sexta-feira, 13 de março de 2009

Salta uma carninha cozida e bem temperada

Imagine uma mulher chique. Muito chique. Tipo assim, uma mistura de Jackeline Kennedy, Catherine Deneuve, Princesa Diana e Glorinha Kalil. Agora pegue esta imagem de um ser humano extremamente chique e coloque-a para andar de ônibus ou de carro num trânsito engarrafado sob um calor de 35 graus. Depois de quarenta minutos nesse cenário ela ainda continuará chique? De jeito nenhum! O verão e o calor escaldante simplesmente acabam com a dignidade fashion de qualquer um! Pior, de qualquer uma!!! É por isso que quando olho para fora e vejo que o asfalto tremula sob um sol ofuscante, mesmo que ainda sejam apenas oito horas da manhã, sei que o dia que me aguarda será de extremo mau humor.

É claro que um calorzinho é bom. É ótimo. Maravilhoso! Quando se pode estar de chinelinho de dedo, sob uma palhoça à beira-mar, com um estoque infinito de água de coco gelada ao lado. Mas isso praticamente só acontece em filmes que ando classificando como histórias de ficção terrestre, porque a realidade dos últimos três verões que vivi foi de clima outonal de novembro a fevereiro, que é para não deixar margem de escape, seguido de dias caniculares em março, abril e maio.

Como sou professora e tenho o imenso privilégio de tirar férias junto com as escolas, ganhei com isso o direito de só pagar, em qualquer coisa que se refira a viagens, valores astronômicos, mesmo que tais viagens não sejam nem astrais, nem para uma galáxia distante. Isso, é claro, sem a menor chance de usar as milhas do programa de fidelidade da companhia aérea. De uns anos para cá, para compensar essa mordomia toda, tenho também o benefício de passar frio no verão para depois cozinhar lenta e penosamente quando volto a trabalhar!

Embora eu adore minha cidade, tenho de reconhecer que Curitiba não é um lugar para passar o verão. A umidade do ar envolve e sufoca a gente como se estivéssemos enrolados num edredon de penas, e vento, que é bom, quase nunca passa por aqui, o que significa que estamos sujeitos a viver uma cena de romance a cada vez que botamos o nariz para fora de casa. Tal qual o carinha do mal do filme Matrix, que morria aqui para reaparecer ali em outra pessoa, cada ser humano que caminha pelas ruas nessa caldeira em que vivemos ultimamente pode, de um momento a outro, encarnar o personagem Meursault, do livro O Estrangeiro, de Albert Camus, que cometeu um assassinato como consequência da confusão mental causada pelo calor extremo. Em outras palavras, despirocou, viajou na maionese, pirou na batatinha!

O calor não é civilizador! Entro embaixo do chuveiro porque estou me sentindo imunda de tanto transpirar. Também, quem manda fazer exercícios pesados, andando dez minutos pela casa recolhendo os brinquedos que as crianças deixaram jogados? Ainda mais num horário de calor abrasador como acontece às 8h30 da manhã... Quinze minutos de atividade e já estou melada, pegajosa, grudenta e preciso de um banho, o primeiro do dia. Largo num canto qualquer o peso na consciência por estar gastando tanta água, ou levo o maldito comigo para baixo do chuveiro, afinal, está tão asqueroso quanto eu. Saio do banho, me enxugo e começo a verter água por todos os poros imediatamente. Secar o cabelo é inútil. Deixar molhado me deixa ignóbil. Passar maquiagem? Perda de tempo! A cara está lavada e lavada ficará, primeiro de água, depois de suor. Quase explodi de rir quando li em alguma revista feminina o seguinte conselho: leve um pó compacto na bolsa para evitar que a maquiagem escorra com o suor provocado pelo calor. Fiquei imaginando a aparência de tal criatura no fim de um dia de verão como os das últimas semanas: faria o papel d’A Coisa sem qualquer truque ou efeito especial!

Verão não rima com elegância e fim de papo! A gente toma água sem parar, água esta que virará suor ou xixi em abundância, e então se abana, se assopra, resfolega, derrete, desmaia por causa da pressão baixa, à noite não consegue dormir, de dia não consegue respirar!

Estou preparando para mim mesma uma coroa de louros. Mas não é por nenhum feito nobre, não. É para fazer par com o colar de salsinha, as pulseiras de orégano e os brincos de pimenta que pretendo usar enquanto durar esse inferno! Passei os últimos dias alternando as seguintes sensações: ou me sentia cozinhando, ou fritando ou assando. Com a crosta de sal que tenho sobre meu corpo depois de menos de duas horas de um dia de verão, quero ver se com esse tempero todo eu consigo chegar ao fim do dia, se não elegante, pelo menos, gostosa!


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4 comentários:

  1. Detesto verão!!!
    A vida inteira tive problemas com maquiagem pois transpiro muito no rosto, me sentia a própria Coisa encarnada, hahahaha!!!! A imagem é perfeita!
    Como estou longe desse inferno, achei tudo muito divertido! Mas sei que a minha hora vai chegar, e posso te dizer que andar de RER ou de metro por aqui, num dia de verão.....vc pode imaginar né?
    Bisou,
    Hiro

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  2. É essa mania européia que pegou no Brasil há algum tempo. Andássemos pelados por aí, despreocupados com os penduricalhos à mostra, seríamos bem mais felizes e, mesmo sem dar bola ao que dita a tendência, bem mais frescos. E pior ainda são as boas maneiras que os europeus introduziram por aqui. Essa coisa de beijar rosto grudento....argh!

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  3. A-D-0-R-E-I... hahaha, já que não dá para estar elegando, pelo menos gostosa foi ótimo! morri de rir...

    agora joga todo esse calor ai de curitiba para os 45 graus NA SOMBRA da urbanistica são paulo... suar é pouco quando na verdade parece que eu corri 42km durante 10 min dentro do carro, no transito infernal....

    é... só rindo mesmo dessa catastrofe toda! e que chegue logo o inferno, para reclamarmos dele também!

    vou voltar sempre! adorei!

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  4. Hehe, você fica de mau humor escreve uma crônica e melhora o nosso.
    Tudo bem que já se passaram séculos desde que este texto foi escrito.
    E hoje, sábado de Aleluia, feriado, o sol brilha mas persiste uma fresca. Então, nenhum mau humor.
    Viva o feriado.
    Beijo Ju.
    Marie

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