domingo, 3 de janeiro de 2010

Toma que esse pescoço é teu!

Fui mordida! Agora estou irremediavelmente contaminada, passei pro lado de lá da força, me rendi. Faço parte da legião de pessoas que aguardam, pálidas e de olheiras fundas, a continuação da saga Crepúsculo.

Ohhhhhhhhhhhhh!!!

Ouço o coro decepcionado daqueles que dizem: O quê?! Você?! Professora universitária, que lê Baudelaire no original, formada em Letras, futura doutoranda em literatura?! Não é possível! Que horror!

É isso aí, minha gente. Sucumbi alegremente aos vampiros, da mesma forma que mergulhei nas profundezas de Hogwarts na epopeia de Harry Potter. Tem mais: ontem mesmo devorei avidamente cada página d'O Símbolo Perdido, do Dan Brown, sobre o qual falarei em outro post. E, já que é pra escandalizar de vez, confesso que li alguns títulos do Paulo Coelho, dezenas de volumes do Sydney Sheldon, além de, durante a adolescência, pilhas e mais pilhas daquelas historiazinhas açucaradas de bancas de revistas presentes em coleções chamadas Julia, Sabrina ou Bianca. É isso mesmo: eu, futura doutora em literatura, sou consumidora voraz de leituras chamadas comerciais. E tem mais: não me sinto nem um único milímetro diminuída muito menos envergonhada por causa disso.

Portanto, caí nas presas de Edward Cullen e estou aqui cultivando os dois exemplares intitulados Eclipse e Amanhecer, os quais serão impiedosamente sugados e não sobreviverão até o fim da semana.

Li num blog de um jornalista o seguinte a respeito de outro representante desse tipo de literatura, o já citado Dan Brown:
Não li O Código da Vinci, de Dan Brown. (E ainda que tivesse lido não admitiria. Mas de fato não li.)
Aí está! Se isso não fosse absolutamente irrelevante para a minha vida, já que desconheço completamente o tal jornalista, até chegaria a arriscar uma aposta: a de que ele leu, sim. Leu escondidinho no banheiro, embaixo das cobertas, envergonhado por estar deixando de lado Sêneca, Montaigne, Henry Miller ou Graham Greene (citados por ele no post) para se entregar ao prazer puro e simples da diversão inconsequente. Sem objetivos nobres. Ler pra desopilar a mente. E só.

O argumento do jornalista é o de que a leitura desses livros comerciais ocuparia o tempo que ele poderia dedicar aos clássicos, o que é absolutamente verdadeiro. Ninguém mais do que eu concorda fervorosamente com isso. E eu não veria problema algum na recusa em ler algo de que ele simplesmente não gostasse, o que até pode ser o caso dessa pessoa, mas quando ouço esse e outros críticos semelhantes, fico com a impressão de que eles não leem, ou não assumem que leem, só pra não se misturarem à massa. Para não conspurcarem o altar sacrossanto dos textos literários de alto valor maculando-os com esse lixo comercial menor. Erudição pura que eu prefiro chamar de preconceito puro.

Admito e confesso que minhas estantes acomodam lado a lado e em total harmonia Flaubert, Balzac, Le Clézio, Ernest Hemingway, Umberto Ecco (o ensaísta mais do que o romancista), Gabriel García Márquez, Eça de Queiroz, Saramago e Ovídio, mas também Aldous Huxley, Stephenie Meyer, J K Rowling, Marc Lévy e Nicole de Buron. E me absterei de fazer classificação semelhante entre os brasileiros para não entrar em disputas inúteis sobre quem deveria estar de qual lado. Só digo que o amor por um dos meus ídolos máximos, o incontestável Machado de Assis, cujos contos estão entre as maravilhas da literatura, jamais me impediu de ler aquilo que me desse prazer.

Literatura é um bem de consumo, como comida, por exemplo. Adoro cozinhar e amo um bom restaurante, mas tenho espaço pra MacDonalds também.

Uma vez meu amigo Fábio me pediu pra dar opinião sobre um livro, acho que era o primeiro da Clarah Averbuck. Não lembro mais nada do livro, só lembro que o classifiquei como literatura algodão doce: a gente coloca um pedação na boca, ele se dissolve instantaneamente, não sobra nada mais do que um gostinho bom e fim. Não alimenta, não sacia, mas é gostosinho. Muito diferente de um finíssimo pão de ló, de um divino macaron ou de uma angelical madeleine, a propósito, imortalizada por Proust. Mas, assim como não dá pra viver só de algodão doce, também não dá pra viver só de pão de ló. A sabedoria está na diversidade, na variedade do cardápio. Da mesma forma como acontece na vida, tenho pena dos diabéticos ou dos que vivem de dieta, necessária ou forçada, que não podem se dar ao prazer de um doce inconsequente de vez em quando. Sem pretensão alguma. Um dia, aliás, falarei sobre o que penso desse mundo funcional em que vivemos.

O que acontece com livros, acontece igualmente com música, cinema, teatro e todas as outras artes. A partir do momento em que alguma coisa faz muito sucesso, lá vem o grupinho de críticos torcer o nariz, fazer cara de nojo e revirar os olhos de pura náusea numa atitude mais do que pedante.

Como disse, condordo plenamente com o fato e compreendo quem diz: li e não gostei, ou nem li porque o tema não me atrai. Eu já não gostei de best-sellers planetários. Aconteceu recentemente com Melancia, da Marian Keyes e também com Tolkien e a trilogia O Senhor dos aneis. Fiz algumas tentativas de leitura, mas não rolou. Isso não muda o fato de que há milhões de pessoas no mundo que leram e gostaram desses livros. Viveram momentos de prazer descarado.

Não tenho preconceitos. O jornalista tem razão, tempo é precioso e não dá pra desperdiçar lendo o que não nos agrada. Se começo um livro e ele não me encanta, abandono sem remorsos. Por mais clássico que seja, não perco meu precioso tempo. Deve ser coisa da minha alma vampira, insensível. Às vezes era só questão de momento errado e, numa segunda chance, passo a devorar o que antes me foi intragável. Foi assim com Madame Bovary e também com Cem anos de solidão. Com outros o abandono foi definitivo. Aconteceu com Ulisses, de Joyce. Esse não me pega mais e eu aprendi a ler aos quatro anos de idade, requisito citado pelo jornalista do blog para chegar a compreender Joyce. Simplesmente não gostei. E pronto.

O que mais me encanta na minha maneira de ser é a minha mais completa e irrestrita LIBERDADE: recuso Joyce e me entrego a Meyer sem medo de ser feliz!

Podem se armar de água benta e dentes de alho contra mim, eu não me importo! Minha alma de leitora é imortal...

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Pra quem ficou curioso com o tal post, aqui vai o link.

14 comentários:

  1. Falou e disse..."Viver e nao ter a vergonha de ser feliz"...Adorei!!!Bjs.

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  2. Para quem conhece teologia (sou uma estudante curiosa desde os 15 anos) sabe que Dan Brown fala muita verdade....
    Que bom que está de volta as letras, adorei! beijos!

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  3. Estou com Crepúsculo na mesa de cabeceira, por insistência de meu enteado que também já sucumbiu à saga... mas ainda não o abri. Vou também arriscar, sem medo... beijo querida.

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  4. Hahaha.... adorei.
    Né por nada não que cê é uma de minhas ídalas.
    Concordo plenamente.
    Ainda não li nenhum da saga, mas vivo namorando a idéia.
    Em compensação ainda não li nem Ulisses nem a Recherche...
    Acho mesmo que tem tempo certo. Talvez me falte maturidade ou mesmo inteligência.
    No momento estou me divertindo com Julie e Julia. Digam o que disserem ninguém pode dizer que não é uma leitura apetitosa.
    E divertida.
    Meu tempo precisa ser bem aproveitado.
    Beijo Krida e Super Feliz 2010.
    Marie

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  5. Muito bom ambos os posts.
    Essa passagem é foda: "Não li O Código da Vinci, de Dan Brown. (E ainda que tivesse lido não admitiria. Mas de fato não li.)"
    Mas pode deixar, já comprei alho hehe.
    Ótimo ano pra nós.

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  6. Adorei!

    Sabe que é assim mesmo? Muita gente gosta de posar de intelectual e não admite "prazeres proibidos", como livros e músicas mais populares ou "da moda". Isso é puro preconceito e você tem razão, o gostoso é a variedade. Já aprendi muita coisa em romances "algodão doce", assim como em livros mais "substanciais". E sobrevivi ao Ulisses, apesar de não achar que era tudo isso não.

    Há momentos em que queremos saborear um bom livro, pensar a respeito, ir fundo no conhecimento, e outros em que só queremos uma boa diversão. E que mal há nisso?

    Ah, e já dei minhas mordidinhas, li Crepúsculo e estou começando Lua Nova. Não são os melhores livros que já li, mas são bem gostosos de ler. ;-)

    Grande beijo!

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  7. Tava c saudades de vc!!!! Se não encontro a Ju real, pelo menos a virtual!!
    Vc sabe q compartilho da mesmma opinião. O Saramago e a Stephanie Meyer conviveram em perfeita harmonia no meu criado mudo durante meses nesse ano que passou. E acho q estou certíssima em utilizar o meu tempo de leitura c o q me dá prazer, onde inlcuo o Saramago e o meu amado Gabo (sou íntima dele, so sorry!).
    Já Joyce tá amarelando na minha estante... Aprendi a ler aos 4, tentei Joyce aos 20, aos 30 e agora só vou tentar de novo aos 40! Quem sabe?
    Saudades imensas e doloridas!!!

    Carol Amenidades

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  8. Andrea

    Eu também gostei das ideias do livro nessa área. Mas vou falar do Dan Brown loguinho em outro post. Aproveito as férias pra tagarelar por aqui, enquanto não tagarelo nas salas de aula :-)

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  9. Patrícia

    Arrisque! Acho que você não vai se arrepender! :-)
    De minha parte, Eclipse já foi. Agora, que venha o Amanhecer...

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  10. Marie

    Julie e Julia foi livro de bicicleta no ano que passou!
    Quanto à Busca do tempo perdido... Vivo tentando encontrar o MEU! O Proust que me perdoe mas por enquanto não vou atrás do que ele perdeu e levou sete volumes pra contar! :-D

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  11. Tiago

    Você está protegido, já que nosso contato é só virtual.
    Por enquanto... hehehehe

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  12. Cristine

    Você sobreviveu ao Joyce? Me dê um autógrafo! Eu só consegui duas páginas! Acho que não tenho neurônios em quantidade suficiente já que tem tanta gente que acha o máximo.

    Mas tenho uma outra teoria... Ninguém consegue entender e, pra não passar por pouco inteligente, fica babando elogios. Será?

    :-)

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  13. Carol!!!

    Não passemos saudades! Semana que vem tô de volta à Curitiba e combinamos alguma coisa!

    Quanto aos vampiros, foi você mesma quem me apresentou a eles, lembra? Portanto, sinta-se responsável por ter me "transformado" hehehehe

    Te ligo!
    Saudades também!

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