sábado, 26 de janeiro de 2008

O passado a nós pertence... e o futuro também!

Ontem eu fui a uma festa de família dessas que a gente não esquece. Bodas de Ouro dos meus tios, muito queridos, Luiz e Zica. Eu sei que eles são leitores fiéis das coisinhas que eu publico neste blog (e isso desde o outro!). Sei que tudo é impresso, acompanhado e comentado. Por isso fiz questão de escrever hoje especialmente pra eles.

A reunião de ontem foi uma volta ao passado e também um vislumbre do futuro!

Incrível perceber o quanto minha vida está misturada à da família que esses tios criaram. Nessa árvore genealógica, nossos galhos estão completamente misturados. Não dá pra separar. Durante as horas em que estivemos juntos, quanta coisa passou pela minha cabeça...

Lembrei da primeira vez em que me aventurei completamente sozinha pelas ruas de uma cidade lá pelos 8 anos de idade. Fui da casa da minha avó até a casa da Tia Zica. Tal como Indiana Jones, enfrentei bravamente as ruas e a distância a serem vencidas. Imagino que deviam ser de 6 a 8 quadras, em Jandaia do Sul, cidade do interior do Paraná que tem, hoje, em torno de vinte mil habitantes. Quantos seriam nos anos 70? Pra mim parecia uma megalópole cheia de desafios! Mas fui. Corajosa. Intrépida. Tinha um objetivo muito claro e urgente em mente. Encarei ruas, carros e distância naquele calor sufocante do norte do Paraná só para chegar lá e dizer: “Tia Zica, tem doce de abóbora com leite?”

Em Jandaia do Sul fazia calor, era sufocante e, justamente por isso, minhas primas, Lígia, Mac, Sílvia e eu passamos tardes maravilhosas “lavando” a calçadinha da frente da casa delas. Jogávamos água, sabão e, com um impulso de pernas, escorregávamos dos degraus da entrada até o portão da calçada. O pano de chão era feito de nossas camisetas e shorts que acabavam da mesma cor da terra vermelha que ainda hoje impregna a cidade. “Lavar” aquela calçadinha era minha principal diversão e eu duvido que tivesse calçada mais limpa em Jandaia naquela época.

Por isso serei eternamente grata ao sempre prestativo e alegre Tio Luiz. Até hoje ele tem solução pra tudo e foi por essa época das limpezas das calçadas que comecei a perceber essa sua habilidade. Para meu mais profundo desespero, uma vez surgiu um machucado no meu joelho esquerdo que me impossibilitava completamente de participar daquela operação. O horror, o horror! Ficar sentada de fora, só olhando? Quem é que pagaria as sessões no psicólogo depois pra curar esse trauma? O machucado, na verdade, era um bichinho qualquer que tinha entrado na pele e infeccionado, não quero nem pensar nos detalhes sórdidos. O que devia ser feito era tirar tudo aquilo de lá. Mas quem disse que eu deixava qualquer pessoa chegar perto? Foi aí que o Tio Luiz veio olhar. Só olhar e... PLUFT! Deu um apertão cirúrgico no meu joelho e em exatos dois segundos tinha saído bicho com tudo o mais. No dia seguinte estava tudo sequinho e eu podia, enfim, deixar brilhando a calçadinha!

Aquela casa de Jandaia do Sul está gravada a fogo na minha memória por muitos outros motivos. Tinha o pianinho branco, lindo, maravilhoso! Com certeza foi ele o responsável por eu ter estudado piano depois. Tinha ainda a coleção de chaveiros das meninas. Entre os itens da tal coleção, um misteriosíssimo chaveiro com um grão de milho dentro. Ficava horas olhando aquele objeto, fascinada, tentando imaginar como aquele grão de milho tinha ido parar lá! Foi também naquela casa que eu provei pela primeira vez uma das maravilhas da culinária dos aniversários brasileiros, o olho-de-sogra! Festa inesquecível, regada a ponche (outra novidade) e embalada pelas músicas da novela Estúpido Cupido.

Depois a família veio pra Curitiba e nossa convivência só aumentou.

Logo de início a Tia Zica me deu um dos maiores tesouros que eu possuí na minha infância: uma caixa de sapatos cheia de retalhos de tecido! Minha boneca Susi ganhou coleções de deixar São Paulo Fashion Week no chinelo, tantos foram os guarda-roupas completos que eu fiz com aqueles retalhos. Ali começou o meu amor profundo e fulminante pelas agulhas e linhas, com certeza!

A vinda das minhas primas pra Curitiba fez com que ficássemos ainda mais próximas. Já não lavávamos mais calçadas, mas fazíamos coisas ainda mais interessantes...

Sílvia, pouca coisa mais velha do que eu, foi companheira de infância e de adolescência. Começamos tendo idéias geniais, tipo fazer pensar que o pinheiro do jardim da minha casa tinha florescido miraculosamente. Arrancamos todas as flores de uma árvore e colocamos no pinheiro. Não sei porque os adultos não acharam muito engraçada a piadinha. Adulto é mesmo muito sem imaginação! Obviamente não agradamos, então abandonamos nossa carreira botânica e entramos na adolescência com incontáveis visitas à feira hippie do sábado de manhã na Praça Rui Barbosa e muitas tardes ao lado da pista de skate na pracinha da sorveteria Gaúcho. No início da juventude criamos uma tradição etílica que durou alguns anos: Sílvia, Denise e eu nos reuniríamos uma vez por ano, geralmente em janeiro, para, como dizer, enfiar o pé na jaca, chamar urubu de ‘meu louro’, entornar o caldo, em resumo, encher a cara!

Agora somos todas respeitadíssimas e seriíssimas mães de família, que nossos filhos não leiam esse post! Mas às vezes, só às vezes, fico me perguntando se devíamos ter interrompido a tradição do Porre das Primas... Quem sabe? Claro que não voltaremos às garrafas de Velho Barreiro, mas um vinho tinto... hummmm Vamos pensar nisso seriamente!

A Mac foi outra responsável pelo meu amor às linhas e agulhas. Eu ficava admirando as coisas maravilhosas que ela bordava e tecia, então pedi umas aulas e foi ela quem me iniciou nas artes do crochê. Não me esqueço de um vestido com rosas vermelhas e saia xadrez cuja parte de cima, a das rosas, foi ela quem ela fez pra mim. Hoje é a dentista de toda a família e eu continuo achando bom quando a gente se encontra, o que só prova a sua competência! Quem é que tem vontade de se encontrar com seu dentista sem ter fantasias assassinas?

Lígia, a mais velha, minha primeira professora de piano! Nem depois que eu mudei de professora nos afastamos. Quando ela foi fazer uma compra de supermercado logo depois de casada, me levou junto e explicou como escolher palmitos de uma forma que nunca mais esqueci. Eu devia observar os palmitos dentro dos vidros e escolher de acordo com a regra que ela recitou em alto e bom som no mercado: “Se estiver pra cima é porque está duro, se estiver pra baixo é porque está mole”. Mesmo com apenas 13 anos na época eu entendi muito bem o olhar escandalizado de uma velhinha que estava do nosso lado. Morremos de rir, mas o fato é que nunca mais errei na hora de comprar um palmito na vida! O tempo passou e a Lígia e o Paulo são hoje nossos grandes e constantes amigos, padrinhos de casamento, companheiros de viagem, de carteado e de vida! Sempre!

Todo esse filme, com muito mais detalhes do que eu posso escrever por aqui, passou pela minha cabeça na noite de ontem ao lado dessas e outras pessoas da família. Há quanto tempo não reuníamos tanta gente pra passar momentos de pura alegria? Gente que eu não via há anos, que a correria ou os caprichos da vida tinham afastado e que estavam lá, comemorando os 50 anos de vida em comum desse casal que soube criar em torno de si tanta harmonia, tanto amor. E fez isso tão bem que as filhas trouxeram para nossa convivência pessoas igualmente legais, o que só poderia dar nos netos gente boa que aí estão.

Por isso eu disse no início que a festa de ontem foi um mergulho no passado e, ao mesmo tempo, um vislumbre do futuro. Fiquei olhando aqueles jovens, adolescentes, crianças e bebês todos correndo, dançando e brincando exatamente como nós, os primos, fizemos nas Bodas de Ouro da minha avó há pouco mais de 25 anos. Naquela ocasião éramos nós o futuro. Hoje somos os pais e as mães que estão criando a nova geração que organizará nossas Bodas de Ouro daqui a alguns anos. O que me deixou mais feliz foi perceber que, por mais que a vida nos leve pra lá e pra cá, nos afaste algumas vezes, nos aproxime outras tantas, por mais que as piadinhas maldosas digam que parente a gente não escolhe e que o melhor lugar para eles é nos álbuns de fotografia, no final das contas temos de nos render totalmente às evidências de que não tem nada mais sólido, maior ou mais importante do que estar com a família!

O que somos hoje é resultado do que foi construído por essa família. Família é porto seguro. Tudo o que eu quero é estar à altura da responsabilidade que temos hoje. Quero que a gente consiga criar para os nossos filhos a mesma estrutura, as mesmas memórias, os mesmos momentos felizes que nossos pais e tios criaram pra nós. Será que conseguiremos?

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3 comentários:

  1. Ô garota....
    Agora você encantou e emocionou...
    Lindo isso.

    Quase não gosto de pegar as coisas fresquinhas, saídas do forno por assim dizer.Esta tem gostinho de fogão a lenha, de casa de vó, de quintal de areia e árvores frutíferas....
    Que lindos frutos.
    Brigadinha por mais esta.
    Beijo enorme e bom final de semana.

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  2. LINDOOO!!!
    muito lindo! me deixou nostálgica!
    obrigada, JuJu, por compartilhar mais isto, e por me fazer parar um pouco e relembrar coisas boas.....

    bjks, da harumi

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  3. Ju, já virei uma leitora assídua. Quando vem próximo capítulo?
    Esse me deixou com saudades do meu passado, me fez relembrar coisas lindas que não voltam jamais. Um abraço!!!!

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