Chorei acompanhada. Chorei escondida e também na frente de um monte de gente. Afundei na autopiedade e me senti abjeta. Vivi intensamente cada segundo da minha amargura para vivê-la toda de uma vez. Um dia acordei e percebi que ela tinha ido embora. A felicidade é um contraste em relação à tristeza. Sem nunca estar triste, como perceber que se está feliz?

Mas o que fiz de mais importante neste ano de 2008 foi deixar a generosidade entrar na minha vida. Generosidade comigo mesma. Percebi, abismada, que durante a maior parte dos anos que vivi anteriormente, o que mais disse a mim mesma foi uma infinita sucessão de nãos. Não posso, não consigo, não mereço, não tenho o direito, não faz sentido, não é justo, não é certo... Não, não, não... Sufoquei a mim mesma e a meus desejos sob toneladas de nãos até que uma duplinha formada de preposição e pronome interrogativo veio se juntar a esse advérbio. Um simples por quê? Por que não? Foi então que um Sim ainda muito tímido, atrofiado e pálido por conta dos anos enfurnado num quartinho escuro começou a dar o ar de sua graça na minha vida.

2008 foi o ano em que o Sim! entrou no meu vocabulário. E foram vários deles que disse a mim mesma nesses meses que passaram. O maior deles há poucas semanas...



Que venha 2009! Quero preencher os seus dias com muitas outras experiências para fazer com que o próximo Natal, assim como o próximo aniversário da Ana Luíza, demore uma eternidade para chegar. Quero ter muito tempo para andar de braços dados com esse Sim que acabei de conhecer.

Não faço mais promessas de ano novo. Agora só estabeleço desejos de ano novo. As promessas sou eu quem tem de cumprir. Os desejos pertencem em parte ao destino... Então, um 2009 repleto de novas experiências e com a presença do Sim a cada dia é o que eu desejo para todos nós!

Até o ano que vem!

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6 comentários:

  1. Ju, que lindo tudo aqui.
    As fotos, a festa, o post.
    Ri e chorei, como sempre minha amiga.
    E me orgulhei muito de, ainda que de forma atabalhoada, ter feito parte de alguns momentos deste teu incrível ano.
    Ah, e deixe-me dizer-te que, cá onde estou, vejo o tempo todo, mil coisas que lembram você. Ontem tentei colocar aqui um poema que li na exposição do Van Gogh. Eu andava por lá a ler o teu post, e dei de cara com o poema. É do Saint Beuve, e ainda por cima em francês. Só não lembro do nome... (sua amiga aqui, está ficando muuuuiittooo tentada por aquele alemão). Mas ainda hei de achá-lo e te dedicá-lo.
    Grande beijo minha amiga.
    E sim, um 2009 cheio de novas e incríveis experiências para todas nós, com a presença de "SINS" os mais inusitados e orgásticos. E por que não, com duplos significados???

    Esse "trocadilho" aí de cima, foi sem querer, mas ficou bem vindo. Coisas de andar na terra do tio Sam.
    Grande beijo.
    Marie

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  2. Oi, Ju!

    Faço parte dos seus leitores "anônimos", mas esse é muito 10, não podia passar batido!
    Inspirador!
    Já indiquei p/ umas tantas amigas!

    Bjs,

    Sil

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  3. Leio seus textos quase todos os dias. Rio, choro, me emociono, me identifico...e penso q previlegio seria ser amiga da alguem tão especial. De alguem q sabe como ninguem desnudar a sua alma, lindamente,e tào delicadamente q parece brumas q vào mansamente para o ceu. Mas suas "brumas"vem mansamente e entram na alma da gente. Obrigada por iluminar o meu ultimo dia de 2008.Deus te abençoe.

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  4. Julianinha...
    Beijos em minha companheira Luiza, pelo aniversário!!!
    Como leitora tenho uma reclamação a fazer, em relação aos futuros textos de 2009, que é:

    Pra quê reprimir seu SUPEREGO? Faça isso não, deixe rolar que Euzinha adoro....Contente da vida em saber que estou num cantinho, só nosso.

    Beijos Enormes...
    Feliz 2009!!!

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  5. Ju, gostei do seu texto concreto. Vc foi recheando cada parágrafo com uma demanda tão intensa de atividades e relatos que conseguiu passar ao seu leitor como foi o seu 2008, em sensação. E como foi intenso... ufa!!! Faz algum tempo, vislumbrei uma teoria de como o tempo passa na vida da gente. Não será aqui e nem agora que vou abrir essa maluquice da minha cabeça para alguém mas vou confessar seu texto corrobora meu pensamento na essência... Gostei!!! E gostei tb da sua conclusão; e vou fazer do meu 2009 um ano de desejos e não de promessas.
    E o comentário da Marie, com os tais SINS, fecha com chave de ouro!!!
    Feliz 2009!!!

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  6. Nossa como esse texto ficou bom, e verdadeiro.....nem tinha me tocado que o tempo passava rapido por causa da mesmice, nesse novo ano vou tentar mudar isso,pois quero viver cada dia ao máximo e para que eu possa viver cada dia intensamente,afinal não podemos voltar no tempo.....obrigado pelas palavras.....Parabéns pelo blog....e feliz ano novo atrasado...bjus elis

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